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Para Delfim Netto, tudo vai bem e o mercado exagera no pessimismo. Para mercado, Delfim sempre exagerou no otimismo…
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Em sua coluna no Valor hoje, Delfim Netto retrata um cenário econômico bom, e diz que há ruído demais prejudicando as expectativas. Ele diz:

Em condições normais de pressão e temperatura isso deveria gerar uma expectativa auspiciosa: o PIB poderia crescer, em 2013, entre 3,5% e 4%, o que ajudaria a estimular os investimentos privados. Não é esse, entretanto, o “sentimento geral”. Há um exagerado pessimismo, que não é justificado pelas incertezas que cercam a economia mundial em geral e a brasileira em particular. Há um fator adicional significativo. Ele não é o “ativismo” do governo, mas a forma de sua implementação. Os objetivos de longo prazo das medidas propostas são corretos. A execução, entretanto, foi sempre acompanhada de imenso ruído e, frequentemente, por resultados que deixam muito a desejar.

O crescimento do PIB esse ano, sem malabarismos estatísticos, não deve chegar nem a 2%. A taxa anual desde que a presidente Dilma assumiu o governo é ainda menor. Trata-se de um resultado medíocre, sem falar que a inflação continua próxima do elevado patamar de 6% ao ano. É praticamente um quadro de estagflação: estagnação econômica com inflação resiliente.

Mas o ex-ministro pensa que vai tudo muito bem, e que o “sentimento geral” é infundado. Segundo ele, as medidas propostas pelo governo Dilma são corretas, e apenas a execução tem se mostrado complicada, gerando ruído.

Só tem um detalhe: isso não é verdade. Os objetivos do governo são totalmente inadequados. A mentalidade vigente ainda é excessivamente intervencionista e de profunda desconfiança em relação ao mercado. Delfim, todavia, acredita ser essa uma interpretação errada dos investidores:

Talvez seja a falta de percepção de que o governo move-se na direção correta o que alimenta a desconfiança de parte do setor privado, que continua a prever um afundamento da atividade econômica no segundo semestre. De fato, o indicador antecedente do comportamento da economia brasileira da Fundação Getúlio Vargas vem recuando desde abril e registrou em julho uma queda importante de 1,8% com relação a junho.

[…]

A última oportunidade para inverter tal expectativa é um robusto sucesso na cooptação dos investimentos privados nos próximos leilões de estradas, aeroportos e energia, cuja probabilidade aumentou pela mudança de atitude do governo.

Como os investidores virão em peso se o governo mesmo produz tanta insegurança, tanta incerteza? Ele quer controlar o retorno, quer se meter nas tarifas, congela preços, não reduz seus gastos, não consegue aprovar uma única reforma importante. Como essa confiança pode retornar se o governo não mudou de fato? Isso, Delfim não explica.

No mesmo jornal, há outra matéria mostrando justamente essa demanda não atendida por parte dos empresários. Eis um trecho:

Em busca de um ambiente menos regulado e mais “claro” para os negócios, empresários presentes ontem à premiação do anuário “Valor 1000” apontaram a volatilidade da taxa de câmbio como uma preocupação de curto prazo, enquanto a necessidade de uma infraestrutura mais eficiente foi defendida por todos os setores.

“De maneira geral, o que impede uma maior velocidade na aprovação e implementação de investimentos são as incertezas de toda sorte. Para eliminar esse efeito, é preciso que exista maior clareza e segurança jurídica”, afirma Tadeu Carneiro, presidente da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). No momento em que o setor mineral brasileiro passa por importantes mudanças, com o novo marco regulatório, ao mesmo tempo em que o cenário econômico segue incerto, as empresas devem focar a busca da eficiência, diz o executivo.

Em suma, o governo pode falar o que quiser, mas enquanto não fizer realmente algo que demonstre, sem sombra de dúvidas, que reconheceu seus erros passados, os investidores ficarão receosos de investir, com toda razão. Não é uma simples questão de imagem.

Não adianta: Delfim Netto pode escrever cem artigos elogiando o governo e culpando o “ruído” de comunicação pelos problemas, mas os investidores sabem melhor qual é a real situação. Afinal, o otimismo do próprio Delfim sempre foi extremamente exagerado. O mercado sabe disso.

PS: Imagino que o lançamento do acervo digital do GLOBO tenha gerado calafrios em certos economistas. São tantas afirmações categóricas e previsões erradas, todas documentadas e agora de fácil acesso, que a credibilidade de alguns será derrubada num piscar de olhos.

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