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Quem vigia o vigia midiático?
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O poeta romano Juvenal teria perguntado quem vigia o vigia. Cedemos poder a certas pessoas, mas o mecanismo de pesos e contrapesos é fundamental para evitar abusos eventuais. Se o vigia concentrar poder demais, arbitrário, poderá se tornar um tirano.

A questão serve para refletirmos sobre os poderes excessivos do estado, ou para os abusos de uma Suprema Corte que deve justamente vigiar abusos constitucionais e pode muitas vezes se transformar o maior agente de desrespeito a essa Constituição, ou ainda o caso da imprensa.

A imprensa é o "quarto poder", que fiscaliza o poder, que lança luz sobre locais obscuros que as autoridades adorariam manter às sombras. Seu papel é crucial numa democracia. Mas claro que a própria mídia pode se transformar em algo um tanto diferente desse ideal, ela mesmo sendo um agente partidário, ideológico, distorcendo fatos para encaixa-los em sua narrativa prévia.

Os fenômenos Trump e Bolsonaro, em boa parte, significam exatamente uma resposta a esse afastamento da mídia de seu papel original. O público percebe o viés, a implicância, a fábrica de Fake News, e reage mostrando o dedo do meio, no caso, Trump e Bolsonaro, com seus estilos um tanto toscos.

Ambos declararam guerra aos jornalistas em geral. É verdade que nenhum governante gosta de uma imprensa livre, e adoraria controlar o que é publicado. Mas o tom dos dois presidentes sinaliza uma percepção real de milhões: boa parte da mídia virou militante, torcedora, e age para derrubar esses presidentes associados à direita.

Nesse contexto, os dois se excedem com frequência, principalmente Bolsonaro. Sua mais recente investida contra jornalistas se deu hoje cedo, quando perdeu a linha e mandou o repórter calar a boca. Eu condenei o "cala a boca" grosseiro do presidente no artigo anterior. Não dá para aceitar essa postura, por mais legítima que seja a crítica ao viés da mídia.

Mas estranho muito o fato de que nenhum jornalista da patota do "ninguém solta a mão de ninguém" tenha condenado publicamente o "cala a boca" que a jornalista Vera Magalhães tentou me dar por meio da Justiça, ao afirmar que entrara com pedido de seu advogado para impedir que eu fale sobre ela.

É como se ninguém pudesse colocar a lupa sobre o próprio jornalista, cobrar coerência, isenção, imparcialidade, ou então expor a seletividade e a militância partidária. Ou temos liberdade de expressão e toda figura pública, do poder ou da mídia, está sujeita ao escrutínio, ou...

... ou os arrogantes jornalistas seguem acreditando que vivem numa Torre de Marfim, blindados contra qualquer checagem externa, como os deuses do Olimpo, intocáveis, bancando as vítimas e acusando os demais de "stalkers". Está na chuva é para se molhar! Essa postura só alimenta o pior lado do bolsonarismo, aquele que vibra com o "cala a boca" ao repórter.

O melhor remédio para os abusos da imprensa é mais liberdade de expressão. É permitir uma verdadeira pluralidade na mídia, e projetos como o Veritas, que jogam o método do jornalismo contra os próprios jornalistas. Expor sua visão de mundo, seus interesses escusos, seu partidarismo, isso tudo é saudável para depurar a imprensa. Caso contrário, sob o corporativismo, coisas assim passariam batidas:

Reportagem independente ou assessoria de imprensa da ditadura comunista chinesa? Quando lembramos que a Band tem um acordo com a China, que investiu na emissora, a dúvida ganha contornos de certeza. Quem viu o editorial tosco da emissora na defesa do governo chinês em meio a essa pandemia não pode achar que é assim que se faz jornalismo de verdade!

Devemos tomar cuidado também com o avanço do estado nas redes sociais, em nome do combate às Fake News. Projetos como este, defendido pela esquerdista Tabata Amaral, devem ser analisados com muito cuidado:

Isso tem cheiro e cara de censura... todo cuidado é pouco! A esquerda, em nome do combate às Fake News, quer controlar o que pode ou não ser divulgado. E para disfarçar, usa "agências independentes", que costumam ser tocadas por esquerdistas também.

O presidente está no poder e deve ser fiscalizado constantemente. Tem de aprender a lidar com os excessos também, com abusos de militantes disfarçados de jornalistas. Pode denuncia-los, claro, e deve, sempre que se sentir injustiçado. Mas peca pela forma.

Ninguém com inclinação liberal tolera um "cala a boca", a carteirada mais absurda que existe. Isso desperta o lado rebelde em todos nós, o desejo de resistir, lutar por nossa liberdade. E isso vale para um "cala boca" por meio do advogado também, tentando intimidar. Estou aqui para, uma vez mais, expor o duplo padrão hipócrita de parte da mídia...

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