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Minhas leituras de 2015 – e sugestões para presente de Natal
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No antigo blog, postei um texto com minhas leituras de 2014 e os leitores gostaram bastante. Fica como uma espécie de mini-resenhas, como sugestões inclusive de presente de Natal para amigos e parentes. Portanto, lá vai a lista de 2015:

Amsterdam – Ian McEwan

O romance do escritor inglês mescla humor com temas ligados à amizade, à moral e à natureza humana.

Tudo começa no enterro de Molly, quando dois amigos e ex-amantes da falecida se encontram e travam uma conversa. O que se segue é uma espécie de disputa masculina ligada à sexualidade e à virilidade, testando ao limite a velha amizade. Mas esse não é o meu foco aqui. Gostaria apenas de destacar duas passagens do livro, aparentemente desconexas, mas que atacam, pela voz do narrador, o estrago causado pelo welfare state britânico:

Quão prósperos, quão influentes, como tinham todos florescido sob um governo que desprezavam havia quase dezessete anos! Falando da minha geração. Tanta energia, tanta sorte. Amamentados pelo Estado no imediato pós-guerra e depois sustentados pela prosperidade inocente e incerta de seus pais, até chegar à maturidade numa era de pleno emprego, novas universidades, belos livros de bolso, a idade de ouro do rock & roll, ideais passíveis de serem concretizados. Quando a escada desabou sob seus pés, quando o Estado parou de lhes dar de mamar e se tornou esta mãe rabugenta, eles já estavam s salvo, consolidados, prontos a se transformarem em formadores de opinião, de gostos ou de fortunas. (pag. 19)

[…]

Ao cruzar a ponte, se recordou de como Amsterdam era uma cidade calma e civilizada. Fez um longo desvio para oeste a fim de caminhar pela Brouwergracht. Sua mala era bem leve. Que reconfortante, ter um canal correndo pelo meio da rua! Que lugar tolerante, liberal e maduro: os belos armazéns de tijolos e vigas de madeira esculpida convertidos em apartamentos de bom gosto, as modestas pontes de Van Gogh, a discreta mobília urbana, os holandeses inteligentes e de aparência amigável montados nas bicicletas com seus prudentes filhos sentados atrás. Até os lojistas pareciam professores e os varredores de rua, músicos de jazz. Nunca existiu uma cidade organizada mais racionalmente. (pag. 162)

Exageros à parte, até porque já estive em Amsterdam e, apesar de ser realmente um charme, tem lá seus graves problemas, e levando em conta a ironia, proposital ou não, de que tanta racionalidade foi palco do desfecho bastante irracional da trama (não vou estragar a surpresa de quem não leu ainda), o fato é que fica no ar uma crítica velada ao modelo inglês e à geração mimada do pós-guerra, que teve de tudo e não aprendeu a valorizar nada, gozando das benesses “gratuitas” do Estado “papai”.

Artistas e jornalistas “formadores de opinião” paridos diretamente da afluência possível pelo trabalho duro de seus antecessores, mas que desprezam justamente aquilo que torna suas vidas fáceis viáveis. São como crianças mimadas que aprenderam a bater o pé no chão e demandar, como direitos inalienáveis, o pronto atendimento de seus desejos. Parece ou não com a nossa classe artística, acostumada a mamar nas tetas estatais e depois cuspir no capitalismo e na burguesia que os sustenta?

Facial Justice – L.P. Hartley

“O desejo utópico por uma sociedade igualitária não pode ter surgido por qualquer outro motivo que não a incapacidade de lidar com a própria inveja”. (Helmut Schoeck)

A trama: após a Terceira Guerra Mundial, nuclear, quase 90% da população é dizimada, e o restante passa a viver no subsolo. Até que, guiada por uma criança, uma parcela resolve subir à superfície e viver ali, em meio aos destroços e à terra acinzentada que sobrou após a guerra. Eles vivem em um regime centralizador, sob o comando do Ditador, de quem conhecem apenas a voz.

O grande tema do livro é a obsessão pela igualdade. Existia naquela sociedade o E bom e o E ruim, um para “Equality” e o outro para “Envy”. Tudo era feito para evitar o E ruim e para valorizar o E bom. Esse Novo Estado faria de tudo para evitar as velhas causas que supostamente destruíram o mundo antigo. E, para combater a inveja, o Ditador não media esforços: o coletivismo era total e até mesmo as diferenças físicas precisavam ser eliminadas ou mitigadas. Ninguém poderia ser um privilegiado.

Hartley capturou bem o zeitgeist dos anos 1960, e extrapolou as demandas igualitárias ao absurdo, para demonstrar como levariam ao caos. O politicamente correto no uso das palavras também é parte essencial de seu livro, tudo feito para evitar ofensas às sensibilidades alheias. Nos hospitais, por exemplo, todas as pacientes recebiam do Estado flores de plástico exatamente iguais, para que ninguém pudesse se sentir preterida ou menos amada.

Mérito, competição, diferenças, essas eram as palavras que deveriam ser abolidas da língua, em troca da harmonia possível apenas com todos iguais. Aliás, a língua também seria nivelada por baixo, para não gerar constrangimento aos incapazes de maior erudição (soa familiar?). O resultado prático: o reino da mediocridade, sob o comando de um seleto grupo privilegiado. E não é exatamente isso que o socialismo sempre produziu?

