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O gigante paspalhão
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Ainda me lembro como se fosse ontem. Toda a euforia, um clima de micareta fora de época, gente que nunca levantou a bunda da cadeira, nunca mexeu uma palha em prol do avanço da liberdade no país, sentindo-se o maior guerreiro de todos, condenando com virulência os céticos “acomodados”. Eram as manifestações de junho de 2013. “O gigante acordou”, bradava a turba ensandecida. Fiquei com a minoria dos céticos, escrevendo alertas sobre aquele suposto despertar.

Mas contra o que estão protestando afinal?, perguntavam os que mantinham os pés no chão. Contra tudo e todos, contra o “sistema”, respondiam os que mantinham também os “pés” no chão — os quatro. Nada como um sentimento difuso de revolta para dar vazão a um movimento “espontâneo” que servirá apenas para demandar mais estado em nossas vidas, ou seja, mais do veneno que causou os problemas para começo de conversa.

Recordar é viver, e o livro que Flávio Morgenstern acaba de lançar pela Record sobre esses eventos é simplesmente imperdível. “Por trás da máscara” não fala apenas dos black blocs, dos vândalos mascarados, das manifestações de junho; é um verdadeiro tratado sobre os métodos revolucionários dos radicais de esquerda, com profunda pesquisa sobre o assunto, ao contrário dos “especialistas” palpiteiros convidados para dar entrevistas na televisão, nossos “sociólogos” de plantão.

O que o autor mostra é que, por trás das aparências inocentes, há um método bem claro, orquestrado por comunistas que desejam destruir o capitalismo. Paranoia da direita? Teoria conspiratória? Antes fosse. A fonte para tais conclusões são os próprios militantes, suas estratégias deliberadamente expostas para quem quiser ver. O problema é que poucos querem ver. A maioria, especialmente de jornalistas, prefere a cegueira voluntária, para preservar a narrativa de luta de classes, de opressores e oprimidos, de jovens idealistas lutando por “justiça social”.

Nada de novo sob o sol. Como mostra o autor, o movimento “Occupy Wall Street” seguiu o mesmo roteiro, e serviu como balão de ensaio para os revoltosos tupiniquins do Fora do Eixo e do Movimento Passe Livre. Na Espanha, o “Indignados” pariu o Podemos, um troço ligado ao tráfico de drogas venezuelano que agora chegou ao poder. Parabéns, libertadores!

A extrema-esquerda, que chama tudo que não é socialismo de “extrema-direita”, ignorando como esta é semelhante àquela, não costuma ter muitos votos em eleições. Mas faz um barulho imenso, desproporcional ao seu tamanho, e com isso consegue criar pautas e influenciar acontecimentos políticos. Para atrair as multidões às ruas, jamais pode abrir o jogo com suas bandeiras radicais. Por isso, a importância das causas difusas. Seus planos permanecem ocultos do grande público, que acaba dando respaldo aos jacobinos infiltrados.

Manifestações pacíficas que acabavam em violência por conta de uma minoria de baderneiros: quantas vezes vimos essa explicação na imprensa? Mas a baderna era parte da tática de ação. O confronto com a polícia era uma necessidade, justamente para chamar a atenção da maioria e permitir a narrativa de vítimas contra uma entidade “fascista”. Tudo arquitetado com zelo e esmero pelos seguidores de Zizek e companhia. A principal batalha que eles querem vencer é a da “infowar”. É assim que conquistam os sentimentos do povo, manipulando-os em prol de sua agenda totalitária.

A grande farsa é crer que tais “movimentos sociais” são espontâneos e independentes, enquanto são todos dirigidos pelas mesmas figuras de sempre, aqueles velhos marxistas e seus jovens papagaios que enchem os diretórios estudantis e os partidos de extrema-esquerda. “Movimentos rebanhistas são sempre feitos para aumentar o poder do Estado sobre os indivíduos, nunca o contrário”, diz o autor. E busca inspiração nos que entendem do assunto, nos que analisaram em detalhes a psicologia das massas.

Os mascarados são totalmente desnudados na obra, e por trás do sorriso irônico de Guy Fawkes, popularizado em “V de Vingança”, do “anarquismo” rebelde dos revolucionários idealistas, inspirados em “intelectuais” e artistas burgueses, resta apenas o mesmo comunismo niilista de sempre, pregado por filhinhos de papai da esquerda caviar, aqueles que lutam “por um mundo melhor”, mas que são incapazes de arrumar o quarto ou lavar a louça.

Vários mandatos seguidos de PT no poder, escândalos de corrupção para todo lado, populismo à solta, e o povo nas ruas para condenar o “sistema”. O gigante não passava de um paspalhão por cair nessa. Será que dessa vez acorda?

Resenha publicada originalmente no GLOBO

Rodrigo Constantino

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