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As falas do governador eleito Tarcisio Gomes de Freitas geraram muita polêmica esta semana. O ex-ministro de Bolsonaro disse não ser um bolsonarista raiz, e ainda teve encontro amistoso com figuras que passaram a representar a maior força inimiga da direita no país.

Claro que a revolta nos meios bolsonaristas foi imediata, e Tarcisio passou a ser alvo de muitas críticas pesadas. Por outro lado, recebeu alguns afagos da mídia esquerdista, o que sempre acende uma luz amarela. Tarcisio é aquela "direita permitida" para os jornalistas. Mas ele é mesmo alguém de direita?

Eis o ponto aqui: Tarcisio tem formação de tecnocrata, atuou no DNIT, foi do governo Dilma, e graças a Bolsonaro - como ele mesmo confessou várias vezes - pode virar um ministro com ampla autonomia para gerir sua pasta com eficiência. Mas ele nunca se manifestou sobre seus pensamentos ideológicos.

E não há mal algum nisso. O cargo que Tarcisio vai ocupar exige eficiência de gestão, pragmatismo, senso prático, capacidade de diálogo e disposição para ceder. Sua prioridade não é engajamento em rede social ou participar ativamente da guerra cultural - isso fica mais para os parlamentares. No Executivo, ele tem que entregar resultados concretos, ponto.

Essa postura pragmática decepciona quem quer vê-lo travando batalhas ideológicas, peitando a esquerda, enfrentando a mídia militante. Mas cabe aqui compreender que cada um deve exercer um papel distinto. Romeu Zema foi reeleito no primeiro turno em Minas Gerais por se mostrar um gestor eficiente e pragmático, ainda que discreto em temas mais polêmicos e ideológicos. Nada errado nisso.

Acredito que o grande erro de alguns bolsonaristas é não entender a divisão de funções nessa guerra. O papel de quem lidera a guerra cultural é fundamental, até porque a maior ameaça esquerdista, a longo prazo, vem dessa seara. Mas isso não quer dizer que todos devam viver imersos nesse campo de batalha diariamente. O papel do soldado não é o mesmo do general, e a função do marinheiro tampouco é igual a do piloto de caça.

Quem esperava de Tarcisio um substituto de Bolsonaro estava misturando as coisas. Muita gente criou essa narrativa: Bolsonaro reeleito, depois Tarcisio presidente por duas vezes, e o Brasil teria jeito. Talvez, mas cada um teria um papel diferente.

Tarcisio não é um conservador disposto a combater a esquerda na esfera intelectual. Não é seu perfil. O que não quer dizer que ele não possa ser um ótimo governador - ou mesmo presidente. Ou que a guerra cultural seja desimportante - não é, e basta pensar qual o espaço restante para bons gestores numa Venezuela ou mesmo Argentina da vida.

Cada macaco no seu galho, eis o ponto. O equívoco é achar que macaco é leão. São bichos diferentes, só isso. E cada um tem lá suas virtudes, seus méritos e sua contribuição a dar - desde que não se espere que o macaco atue como o leão e vice-versa.

Em tempo: Tarcisio pode até ser "pragmático demais" pela ótica bolsonarista, mas cá entre nós: Bolsonaro poderia ter sido mais pragmático inúmeras vezes também, evitando certas batalhas desnecessárias ou agindo de forma mais sábia diante dos inimigos.

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