A estratégia para derrotar o PT – Maurício Coelho & Cristiano Penido

Recomendo. São apenas 100 páginas que resumem de forma sucinta os principais erros e acertos na campanha do tucano, sustentando como principal argumento a ideia de que Dilma deveria ser atacada, acima de tudo, pela ineficiência na gestão, não pela corrupção ou pelo PT como um todo. Os autores adotam visão pragmática, sem entrar no critério de valor. Estão analisando o que surtiria maior efeito do ponto de vista de votos, apenas isso.

O cerne do argumento é que o antipetismo é forte, mas a intensidade não é suficiente para a vitória: é preciso ter quantidade de votos. E não se conquista os indecisos com base no discurso vago de ética, e sim com mensagens simples que confirmem a sensação no eleitor de insegurança com o presente e despertem o desejo por mudança.

Why the Jews? – Dennis Prager & Joseph Telushkin

Por que o povo judeu é perseguido há tantos séculos? Por que de tempos em tempos os judeus são atacados com tanto furor? Na tentativa de responder essas questões, Dennis Prager e Joseph Telushkin escreveram um excelente livro que recomendo a todos. Trata-se de Why the Jews?, em que os autores procuram explicar a razão do antissemitismo milenar. Para tanto, refutam tentativas modernas de explicar o fenômeno, que negam o fator intrínseco ao judaísmo e partem para motivos exógenos, alegando causas sem ligação com a própria religião.

Para eles, as teses de bodes expiatórios não se sustentam, pois o ódio aos judeus é singular. Outros grupos já foram alvos desse ódio, mas nenhum foi tão permanente, universal e profundo como o antissemitismo. Pensamos no Holocausto mais recente, e também a mais nefasta expressão desse ódio, mas ele está longe de ser um caso isolado. Ao menos em três ocasiões nos últimos 350 anos surgiram campanhas de aniquilação dos judeus: os massacres no Leste Europeu em 1648-49, o próprio nazismo e as tentativas de destruir o estado de Israel por seus inimigos árabes.

Os acadêmicos buscam respostas nos fatores econômicos, na necessidade de bodes expiatórios, no ódio étnico, na xenofobia, no ressentimento gerado pela afluência e sucesso profissional dos judeus, etc. O único fator que não usam para explicar o fenômeno é o próprio judaísmo e o que ele representa. Causas econômicas, como na Alemanha, podem explicar o fermento do ódio, mas não as câmaras de gás. A inveja do sucesso de muitos judeus pode jogar lenha na fogueira, mas não explica o ódio a todos os judeus, inclusive aos pobres, perseguidos em várias épocas e locais.

Em resumo, ao se diferenciar como povo e adotar uma postura de “escolhido” que segue um mandamento moral superior de seu Deus, o único existente, os judeus já estariam sujeitos à hostilidade dos demais. Quando essa singularidade se traduz em maior sucesso social, parece natural que a inveja, presente nos seres humanos de forma atávica, floresça e leve até mesmo ao ódio. Não é apenas o sucesso em si, pois, preservando a analogia com o antiamericanismo, outros países são ricos também, mas poucos estão dispostos a lutar com tanto afinco por seus valores diferenciados e defendê-los com clareza moral. É essa postura que tanto incomoda. Não a do fanático intransigente que, no fundo, é um inseguro e precisa destruir os outros; mas sim aquela de quem sabe lutar pelo que é certo.

Start-Up Nation: The story of Israel’s economic miracle – Dan Senor & Saul Singer

“Os que creem que a culpa de nossos males está em nossas estrelas e não em nós mesmos ficam perdidos quando as nuvens encobrem o céu.” (Roberto Campos)

As terras que compõem hoje o Estado de Israel já foram descritas por Mark Twain e outros visitantes como um grande pedaço de deserto árido. De fato, o deserto de Negev ocupa um razoável espaço no pequeno território de Israel, e basta circular por lá para perceber como é um ambiente inóspito e seco. Não obstante, há, hoje, algo como 240 milhões de árvores no país, a maioria plantada uma a uma, e Israel é produtor e até exportador de frutas.

Tem, ainda, grande produção de peixes. O israelense, num deserto, consome bastante peixe, enquanto o cubano, numa ilha, não tem acesso a tal alimento, sabemos o motivo (a ditadura não permite a pesca com receio de mais fugas para a Flórida). Como pode? Como Israel conseguiu driblar a escassez de água e dar a volta por cima?

Boa parte da resposta se encontra na cultura, na postura dos israelenses. Em Start-Up Nation, os autores Dan Senor e Saul Singer tentam explicar justamente este fenômeno, o “milagre” econômico de Israel, um país que possui um setor dinâmico de tecnologia, um dos mais avançados do mundo, além desse incrível destaque na agricultura em um país geograficamente hostil a tal setor.

Um lugar chamado Liberdade – Ken Follett

Apesar de os conservadores serem pintados de forma bastante caricata pelo autor, que não esconde sua visão política apontada mais para a esquerda, o livro é excelente, e nos remete a uma época em que os liberais tinham uma inclinação mais radical. A figura de John Wilkes, um radical que chegou ao parlamento britânico, permeia a narrativa, assim como a revolta dos colonos liderados por um ainda desconhecido George Washington.

A forma como os mineiros de carvão eram tratados é mesmo revoltante, e a ideia de que a aristocracia era insensível a isso salta em cada linha. Muitos eram mesmo, mas nem todos. E a solução não eram as revoltas sindicais, mas o avanço do próprio capitalismo, algo que o leitor não consegue perceber no livro.

