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"Ninguém aguenta mais essa tirania de ministros como Moraes", disse o governador Tarcísio de Freitas na manifestação do 7 de setembro. A fala caiu como uma bomba para o sistema. Se você quer ser aceito como candidato "normal" pelo regime atual, então é preciso partir da falsa premissa de que há normalidade institucional no país, que o STF pode até ter cometido um ou outro "excesso", mas que representa o guardião da Constituição e da própria democracia.
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Em seu editorial de hoje, O Globo partiu para o ataque: "Tarcísio agride democracia com radicalismo". Diz o subtítulo: "Ao aderir à anistia e radicalizar discurso, ele perde eleitor moderado, de que depende para vencer em 2026". Esse foi o tom na velha imprensa toda. O Globo também publicou uma "reportagem" que mostra o "preço da escalada": "Ataque de Tarcísio a Moraes gera indignação no STF e põe em xeque aproximação com a Corte".
Míriam Leitão, no mesmo jornal, avaliou: "Quando o cálculo pode dar errado". Para a jornalista tucanopetista, "Os cálculos de Tarcísio podem dar errado. Ele assustou o centro que precisa atrair e tentou agradar à extrema direita, que votaria nele contra Lula". O "liberal" Pedro Doria, também no Globo, escreveu: "Tarcísio demonstra desconhecer a História". Na chamada, acrescentou: "Ele acha que é esperto politicamente e não tem ideia do perigo que desperta".
A reação do sistema à fala contundente do governador Tarcísio só mostra que ele deveria ter subido o tom faz tempo, dado o peso que tem a opinião do governador do estado mais importante do país
O tucano Merval Pereira foi na mesma linha: "Tarcísio erra na estratégia de radicalização". Diz ele: "Tarcísio está errando na dose; pode estar ganhando apoio do bolsonarismo mais radical, mas perdendo o do eleitorado antipetista". Para os tucanos, postura adequada é a do governador Eduardo Leite, que não faz oposição ao regime.
No Estadão, temos: "Tarcísio arrisca perder eleitor de centro ao adular Bolsonaro e virar o antagonista de Lula". O editorial do Estadão foi na mesma linha: "Tarcísio cruzou o Rubicão". Diz o subtítulo: "O cálculo feito pelo governador de SP no Sete de Setembro pode lhe custar caro: ao atacar o STF de forma tão virulenta, Tarcísio tisnou o verniz de moderação que o distinguia de Bolsonaro".
Para o jornal tucano, a moderação era "o capital político mais valioso de Tarcísio por seu potencial de reunir forças de oposição ao lulopetismo". Ele deveria ter alegado algum impedimento médico para faltar ao evento "golpista", sugere o jornal. Mas ele optou pela "via incendiária" de "atacar" o STF. Em sua análise no mesmo jornal, Carolina Brígido diz: "Tarcísio implode de vez o diálogo com a Corte". Segundo ela, Tarcísio deixou claro no domingo que prefere os votos dos eleitores de Bolsonaro ao diálogo com os ministros.
Na Folha, o editorial diz: "Tarcísio toma caminho perigoso ao afrontar Judiciário". Diz o subtítulo: "No feriado da Independência, governador paulista emulou bravatas e ataques de matriz autoritária de seu padrinho, Jair Bolsonaro, responsáveis por mergulhar o país em quatro anos de tensão institucional". Num toque comovente pela ingenuidade, o editorial conclui: "Os problemas na operação da cúpula do Judiciário, como o retrocesso na defesa da livre expressão, se corrigem na democracia pelo reformismo responsável, não com bravatas e ataques de integrantes de um Poder contra os de outros".
No mesmo jornal, Hélio Schwartsman questiona: "Tarcísio é um bolsonarista moderado?" Ele conclui que não após uma comparação com nazistas, e diz: "O problema de Tarcísio não é um de aferição de moderação, mas de erro material mesmo. Ao negar a legitimidade do STF para julgar Bolsonaro, ele se afasta do respeito à institucionalidade, que, como aprendemos no governo passado, é característica indispensável para quem pretende comandar o país".
Numa "reportagem", temos: "Tarcísio radicalizado divide centro-direita, e Ratinho Jr. vê brecha para ganhar tração". Em outra, com recadinho dos ministros, temos: "Ministros do STF esperam retratação de Tarcísio depois de escalada no 7/9". Em outra, consta: "Para ministros do STF, Tarcísio se assumiu como 'sósia' de Bolsonaro".
A reação do sistema à fala contundente do governador Tarcísio só mostra que ele deveria ter subido o tom faz tempo, dado o peso que tem a opinião do governador do estado mais importante do país. Antes tarde do que nunca!
O sistema ficou em polvorosa, como se pode ver, mandando recados e fazendo ameaças: ou Tarcísio aceita a premissa de que Bolsonaro é golpista, o STF age dentro da normalidade institucional e Lula é um presidente como qualquer outro, ou será atacado por todos o tempo todo e perseguido pela máquina estatal. É prova de que ele precisa se posicionar com firmeza contra esse estado de exceção criado pelo consórcio PT-STF-mídia.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos





