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O bolsonarismo trabalha para colocar o PT de volta no poder?
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Por Gabriel Wilhelms, publicado pelo Instituto Liberal

O título é obviamente uma provocação. Não acredito que Bolsonaro e seus adeptos mais fervorosos, há muito chamados de bolsonaristas, desejem o retorno do PT ao poder. No entanto, isso torna as coisas piores ainda. Se se tratassem, presidente incluso, de petistas disfarçados trabalhando incessantemente para dar razão aos argumentos da oposição, pelo menos haveria um método, mas como não se trata disso, resta apenas a loucura.

Não há linha de argumento adotada por uma pessoa sensata para defender a fala vil e baixa de Jair Bolsonaro contra a Patrícia Campos Mello. Imagino que todos os leitores já têm conhecimento do que foi dito, mas acho necessário repetir a frase para ilustrar o argumento. “Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, não é uma frase que deveria ser proferida publicamente por nenhum presidente da República. Sim, já espero as acusações de que estou me rendendo ao politicamente correto. Trata-se daquela segunda faceta terrível do politicamente correto da qual tratei em um artigo intitulado O politicamente correto e os liberais, que é dar, na justificada reação contra o politicamente correto, um escudo para aqueles que de fato dizem e fazem coisas indefensáveis.

É assustador, mas não surpreendente, ver gente que se diz conservadora, pessoas que em tese deveriam ser defensoras das instituições e da dignidade das instituições, não só passarem pano, mas defenderem e aplaudirem a fala do presidente, que, vale notar, é só mais uma num vasto arsenal de bobagens que já incluiu até, enquanto deputado, elogios a um torturador em um dos principais momentos de inflexão política do país, que foi o impeachment de Dilma. É assustador que não vejam, ou não se importem, que Bolsonaro avilte o cargo para o qual foi eleito dessa forma.

Vão dizer que é mimimi e que não elegeram um lorde, que o elegeram para falar nesse tom mesmo. É preciso pontuar a diferença entre falar de uma maneira “popular”, sem buscar exagerar nas formalidades e na roupa engomada, e agir de maneira vulgar. Não precisa ser a rainha da Inglaterra, mas também não precisa agir como se estivesse em um boteco qualquer ao invés da presidência.

Quem age assim, aplaudindo os aviltamentos do cargo parece pensar que Bolsonaro, ou uma pretensa dinastia Bolsonaro formada por seus filhos, vai ocupar a presidência para sempre. Ganharam o poder e aproveitam para “lacrar” como se todas as futuras vitórias estivessem garantidas. São os mesmos que adoram exaltar a suposta “genialidade” política do presidente, muitas vezes acusando os liberais de não entenderem de política e apenas de economia. Ora, qual o logro político em falar que uma jornalista queria “dar o furo a qualquer preço”? Isso pode provocar umas boas gargalhadas nos insensatos, mas vai Bolsonaro colher algo de positivo disso fora do seu grupo ideológico mais fervoroso? Obviamente não; pelo contrário, a oposição fica maravilhada quando o presidente ou outros membros do seu governo fazem esse tipo de coisa.

O título do artigo também não serve para apostar em uma polaridade perpétua entre PT e Bolsonaros, o que realmente espero não venha a ser o caso. Ocorre que é irônico que quem teme tanto o retorno do PT como o diabo teme a cruz trabalhe tanto para que isso aconteça, sequer perceba e ainda acuse os que apontam isso de serem petistas.

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