Os índios americanos deixam um sujeito ruim pendurado de cabeça para baixo, sangrando pela mão decepada até morrer. Ken Follett não trata o ato como uma barbárie, mas lembra que os londrinos gostavam de acompanhar em multidões os enforcamentos públicos. Cada um com suas manias. Um certo relativismo cultural também está presente de relance na obra.

Não obstante, o livro é excelente. Afinal, a literatura é o que além de uma ótima história bem contada? E isso Ken Follett sabe fazer muito bem. Uma narrativa que prende, um caso improvável de amor, muitas desgraças e tragédias, mas nada suficiente para apagar a vontade indômita em Mack de buscar sua própria liberdade, de ser livre dos grilhões que o prendem, seja na mina de carvão, seja em Londres como carregador de carvão, seja como condenado forçado ao trabalho escravo na Virgínia. O desejo de liberdade é mais forte do que tudo em Mack!

Mundo em crise – Diogo Ramos Coelho

Quando a bolha imobiliária estourou em 2008, o capitalismo pareceu ficar em xeque, e os velhos profetas do Apocalipse resgataram as previsões catastróficas marxistas sobre o fim do livre mercado. A dimensão da crise, com paralelo apenas na Grande Depressão de 1929, mexeu com crenças e ideologias no mundo todo, e podemos sentir seus desdobramentos até hoje. Um lado acusou o mercado por tudo, enquanto outro tentava mostrar que as impressões digitais dos governos intervencionistas estavam em todas as cenas do crime.

Fugindo de uma visão maniqueísta e reducionista, o jovem diplomata Diogo Ramos Coelho lançou em 2014 um ótimo livro sobre o assunto, provando que os “barbudinhos do Itamaraty” ainda não conseguiram destruir a qualidade intelectual dos que se formam pelo Instituto Rio Branco. O conhecimento dele acerca dos temas econômicos e financeiros é profundo, e sua forma de abordá-los, didática. O livro Mundo em crise: A história da crise financeira, seus impactos nas relações internacionais e os atuais desafios é uma boa aula de finanças, não apenas para os mais leigos.

Com vasta fonte bibliográfica, tanto de um espectro ideológico como do outro, Coelho apresenta ao leitor as teses que sustentam as falhas do mercado como causa principal da crise, assim como o contraponto do lado liberal, inclusive inspirado na Escola Austríaca, que argumenta pelo lado das falhas de governo como epicentro dos problemas. A conclusão do autor não escolhe partido único, e adota uma postura mais realista de que, provavelmente, estamos falando de uma mistura entre as duas coisas.

Pare de acreditar no governo – Bruno Garschagen


O Brasil tem um grande paradoxo a ser explicado: nosso povo desconfia dos políticos, classe que goza de baixíssima credibilidade, mas ao mesmo tempo ama o Estado, visto como abstração. Todas as soluções propostas para as mazelas criadas pelo intervencionismo estatal acabam envolvendo ainda mais Estado. É como se ele fosse formado por anjos celestiais, nunca pelos próprios políticos de carne e osso, tão rejeitados pela população.

A fim de tentar explicar esse enigma, Bruno Garschagen lança pela Record o livro “Pare de acreditar no governo”, cuja orelha tive a honra de escrever. O autor vai buscar na formação de nossa nação as origens do problema, em uma abordagem que dá grande peso ao aspecto cultural da coisa. Com um estilo próprio e repleto de ironia fina, Garschagen analisa essa insistente adoração do Estado pelo povo brasileiro em diferentes épocas, uma adoração inabalável, apesar de revoltas crescentes com os políticos que controlam o aparato estatal.

A resenha continua aqui, na coluna do GLOBO.

Os judeus e as palavras – Amós Oz & Fania Oz-Salzberger

Contando com apenas 0,2% da população mundial e 2% da população americana, os judeus ganharam 22% de todos os Prêmios Nobel, 20% das Medalhas Fields para matemáticos e 67% das Medalhas John Clarke Bates para economistas com menos de 40 anos. Judeus também ganharam 38% de todos os prêmios Oscar para melhor diretor, 20% dos Pullitzer Prizes para não-ficção e 13% dos Grammy Lifetime Achievement Awards.

E o que justificaria tal vantagem? Que segredo cultural seria este? O novo livro do escritor israelense Amós Oz, escrito com sua filha, a historiadora Fania Oz-Salzberger, oferece uma boa dica. Em Os judeus e as palavras, os autores mergulham no grande legado do judaísmo, que não seria apenas ou principalmente religioso, muito menos genético, e sim cultural. No princípio era o verbo, e desde então também. O conteúdo verbal, transmitido de geração em geração, é o que forma esse continuum único, que sempre serviu como cola para unir os hebreus e lhes transmitir certas características interessantes.

Se há uma razão para o relativo sucesso dos judeus, talvez a explicação esteja aí: nessa obsessão pela palavra, nesse incrível legado transmitido por meio da educação. O Povo do Livro, como é dito. No princípio era o verbo. E desde então continua sendo…

Pensadores da Nova Esquerda – Roger Scruton

Meus textos contra Gramsci, Foucault e Sartre com base nesse livro imperdível já foram aglutinados e postados aqui no meu blog novo mesmo.

Professor não é educador – Armindo Moreira

“Nunca deixei que a escola interferisse em minha educação”. (Mark Twain)

Qual é o papel da escola e dos professores? Qual é a distinção entre ensino e educação? Deve o professor assumir um papel de educador, ou sua função é basicamente a de instruir seus alunos com o máximo de conhecimento possível para facilitar seu sucesso no mercado de trabalho?

