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As universidades nunca tiveram tanta diversidade étnica e cultural. Não obstante, a obsessão dos “progressistas” está em expandir ainda mais essa diversidade, como se a fiel representação da população em geral ali dentro, com base em raça ou gênero, fosse um fim em si mesmo. Com isso, uma cultura coletivista racial, alimentada pela vitimização dessas “minorias”, tomou conta dessas universidades, com graves efeitos na qualidade do ensino.

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É o que mostra Heather Mac Donald em The Diversity Delusion. Heather é autora de War on Cops, livro que disseca a narrativa oca “progressista” sobre a criminalidade, com base nas falácias do Black Lives Matter, movimento que tem instigado a tensão racial no país. Por conta disso, a autora conhece bem o atual clima de intolerância nas universidades: foi alvo de protestos violentos que demandaram escolta policial para garantir sua segurança. Isso num ambiente que deveria fomentar a liberdade de expressão.

O que ela argumenta no novo livro é que os alunos universitários cada vez mais apelam para a força bruta, às vezes a violência criminosa, para calar as ideias de que não gostam. Quando palestrantes conservadores necessitam de proteção policial para falar, e muitas vezes nem assim conseguem, isso deveria acender um alerta geral de que alguma coisa deu muito errado nas universidades. E há método nisso: o objetivo é impedir que intelectuais dissidentes se conectem aos alunos para preservar o monopólio do pensamento esquerdista.

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O marco da civilização ocidental é o compromisso com a razão e o argumento. A grande conquista do Iluminismo europeu foi obrigar que qualquer forma de autoridade tenha que se justificar com base em argumentos racionais, em vez de pura coerção. Nas universidades, isso tem sido cada vez mais suprimido por uma censura escancarada. Se ela não for combatida agora, perderemos um precioso legado, e uma forma de totalitarismo poderá se tornar a nova norma na América (desnecessário dizer que tudo que se passa nas universidades americanas é uma realidade ainda pior no caso brasileiro).

Os alunos chegam às universidades sem conhecimentos básicos sobre a história, e aprendem que a herança ocidental é sistematicamente racista e machista. Todo esse discurso alimenta a vitimização das “minorias”, que passam então a apelar para todo tipo de autocomiseração. Em vez de desfrutar do rico ambiente intelectual de que dispõem, e que por si só já é restrito, esses jovens acabam adotando uma postura derrotista e carregam esse fracasso nos ombros quando saem de lá para a vida. Eles precisam parar de sentir pena de si mesmos e aceitar que são privilegiados só por estarem ali.

Qualquer reitor que permite a criação de “locais seguros” no campus contra as supostas “microagressões” já perdeu a condição de preservar o verdadeiro sentido de uma universidade. Alguns argumentam que isso é o resultado de uma geração protegida demais, mimada pelos “pais helicópteros”, mas Heather discorda: se fosse apenas isso, os homens brancos também bancariam as vítimas e pediriam ajuda. Há o fator psicológico da geração “flocos de neve”, sem dúvida, mas a autora acrescenta o fator ideológico: no centro de tudo está a visão de que a cultura ocidental é racista e sexista.

Essas universidades ensinam os jovens a se enxergar como oprimidos. Ganha mais pontos na escala de vitimização quem consegue marcar mais quesitos de minoria. Uma mulher negra e lésbica, por exemplo, tem mais “direitos” do que um homem gay. Cria-se uma disputa para ver quem conquista o lugar de mais oprimido, o que lhe dará vantagens profissionais e a blindagem contra críticas, por conta do seu “lugar de fala” privilegiado. Não se discute mais o que é dito, mas apenas quem o disse.

O politicamente correto interessa a quem quer calar o debate por falta de argumentos. É uma forma velada, ou nem mais tão velada assim, de intimidar o oponente. Então se rotulam as supostas malignas intenções — ele é racista, machista, homofóbico, xenófobo — para não ter de rebater aquilo que se diz. Ataca-se o mensageiro para não ser preciso responder à mensagem.

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Há também, como mostra Heather, o puro oportunismo. Um enorme aparato burocrático foi criado só com o intuito de aplicar a “diversidade” nas universidades. Cada vez mais gente vive desse esquema. As universidades gastam rios de dinheiro só para atender à pressão desse discurso, que faz vítimas reais, como alunos que foram expulsos por acusações falsas e absurdas. A “cultura do estupro”, uma histeria fomentada pelo movimento feminista, mereceu um capítulo inteiro, rebatendo várias falácias disseminadas.

Claro que na área de humanas essa visão “progressista” fez um estrago bem maior. Mas nem as ciências exatas escaparam. A obsessão por “diversidade” vem forçando uma redução do nível de exigência nos testes, assim como uma troca de questões objetivas por outras mais subjetivas. E não importa se existem diferenças inatas entre homens e mulheres, ou se seus interesses não necessariamente se equivalem. É preciso ter uma quantidade igual de homens e mulheres, ponto. Óbvio que essa demanda não existe em cursos onde já há grande predominância feminina, expondo a hipocrisia da turma. Mais de 80% dos médicos residentes em obstetrícia e genecologia são mulheres, por exemplo, mas ninguém reclama. Por que será?

Tudo isso tem consequências drásticas não só para a qualidade do ensino, mas para o futuro da América. Esses alunos vão para cargos importantes, pois estamos falando das universidades da “Ivy League”, como Harvard e Yale. No mais, reduzir os padrões para combater o sexismo fantasma e o suposto racismo endêmico é algo um tanto imprudente num mercado global competitivo e implacável. Impulsionada pela meritocracia sem remorso, a China está alcançando rapidamente os Estados Unidos em ciência e tecnologia. A política de identidades é um luxo caro demais que a elite culpada abraçou.

Ao invés de emergir das universidades com mentes ampliadas e informadas pelo melhor que a herança cultural tem a oferecer, os estudantes cada vez mais se fecham em bolhas de reclamações e queixas, grupos definidos pela vitimização. Heather conclui deixando duas perguntas incômodas no ar: quem, além de uma vasta burocracia administrativa, se beneficia com essa situação? E o que irá substituir o que foi perdido?

Artigo originalmente publicado pela Gazeta impressa

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