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Outras histórias não – ou mal – contadas
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Por Alex Pipkin, publicado pelo Instituto Liberal

Confesso que estou para além de cansado. É tarefa herculana acreditar que políticos, jornalistas, muitos juristas e, inclusive, professores de negócios (evidente que há exceções) estejam todos extremamente comovidos e prontos para encherem a boca, a fim de verbalizarem e enfatizarem que, em se salvando uma única vida, todas as ações estatais autoritárias e paralisantes da economia terão valido a pena.

De forma muito humana e pragmática, acho equivocado e triste esse pensamento dito “humanitário”. Evidente que toda vida humana deve ser radicalmente preservada! No entanto, essa mesma vida é inseparável no tempo, em suas dimensões umbilicais: a saúde, o social e o econômico. Essa é a vida real; com a apreensão presente da escassez de recursos e a premente necessidade de escolhas e de compensações.

A vida é mesmo maior do que a exclusiva preocupação com o coronavírus que, aliás, de enfrentamento científico, tem muito pouco de ciência factual. Definitivamente, não existem estudos conclusivos sobre o “novo” coronavírus e, diga-se o que se disser, a grande maioria das mortes virais tem ocorrido no grupo de risco dos idosos, indivíduos que já apresentavam outras comorbidades. Não se trata de aprazer-se com a “morte dos velhinhos”, longe disso! Na verdade, o pânico exagerado vem fazendo com que os idosos, detentores de outros problemas de saúde, tais como câncer, por exemplo, tenham temor de ir aos hospitais para a realização de quimioterapia. O medo de infecção viral certamente que inibe o devido tratamento de doenças graves como essa, podendo e devendo estar ocasionando óbitos…

O fundamental para mim é que a vida também é constituída de dilemas e de trocas compensatórias e, desse modo, penso que decisões visando ao bem comum e ao todo social deveriam focar naquilo que traz as melhores consequências para o conjunto da sociedade.

Lamentavelmente, a paralisação da economia brasileira – um país de renda-média baixa (!) – por dois meses até o momento custará muito mais vidas do que aquelas pelo próprio Covid-19. Não há a aludida separação entre vidas, saúde e economia. A devastação econômica, considerando-se o fechamento e/ou redução do tamanho das empresas e, especialmente, o abissal desemprego, aliado às mortes por doenças psicológicas e psicossomáticas, tem destino certo: o desastre econômico nacional, com repercussões nocivas de curto, médio e de longo prazos. Penso que não emergiremos de uma vindoura depressão em menos de aproximadamente uma década.

Tenho reiterado, a economia brasileira não aguenta tanto tempo paralisada. De fato, março/20 registrou infeliz recorde na produção industrial: -9,1%; abril será pior! Uma vida eventualmente salva pelo isolamento social drástico (o que ainda não é totalmente comprovado!) terá reverberações ignoradas agora para uma série de vidas humanas futuras!

Infelizmente, por crenças e por questões politicas e interesseiras, governantes teimam em desconhecer tal realidade das trocas compensatórias. Aspirantes a ditadores têm tutelado a liberdade individual, promulgando regras esdrúxulas e desuniformes, sob o pretexto de “salvar vidas”. Grave e temerário! Por que pode haver aglomerações em mercados (ditos “essenciais”) e não em um comércio “adaptado, controlado e higiênico”, em bares e em restaurantes, em que proprietários preocupam-se com suas próprias vidas, e de seus funcionários e de seus clientes?!

A “piada do dia” é a proibição de entrega de comida a partir de restaurantes de shoppings! Cadê a lógica?! Deplorável! Bem, a paralisação é defendida e estimulada arduamente pelo partido da mídia, esse focado exclusivamente na saúde física dos irmãos brasileiros.

Histórias trágicas e emocionantes são poeticamente contadas em tom fúnebre nos telejornais diários, exibindo relatos dramáticos, corpos transportados e covas abertas em função do Covid-19. Sim, é importante informar e alertar correta e eticamente, tanto sobre as mortes, como também sobre o potencial contágio e as formas de evitação da doença. Porém, parece-me também crucial contar “outras histórias”, mostrando o outro lado da moeda…

Histórias essas de homens e de mulheres que, ao longo de gerações, vêm gerando empregos, renda e prosperidade econômica e social, com seu suor e seu trabalho diário para sobreviverem a um ambiente de negócios brasileiro, via de regra, hostil aos empreendedores. Muitas micro, pequenas, médias e até grandes empresas estão quebrando e despedaçando o sonho engrandecedor e visionário de um fundador genuinamente humanitário, gerador de empregos e o sustentáculo de vidas humanas.

Muitas micro e pequenas empresas operam com margens reduzidas, sem qualquer fôlego para suportar uma paralisação dessas proporções. Outras pequenas e médias organizações colaboram em grandes ecossistemas de negócios, e, infelizmente, muitas delas estão desaparecendo do mapa.

Lamentável, mas falta para esses políticos de carreira, e demais legiões de “humanitários” de plantão, o conhecimento do funcionamento real das economias. Essas não são ligadas e desligadas como se acionássemos o interruptor de luz em nossas casas! A economia é um sistema interconectado de cadeias de valor estendidas, ou seja, de cadeias globais de suprimentos.

Não, não serão governantes e prefeitos que irão reconectar tais organizações nos mercados. Serão empreendedores, que, por meio de acordos voluntários ao longo de suas cadeias de suprimentos globalizadas, tentarão fazê-lo. São mesmo os indivíduos livres que estabelecem acordos entre si e que precisam de tempo para que se construam laços sociais de confiança e de comprometimento. Muitos desses acordos estão derretendo agora – e não será o dinheiro estatal (dos contribuintes!) que salvará vidas humanas, empregos, renda, empresas e ecossistemas de negócios!

Pois é, essas histórias é que não são contadas! São omitidas por se tratar de economia, não é mesmo?! Verdadeiras multidões de brasileiros, por nascimento ou por destino, que depositaram seus corações, seu sangue, seu amor, sua compaixão e suas almas em seus negócios, esses sim podem perder suas vidas e a de seus funcionários?!

O isolamento social drástico, “estratégico” para pretensões eleitoreiras e populistas de governadores e prefeitos, abraçado entusiasticamente pela mídia e por apologistas do “100% vidas”, omite imprecisamente o que considero a busca pelo efetivo interesse do bem comum e da legítima preservação de vidas; muitas vidas “econômicas e psicológicas” estão indo para a sepultura, sem a oportunidade e a grandiosidade de terem suas histórias bem contadas e honradas.

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