Estas são questões de fundamental importância, especialmente no momento atual, em que vemos tantos professores se arrogando o papel de educadores, incutindo valores morais (ou imorais) na cabeça de seus alunos, tentando, como colocou o novo ministro da Educação, “conquistar mentes e corações” durante suas aulas.

Historicamente, todo governo autoritário começou tentando enfraquecer a influência da família, instituição que invariavelmente representou um enorme obstáculo às pretensões totalitárias dos tiranos. Usurpar, portanto, o papel de educar os próprios filhos é um objetivo antigo de todo aquele que pretende conquistar o poder e controlar os demais.

Sobre esse assunto, li e recomendo o livro Professor não é educador, de Armindo Moreira. São apenas cem páginas, com algumas pitadas de humor e diálogos entre pais de alunos e diretores ou professores que retratam a mentalidade vigente em nosso país, que confunde instrução com educação.

Mauá: paradoxo de um visionário – vários autores

Excelente livro organizado por Nelson Fossatti que reúne vários textos em homenagem ao bicentenário deste que foi o maior empreendedor que o Brasil já teve. Bela introdução para quem não leu ainda a biografia (imperdível) de Caldeira.

Mentiram para mim sobre o desarmamento – Flavio Quintela & Bene Barbosa

A leitura das 150 páginas é agradável e leve, apesar do tema um tanto complexo. Inúmeras citações percorrem a obra, como as excelentes epígrafes que abrem cada capítulo. O prefácio também merece menção, pois o coronel Jairo Paes de Lira demonstra grande poder de síntese, exortando, ao final, os leitores “a estudar a obra e a utilizar esse arsenal intelectual no renhido combate em que todos temos o dever de engajar-nos por nossa causa comum, que é de uma Pátria livre dos grilhões da covardia, onde cada brasileiro seja dotado de disposição e de meios materiais para exercer a autodefesa, direito natural de todas as gentes”.

Cada capítulo refuta uma típica falácia dos desarmamentistas, tão repetidas pela grande imprensa e pelas ONGs endinheiradas que recebem verbas inclusive do exterior. O uso de meias verdades ou estatísticas distorcidas e espúrias gera um efeito ainda mais perverso, pois uma grande mentira acaba sendo contada para a população de forma mais convincente. Mas a tática é exposta pelos autores e desnuda os mentirosos e suas manipulações. A ignorância, como lembram, é terreno fértil para os sedentos por poder, e o livro é uma munição contra tal ignorância, desfazendo mitos enraizados.

Notas sobre a definição de cultura – T.S. Eliot

Que delícia que é ler Eliot falando sobre cultura! E quão importante é tal leitura em tempos modernos, quando a cultura deu lugar à vulgaridade, à afetação, ao relativismo. Um livro necessário.

O empreendedorismo de Israel Kirzner – Adriano Gianturco


Israel Kirzner é um dos “austríacos” mais importantes e tornou-se citação obrigatória no meio acadêmico quando o assunto é empreendedorismo. Infelizmente, porém, ele permanece um ilustre desconhecido, principalmente do público brasileiro. Eu já tinha escrito uma resenha de seu livro mais importante sobre o assunto, e só posso festejar o lançamento pelo Instituto Mises Brasil de O empreendedorismo de Israel Kirzner, do italiano Adriano Gianturco, professor do Ibmec de Belo Horizonte. Ganhei o livro de presente durante o evento em Passo Fundo, e já terminei a leitura durante o voo de volta.

Com um belo prefácio de Ubiratran Jorge Iorio (uma dobradinha com cores italianas, portanto), o livro resume muito bem o pensamento de Kirzner, da ala mais “moderada” da Escola Austríaca, hoje dividida entre os seguidores de Hayek (Kirzner faria parte dessa ala) e os seguidores de Rothbard, ambos disputando o legado de Mises. Divisões dentro de uma escola de pensamento são normais e até saudáveis, mas o fato inegável é que os “austríacos” têm muito a oferecer aos estudos econômicos, dominados pelomainstream, preso demais às fórmulas, ao conceito de equilíbrio e aos cálculos econométricos.

A resenha continua aqui no blog mesmo.

Da produção de segurança – Gustave de Molinari

Um livrinho minúsculo de tamanho, mas impactante. Adorado pelos anarco-capitalistas, o autor tenta convencer seus leitores de que a iniciativa privada pode muito bem cuidar das leis, da Justiça e da proteção da propriedade privada, o que dispensaria a necessidade de existência do estado. Não é preciso concordar com seus argumentos – eu não concordo – para apreciar o exercício mental (utópico).

A dignidade ultrajada- Kátia Simone Benedetti

We don’t need no education / We dont need no thought control / No dark sarcasm in the classroom / Teachers leave them kids alone / Hey! Teachers! Leave them kids alone! – Pink Floyd

O “pós-modernismo” veio com toda a sua rebeldia contra o “sistema”, contra aqueles valores “burgueses” rígidos da era vitoriana ou do que restara dela. Era chegada a hora de acabar com essa rigidez, com a “palmatória”, com aqueles professores autoritários, com qualquer hierarquia.

Como quase todo movimento, havia alguma legitimidade em suas críticas, pois apontavam para excessos realmente existentes. E como quase todo movimento bem-sucedido, o pêndulo extrapolou para o outro lado. O pós-modernismo virou sinônimo de bagunça, indisciplina, e quem mais sofre com isso são os próprios alunos.

