Por Carlos Junior, publicado pelo Instituto Liberal
A mentalidade estatista e de eterna dependência do Estado tipicamente brasileira é uma das chagas perpétuas da trajetória deste país. Ela é a origem de muitos dos problemas nacionais, raiz da desonestidade na execução de cargos estatais e traço marcante a tornar o Brasil um país hostil a um florescimento da prosperidade capitalista das sociedades liberais. Enquanto não tirarmos o Estado do centro de nossas vidas, teremos um país que não é um décimo do que pode ser.
Paradoxalmente, adoramos culpar a classe política – e com razão – por todas as desgraças que afligem a todos nós. Ah, os políticos são todos corruptos. Ah, não há partido político que preste. Ah, qualquer um que chegue ‘’lá’’ irá fazer o mesmo que os outros. Temos verdadeiro ódio à classe política, mas consentimos em dar poder e meios de ação aos seus integrantes, uma vez que um Estado grande é o campo perfeito para as delícias dos ladrões engravatados.
Por isso mesmo não é surpresa quando a classe política atua contra quem diz representar. O Congresso Nacional aprovou o fundo eleitoral público, com a destinação de R$ 2 bilhões para o financiamento das campanhas eleitorais do próximo ano. Em bom português: os políticos querem fazer campanha com o seu dinheiro. Querem as maravilhas do poder com o dinheiro suado do contribuinte. Querem abocanhar mais um pouco dos impostos do povo com uma das maiores cargas tributárias do mundo.
Este fundo eleitoral público é totalmente indefensável. O cidadão que tem determinada preferência política estará a financiar uma agremiação partidária totalmente diferente das suas escolhas eleitorais. Também irá bancar campanhas de pessoas que não conhecem. Os partidos políticos não podem sobreviver com o dinheiro de seus filiados e militantes? Por que raios ter que recorrer ao dinheiro público para bancar campanhas que quase sempre representam interesses particulares?
Os defensores da proposta – como de qualquer outra contrária aos anseios do povo e da moral – foram os de sempre: (PT, PSDB, MDB, PSL, PSD, Solidariedade, DEM, Republicanos, PSB, PDT, PTB, PP e PL). Os 13 partidos passaram por cima da vontade soberana dos que os elegeram e tiraram dinheiro público do orçamento federal para bancarem suas campanhas. É interessante que o relator do projeto, deputado Domingos Neto (PSD-CE), queria quase o dobro do valor aprovado: R$ 3,8 bilhões. Óbvio que tal valor iria impactar em outras áreas. Exemplo disso foi a declaração do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de que a sua pasta iria perder a bagatela de R$ 500 milhões.
Que vergonha na cara têm esses parlamentares que apoiaram uma proposta que iria retirar R$ 500 milhões da saúde pública? Que vergonha na cara possui cada um dos deputados e senadores a votar um projeto para desferir um duro golpe na população que nas urnas manifestou desejo de mudança e de novas práticas na política brasileira?
O estamento burocrático firmou compromisso com as reformas necessárias por saber ter chegado o Brasil no fundo do poço administrativo. Não havia outro caminho senão o das reformas. Jamais foi por convicção liberal de diminuir despesas e dar aos mercados protagonismo necessário para transformar o país um lugar próspero e um império da lei.
Prova disso é a defesa intransigente do fundo eleitoral do presidente da Câmara, o sr. Rodrigo Maia. O liberal de Taubaté já deu inúmeras mostras de estar em total oposição aos anseios do povo e óbvio que dessa vez não seria diferente. “Quer fazer um aceno popular? A Câmara tem um arsenal. Não é o que fizemos nos últimos anos. Se começar esse jogo de um querer vetar para deixar o desgaste para o outro, a gente vai gerar uma insegurança para a sociedade”. Ou seja: Maia não quer pegar o desgaste de um projeto repugnante. Quer dividir com Bolsonaro, que aliás já deixou clara a intenção de vetar o fundo eleitoral.
O sr. Marcelo Ramos, outro liberal de Taubaté e ex-comunista (?!), repetiu o modus operandi de Maia. Jogou a batata quente para o presidente Bolsonaro, ao lembrar que a proposta foi apresentada pelo governo. O que ele convenientemente ocultou é que o financiamento público de campanhas é lei desde 2017. Bolsonaro não tem a opção de apresentar ou não. É lei. Ele tem o poder de veto e adiantou que irá exercê-lo.
Cada decisão esdrúxula do parlamento e do STF faz-me ter vontade não de escrever artigos como este, mas de xingar e cuspir abelha africana. É demais os representantes do povo cuspirem na nossa cara e debocharem da sua vontade ao votarem um desavergonhado fundo público para campanhas eleitorais. É o fim da picada. É o fundo do poço.
Referências:
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