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O alarme tocou e o ministro logo despertou. Nada como mais um dia de missão recivilizatória. Ele colocou seu Rolex Daytona de ouro no braço e foi fazer sua toilette, como seus philosophes antepassados. É preciso estar sempre muito bem arrumado e refinado para educar esses "animais selvagens"...
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Já na mesa do café da manhã, o ministro foi ler as principais notícias. E se deparou com as postagens - as várias postagens! - de uma mesma revista. E não era a Oeste. E não era brasileira, mas sim britânica. A The Economist resolveu declarar guerra aos abusos de poder do seu colega ministro e, por tabela, da própria instituição que preside.
O pobre Voltaire de Vassouras não pode se conter, eis a verdade! O Pavão Supremo tem uma missão nobre demais para se dar por satisfeito com votos constitucionais pelos autos dos processos. Ele precisa 'empurrar a História' na direção da 'justiça social'
Isso foi demais para sua vaidade! Foi como uma lança envenenada que atravessava seu coração. Et tu, Economist?!, perguntou o ministro, desolado. Como o ministro poderia circular nas rodas da alta sociedade como salvador da democracia com reportagens internacionais desmentindo toda a narrativa? Era demais da conta para nosso Rousseau de Vassouras!
Não obstante, sem conseguir se controlar, o ministro resolveu soltar uma nota oficial, com timbre e tudo, para "rebater" as postagens. Ao reagir por impulso, tomado pela fúria que só a vaidade pode causar, o ministro acabou sendo desleixado, claro, e foi pego em inúmeras mentiras ou "erros". Um jornal sério apontou ao menos seis, o pior deles talvez sendo ter negado o que disse e foi gravado em vídeo, i.e., um "flagrante perpétuo".
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Outro jornalista sério, escrevendo no mesmo jornal, fez um balanço psicológico do nosso ministro como o típico subdesenvolvido “premium”: "imagina-se europeu, civilizado e diferente dos nativos de seu país, mas é apenas mais um jeca de terceiro mundo. No momento, humilha o STF discutindo em público um artigo do Economist". O jornalista elabora:
Por uma questão mínima de autorrespeito, o presidente do STF, ou qualquer dos seus ministros, não pode, simplesmente não pode, sair por aí batendo boca com jornalistas. É amador. É humilhante. É um insulto à dignidade que o tribunal mais elevado da Justiça brasileira deveria ter.
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Mas o pobre Voltaire de Vassouras não pode se conter, eis a verdade! O Pavão Supremo tem uma missão nobre demais para se dar por satisfeito com votos constitucionais pelos autos dos processos. Ele precisa "empurrar a História" na direção da "justiça social", debatendo política com um imitador de focas e enxergando poder transcendente em tarados. Ele precisa derrotar o bolsonarismo e se gabar disto perante uma plateia de "estudantes" comunistas.
Foi com tais pensamentos que nosso ministro leu mais uma notícia importante naquele dia: o falecimento do papa Francisco. Ele não queria, mas o pensamento que veio à sua cabeça foi inevitável e estupendo: "Seria perfeito se eu pudesse ser o novo papa! Recivilizar todo esse enorme rebanho de gente atrasada e supersticiosa! Mudar o mundo para sempre, sem ter de lançar mão da violência jacobina! Ter o mesmo resultado sem enforcar o último rei com as tripas do último padre! O mundo seria tão melhor se todos fossem feitos à minha imagem e semelhança..."
E com tais devaneios, o nosso Diderot de Vassouras seguiu para mais um dia de trabalho. No caminho, pareceu ter ouvido de uma tal de madame Rolland: "Liberdade, ó Liberdade! Quantas vítimas feitas em teu nome!!!". Mas achou que era algum equívoco de seu ouvido, e continuou resoluto, impávido, rumo ao seu ofício: nada menos do que recivilizar a nação, quiçá a humanidade toda, dando a sonhada "liberdade" a todos os bárbaros!





