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Após mais da metade do mandato, massacrado pela imprensa diariamente, em meio a uma pandemia em que o foi responsabilizado por cada óbito de forma absurda e injusta, o presidente Bolsonaro conseguiu arrastar uma multidão às ruas no dia 7 de setembro.

Juntando vários partidos de peso, como PSDB e PDT, contando com a mobilização de grupos ativistas como o MBL e o Vem Pra Rua, com ampla divulgação pela mídia, a oposição não foi capaz de colocar uma mínima fração desse público em sua manifestação no dia 12.

O contraste é chocante pelo fracasso deste ato frente ao sucesso do outro. Não obstante, como é a reação da imprensa, da própria oposição? Podemos avaliar bem isso pelo editorial do Estadão de hoje, este que já foi um jornal sério e respeitado. Para o Estadão, a democracia não é uma foto, e em que pese o público bastante reduzido da oposição, ao menos se viu muito político ali, o que o jornal considerou algo positivo:

As manifestações de 12 de setembro podem ter frustrado quem contava com um resultado imediato, pois o caminho da democracia e da responsabilidade com o bem comum é longo, repleto de percalços, dificuldades e necessários aprendizados. Mas há uma notícia especialmente relevante. Esse caminho não está deserto. Pessoas de diferentes correntes ideológicas decidiram trilhá-lo e estão convidando outros a trilharem também.

A única conclusão a que podemos chegar é que o fracasso subiu à cabeça da oposição! Como alguém pode festejar um fiasco completo desses, só porque muitos caciques políticos estavam presentes, sem qualquer adesão popular? No fundo, essa é a noção que essa turma tem de democracia: um convescote de poderosos, sem a participação popular. Uma democracia de gabinete, sem povo. Fernão Lara Mesquista, em seu blog Vespeiro, escreveu sobre esse desprezo das elites pelo povo:

O estrondoso fiasco de domingo passado – de que o PT está tentando livrar-se desde que o pressentiu no estrondoso fiasco da sua prévia do Dia da Independência – veio para confirmar: o povo brasileiro não tem nada de bobo, apenas é tratado como tal impunemente em função da síndrome de imunodeficiência democrática crônica que lhe tem sido instilada à força nas veias e o mantem exposto a infecções oportunistas recorrentes por todo tipo de agente patológico da baixa política.

Este domingo provou que ultrapassamos o marco da imunização de rebanho. Pode a imprensa-turba repetir à exaustão os seus bordões importados ou domésticos e agredir os fatos ao vivo e a cores – “O STF é o defensor do estado de direito”, “É Bolsonaro quem agride o STF”, “A impossibilidade de auditar o sistema eleitoral é a prova de que nunca houve fraude”, “Foi o congresso quem decidiu soberanamente contra a pequena minoria que desconfia da máquina de votar”, “A economia está fracassando porque Paulo Guedes não faz reformas”, “Havia 125 mil pessoas na Paulista em 7 de setembro” e por aí afora –  que ninguém mais lhe dá ouvidos. 

Para Fernão, "O que explica o bolsonarismo passado, presente e futuro é essa desonestidade assumida e explícita do antibolsonarismo". E eis o ponto central: o que afastou o povo do evento da "terceira via" foi sua escancarada hipocrisia, seu oportunismo, suas narrativas falsas. Críticas construtivas são sempre necessárias, e o governo tem vários defeitos. Mas a postura dessa turma exala desonestidade.

Para J.R. Guzzo, o fiasco do último domingo mostra que quem comanda as massas é Bolsonaro. Para o experimente jornalista, "Aconteceu o pior: os organizadores chamaram o povo, e o povo não apareceu. O resultado é que conseguiram exatamente o contrário do que pretendiam. O inimigo, que deveria ser enfraquecido, saiu mais forte do que estava". E a comparação com a manifestação patriótica do dia 7 piora ainda mais o quadro da oposição:

Em outra ocasião, o fracasso seria apenas um fracasso. Vindo logo depois de Bolsonaro ter enchido as ruas com as maiores manifestações desde as “Diretas Já” ou o “Fora Dilma” de 2016, foi um desastre com perda total. A culpa por isso é de um dos mais velhos e resistentes vícios da política brasileira: os donos das manifestações acham que são eles, e não os manifestantes, que têm o poder de lotar a praça. Dá nisso: se o povo não quer ir, podem ficar convocando a vida inteira que não vai acontecer nada.

Guzzo conclui:

“Gado” inconsciente, irrelevante e irresponsável, diz a oposição. É um equívoco fundamental. O que os comandantes da guerra contra o presidente não percebem é que o “antibolsonarismo” não é, nem vai ser, uma causa popular no Brasil.

Enquanto não enxergarem essa evidência, continuarão a sonhar com as “pesquisas de opinião” que garantem que a popularidade de Bolsonaro “nunca esteve tão baixa” — justo no momento que fotos, vídeos e o testemunho dos participantes mostra as ruas tomadas por seus aliados.

A divisão nunca foi tão clara: de um lado, a elite cosmopolita "progressista" que sonha com uma democracia de gabinete, sem a participação do povo, por quem no fundo essa turma nutre enorme preconceito; do outro lado, aqueles que rejeitam essa arrogância, o autoritarismo, os esquemas dos velhos donos do poder. No convescote da esquerda há muita conversa de bastidor, muitos acertos pouco republicanos, bastante articulação golpista para derrubar Bolsonaro. Só não tem uma coisa: povo!

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