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Por Liberalismo Brazuca, publicado pelo Instituto Liberal

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O Brasil é um país que não trata muito bem seus heróis e, para piorar, ainda venera as pessoas erradas. Em Brasília, há um livro de aço chamado “Panteão da Pátria e da Liberdade” que busca “homenagear heróis e heroínas nacionais que, de algum modo, serviram para o engrandecimento da nação brasileira”. O ditador Getúlio Vargas está lá, enquanto Pedro II está de fora. Zumbi dos Palmares, que tinha escravos, está no livro, enquanto a Princesa Isabel – que aboliu a escravidão – não.

Porém, uma das maiores injustiças de tal livro é a não-presença de Ayrton Senna da Silva.

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Arrisco dizer que Senna não era só um herói e sim um super-herói. E sabem qual era o super-poder dele? Colocar todo um país de frente para a televisão num domingo de manhã.

Na minha infância, nós brasileiros não tínhamos muitas alegrias no esporte – inclusive minha memória esportiva mais antiga era meu pai chorando quando o Caniggia eliminou o Brasil em 1990. Entre o final dos anos 80 e início dos anos 90, nossa seleção era um completo desastre.

Arrisco dizer que praticamente não havia motivo para termos orgulho de sermos brasileiros naqueles conturbados anos de retorno à democracia, graças a uma inflação galopante herdada dos militares que gente como Maria da Conceição Tavares e Bresser-Pereira só fizeram piorar.

Mas tínhamos Ayrton Senna – a nossa válvula de escape.

Pais, filhos, amigos, família… todos acordavam e se reuniam domingo de manhã bem cedo para vê-lo – nenhum super-herói tem um poder assim. Era bem comum não marcamos nada no domingo até o meio-dia para “esperar acabar a corrida”. Mesmo aqueles que não gostavam de Fórmula 1 se reuniam em família para escutar aquela musiquinha e esperar o Senna dar a volta de comemoração com a bandeira do Brasil na mão – tradição esta que começou depois da derrota da eliminação da seleção brasileira para a França em 86.

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Senna sempre representou um brasileiro bem atípico: aquele que não é um coitadinho e que sente orgulho de ser brasileiro. “Eu vou ser escudeiro do Prost? Irmão, você está maluco! Eu vou engolir esse francês!”. “Está chovendo muito? A pista está molhada e perigosa? Ainda bem!”. Senna era o retrato do que o brasileiro sempre quis ser e nunca conseguiu.

“Eu não consigo entender porque tanto endeusamento de um cara que era só um piloto”, diria uma pessoa com menos de 30 anos. Eu sei que é muito difícil explicar Senna para uma pessoa que não viu ao vivo seus super-poderes. Como explicar “A volta dos Deuses” em 1993? Ou explicar sua vitória em Interlagos com apenas a sexta marcha funcionando? E a comoção nacional que seu funeral gerou?

Eu vi e não consigo.

Primeiro de maio não é mais o dia do trabalho, mas é o dia de Ayrton Senna do Brasil, que partiu nesta data em 1994. Naquele mesmo ano ganhamos uma Copa do Mundo e a inflação desapareceu. Teria sido um sacrifício imposto pelos deuses? Se sim, não aceitaria.

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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