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O presidente Jair Bolsonaro insultou nesta terça-feira, com insinuação sexual, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha. "Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim", disse o presidente rindo, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada.

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O que o presidente ganha com isso? Aplausos da claque, sem dúvida, e talvez uma "mitada" para manter a ração diária de sua militância engajada nas redes sociais. Mas se trata de um tiro no pé, pois afasta os mais moderados que poderiam apoiar o grosso do governo, e que se recusam a compactuar com esse tipo de postura. Além disso, desvia o foco do essencial, que no caso seria o viés partidário da reportagem em questão, já que a própria fonte confessou ter trabalhado para opositores, não para Bolsonaro.

Mais do que boa parte da imprensa, eu entendo a estratégia populista de detonar a mídia. Seu viés "progressista", negado por muitos jornalistas, presos em suas bolhas cognitivas, salta aos olhos do público, especialmente na era das redes sociais. É por isso que os ataques surtem efeito, ecoam: pois tocam na verdade, por mais que de forma exagerada.

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O melhor mecanismo de defesa contra esse populismo seria uma autocrítica maior dos jornalistas, uma reflexão sincera sobre o peso de sua visão de mundo, predominantemente esquerdista, na hora de decidir pautas, chamadas e reportagens. Ao insistir na pseudo imparcialidade, a mídia joga lenha na fogueira populista.

O que mais chamou minha atenção no comício do Trump que fui perto de casa foi justamente o fato de o público, incluindo crianças, ir ao delírio na hora dos ataques do presidente aos jornalistas, bem ali diante dele. "São todos mentirosos!", gritava Trump, para a euforia da plateia. Mas como negar o viés escancarado, quando sabemos que quase 100% da cobertura sobre o impeachment, à exceção da Fox News, foi contrária a Trump? Fora mil outros exemplos de clara perseguição, de inversão, manipulação, forçação de barra ou pura Fake News.

Ou seja, a própria imprensa não ajuda. Mas isso não pode justificar a passividade diante de ataques cada vez mais ofensivos e chulos, em especial de Bolsonaro, que copia mal sua fonte de inspiração ao norte. Ao tratar a repórter como prostituta, contando com uma máquina de repercussão nas redes sociais, Bolsonaro pode arrancar gargalhadas dos convertidos, mas incomoda pessoas decentes, que sabem que a jornalista poderia ser sua mãe, sua irmã, sua mulher.

Nada pode justificar esse nível tão baixo. Alguma liturgia do cargo é necessária, por mais que a "direita alternativa" considere isso algo ultrapassado, coisa de "liberal fresco". Posso compreender o conceito de "herói trágico", de "mal necessário", e admitir que o gênio dificilmente voltará para a garrafa. As redes sociais mudaram a política, para melhor e pior, dependendo do aspecto.

Mas não se trata apenas de etiqueta, e sim de decência básica. A "piadinha" é totalmente desapropriada, inadequada, e o fato de vir do presidente da República é um agravante. E também é burrice do ponto de vista estratégico: se gera a alegria dos convertidos, afasta muita gente boa, produz antipatia gratuita.

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É verdade que o povo não liga tanto para essas coisas. Alguns jornalistas estão em polvorosa, falam até em barbárie, como se Bolsonaro tivesse subido num palanque e se declarado nazista e censurado a imprensa. Barbárie, para o seu Zé e a dona Maria, significa uma taxa de homicídio de 60 mil por ano, ou desemprego, ou a família vendo seus valores morais destruídos pelos "progressistas". A grosseria do presidente passa longe do radar da maioria.

Quem era extremamente grosseiro com jornalistas também era Lula, e isso nunca o impediu de ser popular, enquanto a economia ia bem. Mas quando a maré baixou, esses defeitos de caráter passaram a importar mais. É o risco que Bolsonaro corre. Enquanto ele estiver atacando a esquerda, a mídia e o establishment, e a perspectiva for positiva para a economia, essas grosserias serão ignoradas por muitos. Mas a realidade é cíclica, não é mesmo?