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Por Lucas Gandolfe, publicado pelo Instituto Liberal

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O Movimento pela Ética na Política de 1992 nasceu de um grupo de pessoas que se reunia na UFRJ. Eram sindicalistas, universitários, militantes de partidos, pessoal das ONGs e dos direitos humanos. Dando “nome aos bois”, tínhamos desde ex-presidente da OAB até Lula, Herbert de Souza (o Betinho), Marilena Chaui, José Dirceu, Genoíno, Frei Betto, tutti quanti.

A “Campanha pela Ética”, liderada pelo PT, dava a genérica impressão de estar lutando pela “ética” no sentido geral e corrente, isto é, pelo bem e pela decência, combatendo todo e qualquer elemento corrupto na administração pública, firmando-se como paladino da honestidade nacional e movimento suprapartidário. As provas de corrupção no governo de Fernando Collor, suscitando fartas demonstrações de indignação moral, tornaram a ficção do movimento verossímil, permitindo que o moralismo atávico dos brasileiros fosse imediatamente canalizado para o colo da esquerda.

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Será que o ilustre Partido dos Trabalhadores, cujos principais membros encontram-se atualmente condenados pela Justiça por inúmeros crimes, estava mesmo defendendo a “ética” relacionada à honestidade, moralidade, etc.? Evidentemente que não. Eles defendiam o “Estado Ético”, nada mais, politizando a “ética” e colocando à luta de classes acima do bem e do mal, o que, num futuro bem próximo, inverteria totalmente aquilo que pregavam.

No fim, toda a farsa da “ética” terminou por ser usada como instrumento para a longa viagem da esquerda – do PT, para dentro do aparelho de Estado. Pois bem, e depois? A ética foi finalmente implantada no Brasil, expurgando os “ratos que roem nossa bandeira nacional” e vivemos felizes para sempre? Como desgraça pouca é bobagem, descobrimos que, frente ao que estava por vir, o Brasil até que era bem ético.

Passadas mais de duas décadas, eis que a mesmíssima farsa ressurge. A esquerda acaba de lançar o movimento “Estado Juntos”, acompanhado de um manifesto que apenas deseja dar uma bela rasteira na democracia, esta ainda muito incompreendida pelos companheiros.

O manifesto começa apresentando os signatários e suas intenções. “Somos cidadãs, cidadãos, empresas, organizações e instituições brasileiras e fazemos parte da maioria que defende a vida, a liberdade e a democracia”. Ora, quem seria louco o bastante para ser contra a vida, a liberdade e a democracia, não é mesmo?

Mas quem são estes digníssimos cidadãos e cidadãs? Haddad, FHC, Flávio Dino, Huck, Caetano Veloso, Boulos, Paulo Coelho, Petra Costa, Jean Wyllys, Cristovam Buarque, tutti quanti. Alguém realmente acredita que essas pessoas representam o povo brasileiro e a democracia?

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Aliás, afirmar que são “a favor da vida” é o cúmulo do descalabro, já que é notório que a esquerda é veemente defensora do aborto e se mostra incapaz de derramar uma lágrima pelas milhares de vítimas assassinadas pelos criminosos que tanto afagam.

O segundo parágrafo do manifesto afirma “somos a maioria”. Que maioria, cara-pálida? Em 2018 a maioria elegeu o governo que vocês justamente desejam derrubar sem qualquer apoio popular, ao mobilizar, exclusivamente, os antigos membros, apoiadores e beneficiários de dinheiro público da era petista.

Vocês representam apenas a si próprios!

“Somos muitos, estamos juntos e formamos uma frente ampla e diversa, suprapartidária”. Se isso não é subestimar a inteligência do brasileiro, não sei o que seria. Cínicos e mentirosos! A desonestidade desse movimento mede-se pela amplitude megalômana das suas afirmações de imparcialidade.

Continua, dizendo que “trabalha para que a sociedade responda de maneira mais madura, consciente e eficaz”. Ou seja, da sua torre de marfim, entendem que o povo não sabe se portar de maneira “madura, consciente e eficaz”. Ora, além de mentir descaradamente, avocam-se o direito de passar um pito no brasileiro.

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“Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem […] a ética […] a verdade”. Primeiro, que direita? Só se considerarmos o Lobão, o que seria cômico. Outra mentira em vários níveis é colocar na mesma frase “esquerda, lei, ordem, ética e verdade”. Guilherme Boulos, líder do MTST, defende a lei e a ordem ao invadir a propriedade dos outros? O PT de Haddad, Caetano e Petra Costa agiu de acordo com a lei e a ordem no Mensalão e Petrolão? Ética? Só se for do Estado Ético de Antonio Gramsci e da revolução, em que os fins justificam os meios mais terríveis. Verdade? Só se for a mesma do “gópi”.

O manifesto é cheio de palavras que foram, ao longo do tempo, incutidas na mente das massas como programas de computador para acionar nelas automaticamente as emoções desejadas pelo programador, fazendo com que amem o que deveriam odiar e odeiem o que deveriam amar.

É sempre aquela coisa do 1984: democracia é ditadura, liberdade é restrição, verdade é mentira. Debate é imposição, imposição é debate. Responsabilidade na economia é socialismo, socialismo é responsabilidade na economia. Liberdade de imprensa é censura e censura é liberdade de imprensa.

Asinum asinus fricat, já observavam os romanos: um burro coça outro burro. A mídia, mais que rapidamente, sai gritando aos quatro ventos que a democracia ressurge no manifesto, composto por ilustres representantes de todas as vertentes políticas nacionais, que, juntas e imparcialmente, combaterão o autoritário e impopular governo Bolsonaro.

Ora, não existe ética, não existe moral onde não existe amor à verdade. Levado pelo discurso insano desses acadêmicos, político, artistas semiletrados, o Brasil desgarra-se do eixo do mundo, errando num espaço sem fundo onde todas as proporções se embaralham, onde os juízos morais mais óbvios suscitam escândalo e onde o disforme e o obscuro se tornam a medida de todas as coisas.

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Duplicidade, diversionismo, camuflagem são o cerne mesmo da alma dessas lideranças. O manifesto é apenas um utensílio – tão descartável quanto uma tira de papel higiênico – que, evidentemente, busca, única e exclusivamente, o retorno da esquerda para dentro do Estado.

*Lucas Gandolfe é advogado e jornalista.