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Isolacionistas começam a sentir pressão das ruas
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Quando a peste bubônica colocou o mundo de joelhos, parte da elite recomendou a quarentena e muitos se mandaram para suas propriedades rurais, distantes, para se proteger entre seus vinhos e fartura, enquanto os pobres morriam nas cidades. A "quarentena gourmet" não é novidade, como se vê. Mas, na era das redes sociais, ganhou ares macabros de insensibilidade.

Compreende-se quem, de forma sincera, acha que não há alternativa e devemos fazer de tudo para "achatar a curva". Mas tem muita gente adotando uma postura intransigente e insensata, como se num país pobre como o Brasil fosse viável simplesmente copiar medidas de países ricos. Virou já uma bandeira política, um grito ideológico, um ato arrogante de uma gente estética que joga para a sua plateia, enquanto o mundo desaba lá fora da bolha.

Como a realidade se impõe, cada vez mais gente sai às ruas pressionando pela volta gradual das atividades. São autônomos, trabalhadores informais, pequenos empresários, todos desesperados diante de uma paralisação radical e, ao contrário do que pregam seus defensores, sem o devido embasamento científico.

Salvador, capital de um estado dominado pelo esquerdismo assistencialista, teve vários minutos de buzinaço este fim de semana, numa fila infindável de carros cobrando reabertura. São Paulo idem. O estado responsável por mais de um terço do PIB nacional não está mais aguentando a política do governo Doria. O problema é que o governador se comprometeu demais com o discurso isolacionista, sem deixar muito espaço para um recuo pragmático, em busca de um equilíbrio.

Um pastor de uma igreja séria em SP disse que vão respeitar a quarentena até dia 10 de maio, mas que é preciso verificar se o governador aguenta até lá, pois o povo mais humilde está sofrendo demais. Sua igreja, como outras, está entregando quase duas mil cestas básicas por semana! Enquanto jornalistas e artistas compartilham nas redes sociais seus vinhos, suas músicas e as séries que estão acompanhando em seu "diário da quarentena".

Os dilemas são reais. Reabrir sem critérios - o que ninguém defende - poderia levar à implosão do sistema de saúde. Mas o fato é que, até aqui, temos hospitais de campanha com leitos disponíveis, poucos hospitais realmente sobrecarregados, e uma taxa de óbito por milhão de habitante extremamente reduzida para padrões internacionais. As previsões catastrofistas não se mostraram acertadas, felizmente.

A triste verdade é que muitos parecem estar no negócio de espalhar medo, disseminar pânico, e por isso ignoram notícias mais positivas. Por exemplo: estudo recente diz que crianças são pouco contagiosas para a doença:

Além de crianças menos contagiosas, a taxa de letalidade parece ser bem menor do que o antecipado, pois muitos de nós tivemos o contágio e sequer sabemos:

O resultado disso é que, mesmo nos Estados Unidos, onde se repete que temos os maiores números de atingidos e mortos (ignorando o tamanho da população), o Covid-19 não chega a ser extremamente assustador quando analisamos as mortes corriqueiras causadas por pneumonia:

Esse gráfico acima tem gerado controvérsias. Alguns alegam que as mortes normais de pneumonia foram transferidas para o covid-19, outros argumentam que, mesmo admitindo essa transferência, a pandemia atual já matou mais de 5 mil pessoas em excesso ao que morria de influenza. Ainda assim fica claro que a forma de computar as mortes faz diferença, e há um clima de histeria no ar.

Ninguém precisa negar a gravidade da pandemia para compreender que tem havido certo exagero na forma de relatar os casos de óbito. No Brasil parece existir um oportunismo para jogar no colo do presidente a responsabilidade por cada morte, enquanto nos Estados Unidos, em ano eleitoral, a oposição democrata viu na pandemia uma chance de enfraquecer Trump.

De qualquer maneira, a postura irredutível de quem quer manter o isolamento, mesmo diante do drama crescente de quem precisa trabalhar para sobreviver, poderá ter um efeito bumerangue. O povo fora das bolhas está perto do limite. Não será nada agradável se o copo transbordar e esse limite for ultrapassado...

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