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Nota do autor: a entrevista abaixo foi realizada após a administração do “gás da verdade” no ministro.

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RC: Ministro Guido Mantega, obrigado por “aceitar” essa entrevista hipotética. Sei o quanto deve ser duro para o senhor ter de enfrentar alguém que lhe faça perguntas incômodas, sem levantar bola para suas fugas habituais. Sem mais delongas, vamos em frente que tempo é dinheiro. O que aconteceu com esse PIB? Estamos em recessão! Mas a Copa não seria boa para o país?

GM: Olha, meu jovem, a Copa seria ótima para a economia. Ao menos era isso que dizíamos antes. Mas sabe como é, o resultado foi ruim, muito aquém do que gostaríamos, os turistas que vieram em grande parte eram molambos (posso usar essa palavra?), tivemos muitos dias enforcados…

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RC: Pois é. Aproveitando a deixa, isso não é prova do fracasso da gestão e de nossa infraestrutura, que teve sete longos anos para ser resolvida?

GM: Talvez, talvez. Mas isso não importa mais. O fato é que a Copa, que achávamos que ajudaria, atrapalhou.

RC: Mas isso não explica nem de perto a situação econômica em estado grave. O declínio vem de longa data, a indústria está em frangalhos. O que se passa?

GM: Veja, há a questão da crise externa…

RC: Aquela que o ex-presidente Lula chamou de “marolinha”?

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GM: Sim, essa mesmo! A “marolinha” virou um tsunami e varreu tudo!

RC: Mas ministro, sem querer ser chato, os países asiáticos crescem bem mais do que a gente e com bem menos inflação. Mesmo na América Latina os países da Aliança do Pacífico crescem muito mais, também com menos inflação. E até a economia americana está crescendo bem agora. Que crise é essa?

GM: Ora, basta olhar o PIB dos países europeus…

RC: Então o senhor quer dizer que o Brasil deve ser comparado com os países mais doentes da doente Europa, no epicentro de um furacão econômico?

GM: Eu escolho sempre os piores para pintar um quadro relativo melhor para o Brasil, sabe? Estamos em ano eleitoral. Aliás, convenhamos: para o PT todo ano é de eleição, pois vivemos num eterno palanque… (risos)

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RC: E a questão do setor elétrico, ministro? Estamos vendo a fatura bilionária do intervencionismo do governo, um “tarifaço” que vai punir o consunidor, e o risco de racionamento ou apagão que não vai embora.

GM: Culpa de São Pedro. Se ao menos chovesse mais…

RC: E o caso de nosso setor automotivo massacrado, tendo de demitir milhares de pessoas?

GM: Culpa da Argentina…

RC: Ministro, assim fica difícil. Quer dizer que todos esses inúmeros problemas particulares do Brasil são culpa das estrelas, dos astros, sempre de algo fora de sua responsabilidade, longe da alçada do governo Dilma?

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GM: Ora bolas! A culpa é MINHA, e eu a coloco em quem eu bem entender!

RC: Obrigado pela sinceridade, ministro. O senhor não acha que a turma da Unicamp já causou estrago demais ao Brasil?

GM: Sempre há mais o que fazer…

RC: Já tem planos para 2015, quando perder o emprego?

GM: Conhece alguém que precise de um estagiário em economia? Posso lhe mandar um currículo?

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RC: Farei o que for possível para ajudá-lo. Talvez alguma vaga de contínuo eu consiga arrumar. Até nunca mais, ministro.

Rodrigo Constantino