É o que argumenta a professora Kátia Simone Benedetti em seu livro A Dignidade Ultrajada: Ser professor do ensino público nos dias atuais (Barra Livros). Ganhei o livro de presente da própria autora, que escreveu uma longa dedicatória já denotando sua angústia. Em um trecho, ela diz: “Depois de 15 anos na educação, tornei-me uma pessoa absolutamente desesperada em relação ao futuro de nosso país”.

No decorrer da leitura, o motivo fica claro: Kátia defende, com base em sua formação em psicopedagogia com viés darwinista, que a ciência foi abandonada em sala de aula em troca de algum idealismo confortante qualquer, tal como o conceito de “bom selvagem”. Passou-se a ignorar que crianças precisam de limites, de disciplina, e que o professor representa justamente essa função em classe.

Não creio que alguém vá defender a volta da palmatória, nem mesmo o mais reacionário dos conservadores. Mas tampouco é preciso ser careta ou “antiquado” para notar que algo está fora do lugar, que as salas de aula viraram “terra de ninguém”, e que os professores decentes simplesmente não suportam mais ensinar em um ambiente desorganizado desses. É urgente restaurar a disciplina hierárquica dentro da sala de aula!

Educação Física e Regime Militar – Alessandro Barreta Garcia

Com uma bela apresentação escrita pelo professor Ricardo Vélez-Rodríguez sobre Aristóteles, o livro procura resgatar a importância da educação física nas escolas, especialmente durante o regime militar, sempre com base nas tradições que vêm desde os gregos. Segundo o autor, que é mestre em Educação pela Universidade Nove de julho, a esquerda radical, seguindo o marxismo cultural inspirado em Gramsci e na Escola de Frankfurt, tem difamado e destruído esse legado fundamental para incutir valores nos mais jovens.

“Durante os anos do regime militar brasileiro que ocorreram de 1964 a 1985″, escreve Alessandro logo no começo, “a educação física vivenciou seus grandes momentos através da ordem, disciplina, rigor, ética, técnico, rendimento e fair play“. Os autores marxistas não reconhecem isso, e tentam transformar a prática esportiva escolar da era militar em simples instrumento de alienação, o que o autor julga absurdo. Se os comunistas clássicos viam nos esportes um instrumento de propaganda do regime, como em Cuba, na Coreia do Norte, na União Soviética ou na China, os comunistas modernos preferem a tática de desconstruir o esporte, visto como instrumento burguês de alienação.

“Ensinar a não violar os regulamentos é uma das essências do desporto moderno, principalmente do educacional. É preciso, por isso, desviar-se da deslealdade e da brutalidade. É esse o grande exemplo de um desportista”, escreve o autor, que conclui, contra a alegação da esquerda de que a educação física e o esporte são usados como instrumentos de alienação: “Falta-nos um sistema educacional de valor, a longo prazo, independente de ideologias ou de políticas deletérias. O esporte é tradição, é justiça, ética, respeito, coragem e virtude. O esporte é vida, é equilíbrio, é educação de qualidade”.

Concordo. Quando jogava algum jogo com minha filha, ainda pequena, nada me tirava mais do sério do que ela não saber perder, querer desistir no meio porque via que seria derrotada. Eu levava muito a sério aquela lição: ela precisava entender que tal atitude era uma completa falta de respeito com o oponente. O mesmo sobre qualquer tentativa de trapaça: impensável. A vitória não tem valor se for desleal. São ensinamentos ligados ao esporte tradicional. São valores muito em falta em nossas escolas hoje, dominadas pelo marxismo cultural.

Submissão – Michel Houellebecq


O livro Submissão, de Michel Houellebecq, foi divulgado no Brasil como “o mais polêmico do ano”. De fato, mexer com o Islã, mesmo que em ficção, é mexer num vespeiro. Salman Rushdie sabe bem disso, pois foi jurado de morte após Os Versos Satânicos. O escritor francês está tendo que andar cercado de seguranças também. Mas, como bem colocou João Pereira Coutinho em sua coluna na Folha, não dá para compreender muito bem o motivo. Afinal, seu livro é uma espécie de distopia que imagina um futuro próximo (2022) em que os muçulmanos chegaram ao poder na França, mas o que se segue nem é retratado pelo autor como algo caótico.

Pelo contrário: há alguma aceitação resignada ou quase satisfeita nessa “submissão”. O narrador, um professor universitário de meia-idade especializado em Huysmans, acaba encontrando na conversão uma fuga para seu quase niilismo, que o levava a flertar com o suicídio com alguma frequência. Claro, há uma crítica velada no ar, as adesões dos professores são vistas como oportunistas, as possibilidades de se ganhar o triplo de salário e casar com até quatro mulheres, incluindo adolescentes de 15 anos, demonstram o lado podre da coisa. Mas se essa descrição irritou tanto assim os muçulmanos, então é porque não aceitam a visão de um espelho.

A resenha continua aqui no blog.

The Professors – David Horowitz

Horowitz foi marxista e se recuperou da doença mental, tornando-se um importante pensador conservador. Nesse livro, ele disseca mais de cem professores americanos com mini-biografias, mostrando como são, na verdade, militantes disfarçados de professores, poluindo a mente dos jovens com lixo ideológico em vez de ensiná-los a pensar. O relato é assustador, por mostrar como a invasão ideológica avançou nas universidades americanas.

