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Periferia precisa de melhor cultura: quem disse que pobre tem que gostar de pancadão?
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Enquanto muitos discutem de quem é a culpa pela tragédia em Paraisópolis, com a morte de nove jovens num "pancadão" que acabou em tumulto após operação policial, prefiro me afastar um pouco e debater aspectos culturais, tentando enxergar a floresta em vez de as árvores.

Uma coisa ficou martelando em minha cabeça: a noção de muitos, que me parece extremamente elitista e preconceituosa, de que esses jovens não têm alternativa como diversão. Traçaram paralelo com festas "rave" da elite, regadas a drogas sintéticas, ou com shows de rock. Mas estaria o jovem da favela condenado a "curtir" apenas funk de baixo calão em eventos organizados ou dominados por traficantes?

Um conhecido relatou que viveu numa periferia de São Paulo a vida toda, anos atrás, numa comunidade sem asfalto e saneamento, bastante pobre. No entanto, diz ele, os jovens se reuniam para tocar violão, ouvir MPB, Clara Nunes, samba raiz etc. Subversivo para a época? Talvez. Mas vamos mesmo comparar com um "pancadão" em que crianças de 10 anos fazem "trenzinho", ou seja, orgias?!

Parece inegável que algo mudou, e muito. E se trata de algo cultural, que diz respeito aos valores. O fenômeno é complexo e exige muitas abordagens distintas, não tendo uma única causa. Mas podemos pensar em alguns fatores preponderantes. Como, por exemplo, a glamourização que a própria elite promoveu dessas periferias e do que há de pior nelas, incluindo a bandidagem.

O traficante tem poder, e o poder seduz o jovem. É o traficante que "pega as mina", que ostenta correntes de ouro e seus fuzis em desafio às autoridades, ou seja, são os "donos do pedaço" naquele estado paralelo. Para conter esse poder de sedução, os valores morais sempre foram fundamentais, e os pastores evangélicos ou padres católicos eram peças cruciais. A noção de que existe o certo e o errado é conditio sine qua non para blindar os jovens dessa tentação.

Tudo isso foi se enfraquecendo com o tempo, e a campanha "progressista". As famílias perderam força, a religião foi vilipendiada, o preconceito contra os evangélicos é visível, as comunidades deram lugar ao universalismo cultural das redes sociais e o esgarçamento do tecido social foi a consequência disso tudo. Jovens atomizados, submetidos a uma cultura de hedonismo que enaltece o funk da periferia e até a marginalidade, tida como revolucionária, estão bem mais suscetíveis aos encantos dos traficantes.

Quem foi que disse que jovem pobre não pode aprender a gostar de música clássica, ler literatura de boa qualidade, divertir-se com coisas mais decentes do que um "pancadão"? Mas se o jovem começa a dar sinais de ir por esse caminho numa favela, ele provavelmente será vítima de intimidação dos pares. Nos guetos de negros americanos se fala "acting white", ou seja, o indivíduo está querendo bancar a elite branca, como se gostar de coisas melhores e mais refinadas fosse exclusividade da elite.

E o pior, a maior traição de todas: a elite culpada "progressista" endossa essa farsa, chancela essa besteira, e chama de preconceituoso justamente aquele que deseja nivelar por cima todos, por considerar que o pobre não precisa ser tosco só por ser pobre. De quem é o verdadeiro preconceito? De quem condena o "pancadão" como "alta cultura", ou de quem acha que o "pancadão" é a única "cultura" possível para os pobres?

Como cansou de demonstrar Theodore Dalrymple, as ideias equivocadas dos "progressistas" costumam impactar de forma desproporcional os mais pobres. São os pobres das periferias que sofrem mais as consequências da "revolução cultural" promovida pela elite culpada. Mães solteiras ricas podem contratar babás; mães solteiras faveladas se ferram. Ricos encontram refúgios para o sentimento religioso em causas "nobres" como ambientalismo ou veganismo, o pobre perde o contraponto do pastor evangélico num ambiente de poucas alternativas concretas para transmissão de valores morais.

Para dar um só dado estarrecedor: mais de 70% dos bebês negros nos Estados Unidos nascem fora de casamento! Estatísticas mostram que filhos criados sem o pai em casa apresentam probabilidade muito maior de problemas futuros, como drogas ou desemprego. A "solução" dos "progressistas" é monstruosa: promover uma verdadeira fábrica eugenista de abortos como a Planned Parenthood, voltada justamente para o assassinato de bebês das mulheres mais pobres.

A esquerda também acha que tudo se cura com mais dinheiro, seguindo a visão materialista marxista de mundo, de preferência com recursos públicos. Ou seja, o estado vem suprimir a carência espiritual, o que é temerário e ineficaz. Não basta dar assistencialismo nesse caso; é preciso restaurar o tecido social, resgatar valores morais, decência, combater o relativismo e a covardia dessas elites culpadas, incapazes de admitir o que o bom senso sabe. Tanto que, por pura hipocrisia, a elite costuma criar os seus filhos de forma bem diferente. Museus para meus filhos, pancadão para os seus!

Não posso aceitar o fatalismo de que pobreza deva ser sinônimo de baixaria, pois decência não depende da conta bancária. Nem sempre foi assim. Isso tem algumas décadas apenas, e vem piorando. E tem tudo a ver com as ideias "progressistas", que estão destruindo os pilares comunitários e jogando os jovens mais pobres nas garras dos traficantes. Depois não adianta demonizar a polícia pelas desgraças...

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