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O mundo enlouqueceu. Ou será que foi apenas a imprensa? Ao fazer minha varredura diária nos principais jornais do país - ossos do ofício - o que mais chama a atenção é a quantidade impressionante de especulações, previsões subjetivas, imposição de narrativas ideológicas, torcidas partidárias. O que menos tem é compromisso com os fatos.

Logo em destaque na Folha de SP temos uma "reportagem" alertando que aliados de Bolsonaro temem que 7 de setembro "golpista" consolide a rejeição ao presidente. Que aliados seriam esses? Não sabemos, claro. É tipo o "leitor" da Folha. A manifestação patriótica é mesmo golpista? Claro que não! As instituições são alvos de ataques, como diz o jornal no subtítulo? Só se não se pode mais critica-las, o que seria o fim da democracia. Ou seja, o troço todo é pura narrativa, nenhum fato concreto, e só especulações ideológicas.

Em seguida, no mesmo jornal, descobrimos que o governo americano estaria travando a análise de venda de mísseis ao Brasil por "preocupação com Bolsonaro". O pedido de compra foi feito ainda no governo Trump, e a Folha, reproduzindo a Reuters, trata essa suposta paralisação como fato concreto de que é uma grande preocupação com um governo que "ataca as instituições". A fonte? Os esquerdistas democratas americanos! Pura narrativa, especulação, fofoca sem embasamento.

Partindo para O GLOBO, deparo com uma coluna da "especialista em ciência", Natalia Pasternak, que fez relativa fama durante a pandemia, ao aderir ao alarmismo da OMS e recomendar as receitas autoritárias sem muito efeito. Dessa vez ela fala da varíola dos macacos, mas o medo de ofender minorias ou "estigmatizar" certos grupos é tanto que a ciência sai pela porta dos fundos.

Gays promíscuos viram apenas "homens que fazem muito sexo com outros homens desconhecidos", e ela coloca ênfase maior nas vacinas, sem capacidade de recomendar simplesmente mais prudência aos que gostam de orgias sexuais, pois é tabu "moralizar" esse tipo de comportamento - em que pese a mesma turma não ter pestanejado na hora de defender o lockdown, impedir as pessoas de trabalhar, as crianças de estudar etc.

Já cansado, desisti de encarar o Estadão, e fui direto para a Gazeta do Povo, o único jornal que ainda faz jornalismo de verdade. Que alívio! Ali encontrei um editorial sério contra os abusos de autoridades em nome de ideologias, como uma promotora baiana que tentou impor sua visão vegana de mundo: "Quando representantes não eleitos pretendem fazer as vezes de formuladores de políticas públicas e usam o cargo que possuem para ver postas em prática as próprias ideias, a porta está aberta para autênticos abusos de autoridade".

Em seguida, encontrei uma reportagem séria sobre o destino dos financiamentos do BNDES a ditaduras companheiras no governo Lula, mostrando em que situação eles se encontram hoje. São mais de um bilhão de dólares pendentes, e as empreiteiras nacionais foram as maiores beneficiadas: "Do valor total, 98% foi destinado a apenas cinco empreiteiras: Odebrecht (76%), Andrade Gutierrez (14%), Queiroz Galvão (4%), Camargo Correia (2%) e OAS (2%) – todas posteriormente alvo de investigações na Operação Lava Jato". Isso sim, matéria informativa importante, de interesse público.

Por fim, vejo em destaque a coluna de Carlos Alberto Di Franco, um dos poucos jornalistas que restaram em nosso país. Uma vez mais, ele volta ao seu tema preferido, sobre a necessidade de resgate do jornalismo substantivo, focado nos fatos: "O jornalismo de qualidade exige cobrir os fatos. Não as nossas percepções subjetivas. Analisar e explicar a realidade. Não as nossas preferências, as simpatias que absolvem ou as antipatias que condenam. Isso faz toda a diferença e é serviço à sociedade. O grande equívoco da imprensa é deixar de lado a informação e assumir, mesmo com a melhor das intenções, certa politização das coberturas. Cair na síndrome das narrativas. Os desvios não se combatem com o enviesamento informativo, mas com a força objetiva dos fatos e de uma apuração bem conduzida".

Se o Brasil tivesse bem mais jornalistas como Di Franco, ou se os demais jornais de peso fossem sérios como a Gazeta do Povo, o Brasil estaria numa situação bem diferente. Infelizmente, nossa velha imprensa abandonou o jornalismo em troca das narrativas ideológicas, subjetivas, e até no campo da ciência prefere fazer política, acender vela para grupos identitários em vez de simplesmente divulgar a informação relevante, factual. Não surpreende o fato de a credibilidade de nossa mídia estar desabando a cada dia...

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