A abolição do homem – C.S. Lewis

Acabei não escrevendo resenha desse pequeno ótimo livro, mas ainda fico ruminando questões interessantes após sua leitura: até que ponto a confiança excessiva na tecnologia e na ciência não minou o lado mais humano na gente? Lewis, como o bom conservador religioso que era, talvez tivesse visão muito pessimista acerca de nossas conquistas científicas, mas o alerta continua bastante válido no mundo atual, em que vários dilemas morais surgem quando alguns valores são deixados de lado.

The Beautiful Tree – James Tooley

Um comovente relato de um pesquisador que foi tentar provar a necessidade de investimentos estatais em países pobres para promover a educação e acabou descobrindo que era o próprio mercado quem cuidava disso de forma muito mais eficiente, com o governo local normalmente atrapalhando. Os “vouchers” parecem uma saída bem mais atraente do que jogar rios de recursos públicos no setor com o governo administrando as escolas.

Por trás da mascara – Flavio Morgenstern

O livro do Flavio é um minucioso estudo sobre os black blocs e as primeiras manifestações que incendiaram – literalmente – o país. Ele mostra como tudo não passou de uma orquestração esquerdista. Minha resenha foi publicada na coluna do GLOBO.

Educação: ajudar a pensar, sim; conscientizar, não – Dom Lourenço de Almeida Prado

Como muitos sabem, estou escrevendo um livro com Miguel Nagib sobre doutrinação ideológica nas escolas, e esse livro do reitor do prestigiado Colégio São Bento, indicação de meu amigo Alex Catharino, foi simplesmente uma fonte inesgotável de argumentos e fatos para atacar o problema. Material farto para quem quer entender melhor o – e reagir ao – avanço dos filhotes de Paulo Freire.

The smartest kids in the world – Amanda Ripley

Eis o mistério: por que alguns alunos aprendem tanto e outros tão pouco? No teste internacional do PISA, mede-se não apenas a capacidade de memorização (decoreba), mas também e principalmente a capacidade de raciocínio, e criatividade, de pensamento crítico. Por que alguns países se destacam nesses testes enquanto outros afundam na mediocridade?

Com essa questão em mente, Amanda Ripley foi atrás de três alunos americanos que foram estudar, respectivamente, na Finlândia, na Coreia do Sul e na Polônia. Ela queria compreender o que esses países faziam de diferente dos Estados Unidos para se destacarem no PISA. Além dos três que ela acompanhou de perto, mais de 200 alunos foram entrevistados. O resultado é o livro The Smartest Kids in the World: And How They Got That Way, que explora as principais diferenças entre os modelos de ensino de cada um desses países.

Minha resenha continua aqui.

Explaining Postmodernism – Stephen Hicks

“O homem que diz que a verdade não existe está pedindo para que você não acredite nele. Então, não acredite.” (Roger Scruton)

Por que a esquerda pós-moderna precisa “desconstruir” tudo, apelar para um relativismo contraditório, afirmando que a verdade não existe, que tudo é questão de opinião? Por que vemos tanto ódio exalando das penas dos principais herdeiros de Marx e Rousseau? O livro “Explicando o pós-modernismo”, de Stephen Hicks, tenta dissecar o fenômeno visível e preocupante.

A resenha foi publicada como coluna no GLOBO.

The Conservative Heart – Arthur Brooks

Por que os liberais e conservadores têm a razão a seu lado, a história e os melhores argumentos, mas tantas vezes perdem os “debates” e os votos? Esse é um paradoxo que acompanha a direita há tempos. Cheguei a “brincar” em várias palestras que nosso departamento de marketing é muito ruim, e há boa dose de verdade nisso. Claro, a luta é desigual, a esquerda coletivista apela para o sensacionalismo, exime o indivíduo de responsabilidade por seus fracassos, promete utopias e privilégios sem esforços. Mas mesmo assim, a direita fracassa na transmissão de seu conhecimento e seus valores, deixando a esquerda monopolizar as virtudes e os fins nobres. Por quê?

O livro The Conservative Heart, de Arthur C. Brooks, presidente do prestigiado American Enterprise Institute, procura responder essa questão, e o faz colocando os próprios conservadores contra a parede. Brooks não alivia a barra de seus pares, e justamente porque acreditam na responsabilidade individual, os conservadores devem parar de buscar bodes expiatórios para seus constantes fracassos eleitorais e verificar o que estão fazendo de errado.

A resenha continua aqui.

End of Discussion – Mary Katharine Ham & Guy Benson

George Orwell descreveu em “1984” o inferno que seria viver num mundo dominado pelo “Grande Irmão”, com um Estado onipresente que invade até nossos sonhos para controlar nossos pensamentos. O que ele não poderia ter previsto é um mundo dominado não por um, mas por milhões de “pequenos irmãos”, todos atentos a cada comentário nas redes sociais, para verificar se estamos seguindo de perto a cartilha do politicamente correto.

Essa patrulha demonstra um grau de intolerância com as divergências diametralmente oposto ao grau de tolerância que alega defender. Os patrulheiros falam em nome das “minorias”, desejam salvar o planeta, combatem todo tipo de preconceito e amam todos, desde que se encaixem exatamente no perfil “correto” que eles mesmos possuem. Desviou uma vírgula, fogo no herege!

Em “End of Discussion”, Mary Katharine Ham e Guy Benson mostram como essa postura está matando o livre debate de ideias nos Estados Unidos, nação formada com base no amplo respeito à liberdade de expressão.

A resenha, publicada no GLOBO, continua aqui.

