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Petróleo negativo, e agora?
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Por Douglas Pezzin, publicado pelo Instituto Liberal

No último mês de abril, os preços do contrato futuro de petróleo WTI com vencimento em maio/20 despencaram, recuando mais de 100% e sendo negociados a valores negativos, no menor nível da história, impulsionado pela crise provocada pela pandemia do novo coronavírus – mas não, isso não quer dizer que você será pago para abastecer o seu carro!

Brincadeiras à parte, para compreender o significado desse fenômeno, é necessário entender as características desses contratos. Primeiramente, apesar de servirem de base para definição do preço de negociação do ativo base (nesse caso, o petróleo) no mercado à vista, os contratos futuros não necessariamente traduzem o seu preço. Isso principalmente no cenário de preço negativo, pois caso não haja compradores, por exemplo, o produtor simplesmente não venderá a mercadoria.

Ainda, é importante ressaltar que esses contratos futuros pressupõem entrega física, ou seja, os investidores que seguram o contrato até o vencimento precisam arrumar onde estocar os barris ou encontrar compradores físicos para entregar a commodity. Entretanto, a maior parte dos operadores de mercado compram e vendem esses contratos, apostando na alta ou baixa com base na relação de oferta e demanda da commodity, com o único objetivo de obter ganhos financeiros e sem a intenção de receber tais barris.

Ocorre que, em função das medidas de isolamento e restrições de viagens e deslocamentos em todo o planeta, tomadas no combate à COVID-19, houve uma queda brusca da demanda de petróleo ao redor do mundo. Além disso, a demora da OPEP+ (aliança dos principais países produtores de petróleo que controlam a oferta da commodity e, consequentemente, seu preço) na definição de um corte de produção, devido à guerra de preços travada por Rússia e Arábia Saudita, resultaram em uma enxurrada de barris ofertados no mercado sem a contrapartida na ponta da demanda.

Assim, vimos em abril/20 um crescimento expressivo nos estoques de petróleo, gerando uma escassez de espaços para estocagem de barris, o que se tem refletido em custos maiores para a atividade. Ou seja, encerrar o mês com esses contratos na mão e ter de receber os barris (dada a dificuldade de encontrar compradores) passou a representar o risco de um grande custo que ninguém estava disposto a correr.

Como resultado, houve uma corrida entre os operadores do mercado para se livrar dos contratos com vencimento em maio/20, desespero esse que implicou queda abrupta do preço de negociação do contrato para o campo negativo. Na prática, isso significa simplesmente que a dificuldade e custo de estocagem cresceram de tal forma que era melhor pagar alguém para assumir esse risco.

Cabe destacar que, enquanto o contrato com vencimento em maio/20 operava a US$ -13,98, o contrato do próximo vencimento (jun/20) operava a US$ 22,15. A menor volatilidade dos preços dos contratos de jun/20 reforça a crença do mercado de que este fenômeno trata-se de um choque momentâneo, decorrente da conjuntura atual da relação oferta vs. demanda, que deverá ser normalizada assim que a demanda se reestabelecer e/ou os cortes de produção da OPEP+ aliviarem a oferta.

*Douglas Pezzin é colaborador no Instituto Líderes do Amanhã. 

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