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Esse longo texto é um convite à reflexão. Peço que os leitores mergulhem nele desarmados. Sei que muitas vezes pareço radical, mais no tom do que no conteúdo, e isso pode criar resistência em algumas pessoas. Mas entendam: quando se é uma voz isolada em meio a um uníssono “progressista”, gritar pode ser a única forma de atrair a atenção e apresentar um contraponto. Os liberais e conservadores contam com poucos representantes na imprensa, dominada pela esquerda.

O tema abordado aqui será de valores e comportamentos da sociedade moderna. Alguns acham que eu deveria me ater ao assunto econômico, mas discordo totalmente. A economia livre não se sustenta em um vácuo de valores. Sem pilares morais, parece inócuo discutir 2% para lá ou para cá de inflação ou algo do tipo. O buraco é bem mais embaixo, e a sobrevivência do liberalismo depende de bem mais que isso.

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A tese que quero propor é a de que o pêndulo exagerou para o lado de lá. O que quero dizer com isso? Boas ideias podem passar do ponto com o tempo. Movimentos que nascem com legitimidade podem ser capturados por um radicalismo que se volta contra seus próprios beneficiários iniciais. Acredito que isso ocorreu em diversas áreas, e pretendo, resumidamente, ilustrar com alguns exemplos abaixo.

Vejamos o próprio welfare state, para começar com tema mais diretamente ligado à economia. Uma rede de proteção básica para aqueles que ficaram para trás em ambiente de liberdade pode realmente fazer sentido. Até que o indivíduo possa se reerguer, adaptar-se, voltar a se especializar em nova tarefa e se tornar mais produtivo, não parece absurdo um estado descentralizado fornecer o básico para sua sobrevivência digna.

Agora vamos comparar esse conceito acima com o que vemos nos modelos de social-democracia modernos. O estado, cada vez mais obeso, paternalista e intervencionista, propõe-se a cuidar do berço ao túmulo de cada um, “garantindo” uma “vida digna” a todos, independentemente dos esforços pessoais e do mérito. Isso parece justo? Como fica a questão da responsabilidade individual? O pêndulo não exagerou?

Analisemos, agora, os movimentos de minorias. Quem poderia ser contra uma união de negros em prol de direitos civis, em tempos em que ainda havia escravidão? Como condenar grupos organizados lutando por seus direitos quando o racismo ainda era institucionalizado, segregando legalmente os cidadãos? Quem ousaria criticar as bandeiras de Martin Luther King Jr.?

Agora vamos comparar isso com os movimentos raciais modernos, clamando cada vez por mais privilégios, por cotas para todo lado, segregando a população miscigenada justamente com base no conceito de raça, ou seja, fomentando o racismo que visa a combater. Não está claro que o pêndulo exagerou para o outro lado?

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O mesmo vale para o feminismo ou o movimento gay. Em épocas extremamente machistas e patriarcais, em que os homens gozavam de privilégios absurdos e as mulheres tinham de se submeter sem muitas escolhas, como condenar as feministas que desbravaram territórios e lutaram por igualdade de direitos?

Quando ser homossexual era crime, quando a homofobia era aplaudida e o gay espancado ou humilhado só por ser gay, como desvalorizar a luta daqueles que pediam o direito de existir e buscar a própria felicidade com sua preferência sexual distinta?

Agora vamos comparar isso com os movimentos feminista e LGBT modernos, coletivistas ao extremo, intolerantes com qualquer um que pense uma vírgula fora do manual politicamente correto deles. Vamos analisar as paradas gays e julgar, sinceramente, se beneficiam os indivíduos gays ou se apenas disseminam hedonismo e promiscuidade, inclusive com verbas públicas. O pêndulo não exagerou?

Estado e Igreja eram praticamente uma só coisa. A religião oficial mandava e desmandava, o “herege” não tinha uma vida nada fácil. No limite, tivemos até a Inquisição e um índice de livros proibidos. Nada mais legítimo do que o iluminismo, as bandeiras racionalistas e laicas de pensadores como Voltaire e Hume. Por que os agnósticos, ateus e crentes de outras seitas não podem conviver em paz?

Agora vamos comparar isso com o ateísmo militante moderno, que parece confundir estado laico com antirreligioso, saindo da posição de perseguido para perseguidor, extremamente intolerante para com tudo que remeta ao cristianismo, ignorando inclusive que ele é parte inseparável de nossas tradições e cultura. O pêndulo não exagerou aqui também?

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Por fim, e para não deixar de lado o próprio liberalismo que defendo, como repudiar individualistas radicais como Ayn Rand quando lembramos como o coletivismo asfixiava (ou asfixia) as liberdades individuais? O “egoísmo racional” não é um poderoso conceito para combater aqueles que encaram o indivíduo de carne e osso como simples meio sacrificável para fins coletivos abstratos, tais como nação, raça ou classe?

Agora vamos comparar isso com o super-individualismo materialista moderno, que parece confundir o foco no indivíduo com uma espécie de sociopatia, em que o entorno não importa, os outros não importam, vale tudo e qualquer tipo de sacrifício pessoal em prol dos demais é visto como escravidão. Isso não ajudou a parir um excessivo hedonismo, que jogou para escanteio qualquer senso de cidadania, de dever cívico do indivíduo?

Os parques de diversão costumam ter aquele brinquedo chamado Viking, um barco que fica oscilando de forma pendular. Há um determinado instante em que ele para bem na linha perpendicular. Nesse momento, o atrator gravitacional não tem mais força para trazê-lo de volta para o mesmo lado de que partiu. Ele passou desse ponto, e desce pelo outro lado. Eis a metáfora que uso para resumir meu pensamento exposto acima.

Existe uma crença ingênua na evolução contínua da moral. Isso pode ser verdade para tecnologia, mas não é para comportamentos. A tendência pode ser a evolução, mas nem sempre é o que obtemos. Basta lembrar que Atenas era, antes de Cristo, mais evoluída do ponto de vista moral do que a União Soviética ou a Alemanha nazista, em pleno século XX!

A chama da civilização precisa ser mantida acesa. Isso não vem sem custo ou esforço. O grande equívoco de muita gente é assumir a civilização como algo garantido, permanente. Não. O risco de um “apagão civilizacional” existe, é permanente. As novas gerações precisam aprender com as antigas certos valores básicos, sem os quais os pilares que sustentam nossas liberdades desmoronam.

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Estou convicto de que muitos desses pilares já estão ruindo. Algumas instituições importantes estão sob ataque. Valores morais fundamentais estão deturpados, invertidos. O pêndulo exagerou para o lado de lá. Está na hora de resgatar certo equilíbrio, lutar para que ele não se perca de vez de seu atrator gravitacional: o desejo de manter viva nossa civilização.

Rodrigo Constantino