O que é a Escolha Pública? – André Azevedo Alves & José Manuel Moreira

Muitos apontam as “falhas de mercado” e ganham até Prêmios Nobel com isso. Paul Krugman e Joseph Stieglitz vêm à mente. A realidade é imperfeita, e trocas voluntárias entre seres humanos imperfeitos jamais levarão a algum tipo de perfeição. A reação automática diante de um problema real do mercado é demandar a intervenção estatal: o governo vai resolver as tais falhas.

Mas será que isso ocorre mesmo? Será que, na prática, os governos conseguem resolver essas falhas de mercado? E as falhas do governo? A Public Choice School (também conhecida como Escola de Virgínia), fundada por James Buchanan e Gordon Tullock, colocou o foco nessa questão, ao transportar o estudo da economia para a política.

A resenha continua aqui.

Culture Counts – Roger Scruton

As sociedades ocidentais estariam ameaçadas pelo Islã radical do lado de fora e pelo “multiculturalismo” do lado de dentro, sofrendo uma grave crise de identidade. Esse é o diagnóstico que Roger Scruton faz em Culture Counts, onde defende a tese de que, para o projeto da civilização ocidental perdurar, será preciso conquistar não só as mentes, mas também o coração das pessoas.

Ele admira o experimento americano, filho do europeu, e reconhece seus dois grandes legados para a humanidade: uma democracia viável e o progresso tecnológico. Mas, ao mesmo tempo, acredita que esses benefícios são insuficientes para falar às emoções, ainda que despertem orgulho em seus cidadãos. Apenas essa visão de progresso material não seria capaz de enfrentar o sarcasmo niilista dos críticos internos nem o fanatismo sem humor dos inimigos externos.

É aí que entra, para Scruton, a importância da “alta cultura” da civilização ocidental, sua literatura, as artes e a herança filosófica que vinham sendo ensinados na Europa e nos Estados Unidos há tempos, mas que recentemente têm sido alvos de cada vez maiores ataques, como se fossem apenas instrumentos de opressão dos “homens brancos europeus”.

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JFK, Conservative – Ira Stoll

“Onde quer que a liberdade esteve em perigo, os americanos com um profundo sentimento patriótico sempre estiveram dispostos a encarar o Armageddon e desferir um golpe pela liberdade e pelo Senhor”.

“O caráter americano tem sido não só religioso, idealista, e patriótico, mas por causa deles tem sido essencialmente individual. O direito do indivíduo contra o Estado sempre foi um dos nossos princípios políticos mais queridos”.

“Devemos buscar o equilíbrio orçamental ao longo do ciclo de negócios com excedentes durante os bons tempos mais do que compensando os déficits que podem ser incorridos durante recessões. Sugiro que esta não é uma política fiscal radical. É uma política conservadora”.

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Os dez mandamentos (+ um) – Luiz Felipe Pondé

Não escrevi resenha desse novo livro de Pondé, o que não quer dizer que não tenha gostado. Gostei sim, e muito, como tudo que Pondé escreve. Força boas reflexões, e sua visão da religião, como um “ateu angustiado”, é bem parecida com a minha própria. Há beleza, poesia e muita sabedoria em ensinamentos bíblicos que podem ser aproveitados mesmo por um agnóstico ou ateu, para que não se caia no niilismo.

Liberalism: The Life of an Idea – Edmund Fawcett

O liberalismo, desde o seu nascimento, foi tanto uma busca por liberdade como por ordem. Essa é a tese de Edmund Fawcett em Liberalism: The Life of an Idea, em que sugere quatro pilares básicos do liberalismo: aceitação dos conflitos inevitáveis na vida em sociedade; resistência ao poder estabelecido; progresso material; e respeito ao indivíduo.

Segundo o autor, tais características distinguem o liberalismo de seus rivais do século XIX, o conservadorismo e o socialismo, assim como de seus competidores do século XX, o fascismo e o comunismo. Também o coloca como opositor de candidatos modernos, como o populismo nacionalista e a teocracia islâmica.

Falar de um movimento liberal único já é complicado, uma vez que ele não possui doutrinadores, uma Internacional monolítica, ou profetas como Marx e Engels para os comunistas. Não adota postura de seita fanática. O liberalismo, pela ótica de Fawcett, seria uma busca constante por uma ordem eticamente aceita do progresso humano entre pessoas civicamente iguais sem o apelo ao poder arbitrário.

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Em busca do rigor e da misericórdia – Lobão

O novo livro de Lobão, seu primeiro pela Record, é muito interessante ao mostrar o processo criativo de um artista. Além disso, perpassa as principais questões políticas do momento delicado em que vive o Brasil. Lobão é, como diz seu apelido, um lobo solitário, independente, que enfrenta a maré vermelha homogênea (e cafona) da patota organizada. Suas novas músicas, e como foram paridas, dão um toque todo especial ao livro.

Russell Kirk: O peregrino na terra desolada – Alex Catharino

“[Eu] diria que Kirk foi um filósofo atento à vida com os transcendentais do Belo e do Bem, e que essa atenção se materializava tanto na sua escrita quanto no seu olhar sobre o mundo. Kirk pensava de modo elegante, argumentava de forma delicada, defendia o mundo porque ele é belo e bom”.

Se até mesmo Luiz Felipe Pondé, que flerta com frequência no niilismo (mas sem cair nele), reconhece esse poder de enaltecer o mundo belo e bom que tinha Kirk, como escreve na introdução de Russell Kirk: o peregrino da terra desolada, escrito por Alex Catharino, é porque o filósofo americano era mesmo capaz de tornar o mundo mais bonito, apesar dos pesares.

O livro de Catharino é um ótimo resumo introdutório para quem quer conhecer mais a vida e as ideias de Kirk – e creio que todos deveriam querer isso. Seus livros The Conservative Mind e A Política da Prudência foram importantes influências recentes em minha formação intelectual. Catharino conseguiu sintetizar muito bem as principais ideias do pensador, assim como sua postura diante da vida, reflexo dessas ideias.

A resenha continua aqui.

Homo Sovieticus – Alexander Zinoviev

Já tinha lido muita coisa sobre o comunismo, mas quando Olavo de Carvalho disse que ninguém pode debater sobre comunismo antes de ler esse livro, tive que comprá-lo – em sebo virtual. Decepcionou-me um pouco. Sim, tem passagens engraçadas, e outras interessantes para mostrar o modus operandi dos comunistas, sua “moral” – ou sua amoralidade, as táticas de espionagem e de descrédito para anticomunistas. Mas confesso que não agregou tanto assim.

No fio da navalha – José Júnior & Luis Erlanger

Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança. – Alerta na entrada do Inferno de Dante

O livro é bom e recomendo. Escrito pelo jornalista Luis Erlanger após inúmeras conversas gravadas, a biografia de José Júnior, fundador da ONG AfroReggae, confunde-se com a história do crime no Rio de Janeiro, por alguém que viveu os principais momentos de dentro, não como cúmplice, mas como um mediador em busca de “almas resgatáveis”.

O trabalho de Júnior e da AfroReggae retirou várias pessoas do mundo do crime. É um empreendedorismo social louvável, que contou com o importante apoio do grupo Globo, segundo o próprio. Levar música e cultura para onde antes só havia miséria e tráfico de drogas representou uma iniciativa admirável com o poder de mudar, para melhor, muitas vidas. Mas Júnior não alivia a barra dos bandidos:

Eu não fico: “Pô, cara. Eu te entendo…” É assim: “Tenho que entender? Você mata os outros e tenho que entender? Vende drogas para crianças e tenho que entender? Você fode a vida dos outros e tenho que entender?” É assim que faço mediação.

A resenha continua aqui.

The Silent Revolution – Barry Rubin

A esquerda radical tomou conta da cultura, chegou ao poder, e você não só não notou isso como a chama de “moderada”. Isso aconteceu inclusive nos Estados Unidos, outrora bastião da liberdade individual.

Ocorreu em quatro estágios: o radicalismo tomou de assalto o “liberalismo”; o novo “liberalismo” pintou seu único oponente como sendo um conservadorismo reacionário; o radicalismo passa a representar tudo que há de bom no mundo e a correção de tudo que havia de ruim; os radicais têm o monopólio da verdade para fundamentalmente mudar o mundo.

Essa é a tese de Barry Rubin em Silent Revolution, em que explica como a esquerda dominou a cultura e a política na América. O exercício retórico para tanto foi um malabarismo bem contraditório: os “progressistas” clamam para si o mérito de tudo que há de positivo nas conquistas ocidentais, ao mesmo tempo em que afirmam que o Ocidente é basicamente malvado. Escravidão, exploração, miséria, injustiças e preconceitos: assim é descrita a trajetória ocidental, ignorando-se que tais coisas sempre existiram no mundo e que foi o próprio Ocidente, com suas democracias liberais, que mitigou bastante esses problemas.

A resenha continua aqui, na Gazeta do Povo.

Número Zero – Umberto Eco

Terminei o novo livro de Umberto Eco, Número Zero, neste domingo, e fui verificar o acompanhamento das manifestações a favor do impeachment pela imprensa nacional. O livro retrata justamente um jornal manipulador, como quase todos, segundo o narrador, ele mesmo um jornalista “perdedor”. A analogia é inevitável.

A mando de um empresário rico que pretende entrar no “clube seleto” dos donos de jornal, pois queria mais poder e influência, um editor-chefe é contratado para montar uma equipe e preparar o lançamento de um futuro jornal, chamado “Amanhã”. Só que tudo não passa de uma farsa, para pressionar o fechado clube a aceitá-lo, sob a ameaça de mais um competidor na praça caso contrário.

A “resenha” (é mais uma analogia com a situação atual no Brasil) continua aqui.

Roger Ailes: Off Camera – Ze’ev Chafets

Quando comecei a repetir a pergunta “onde está a Fox News do Brasil?”, para mostrar que faltava – e falta – um canal na grande imprensa com uma postura mais independente e conservadora, meu amigo José Fucs, grande jornalista da “Época”, recomendou a leitura dessa biografia do homem por trás do surgimento e do sucesso da Fox News americana. Ele convenceu Murdoch a colocar quase US$ 1 bilhão num projeto ousado, mas cujo resultado foi estrondoso. Afinal, ela veio atender a uma demanda reprimida de nada menos do que metade da população, antes órfã de um canal que não fosse “progressista” como todos os outros. Soa familiar? E onde está, então, a Fox News do Brasil?

Bem, esses foram os 40 livros mais relevantes. Li alguma coisa sobre homeschooling também, mas não merece menção, e um livro de Paulo Freire, pois sigo a máxima de Sun Tzu em “A arte da guerra”: é preciso conhecer meus inimigos. De fato, ler Freire é dose para leão! Mas são os ossos do ofício.

Espero ter colaborado com boas dicas, e fecho com uma boa sugestão de presente de Natal: meus dois cursos na Kátedra com um belo desconto!

Rodrigo Constantino

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