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Política em defesa da família
A ex-secretária da família de Bolsonaro, Angela Vidal Gandra Martins| Foto: Divulgação/Faesp

Ex-secretária nacional da Família do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a advogada e jurista Angela Vidal Gandra Martins não para. Com o entusiasmo de quem vive por ideais e a intelectualidade de quem cresceu em um ambiente voltado à erudição, a filha dos advogados Ruth e Ives Gandra Martins, um dos maiores juristas do país, está alicerçando no estado de São Paulo a continuidade do trabalho em defesa da família que exerceu no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de Damares Alves, cargo do qual foi exonerada no dia 30 de dezembro de 2022.

"Deixamos uma semente bem plantada", diz ela ao ser questionada sobre a forma como os quatro anos de trabalho no governo federal foram desfeitos após a posse do governo Lula. Angela comemora a forma como a pauta em defesa da família passou a se destacar em diversas secretarias estaduais e municipais pelo Brasil afora e como é procurada pelos municípios para repercutir os programas de fortalecimento de vínculos familiares que eram feitos no governo Bolsonaro.

Gerente jurídica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), ela está levando o fortalecimento de vínculos familiares para as mulheres do agro no estado e firmará oficialmente na semana que vem uma parceria técnica com a Secretaria de Políticas para a Mulher do governo Tarcísio de Freitas. Trata-se do programa Semeadoras do Agro, que completou recentemente um ano e tem o objetivo de estimular o empreendedorismo e capacitar mulheres do agronegócio nos 645 municípios de São Paulo.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Angela falou sobre os planos para o estado de São Paulo e como está trabalhando à nível internacional para manter a força do Genebra Consensus Declaration, um acordo firmado durante os governos Bolsonaro e Trump que visa manter a autonomia dos países em políticas pró-vida e em defesa da família.

O trabalho em defesa da família feito pela Secretaria durante o governo Bolsonaro está preservado de alguma maneira pelo governo Lula?
Tudo o que a Secretaria da Família estava fazendo no governo Bolsonaro mudou. A única coisa que ainda estamos tentando preservar, mas ainda não conseguimos, é o programa Famílias Fortes no âmbito da atual Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) do Ministério da Justiça, que trabalha a prevenção para o comportamento de risco.

Como a senhora avalia as mudanças feitas no Ministério da Mulher pelo governo Lula?
O novo governo entrou com uma animosidade muito grande, considerou tudo uma herança do outro governo e não pensou no benefício à ponta que nossos programas poderiam estar ocasionando. Isso não é pensar no bem comum. É uma pena, tiraram todo mundo do Bolsonaro e ao mesmo tempo descontinuaram a política pública que era bem avaliada. Aproveitamos muita gente da outra gestão quando entramos, porque precisamos de quem entende e aprender a dialogar. Colocaram pessoas que não têm a tecnicidade daquele cargo, mas apenas compartilham daquela ideia. Já em relação às políticas em defesa da família e da mulher, vieram com uma ideologia que defende a mulher como oposição. É muito triste também as mudanças no Ministério da Saúde, tiraram todas as iniciativas pró-vida.

Como os projetos em defesa da família feitos pela Secretaria da Mulher durante o governo Bolsonaro estão sendo continuados, apesar da extinção da pasta?
Toda política pública familiar tem, por excelência, o único objetivo de fortalecer o vínculo familiar. Não é assistencialismo ou dar coisas para a família, mas ajudá-la a estruturar suas relações para fortalecê-las economicamente e socialmente. São desafios como equilíbrio trabalho e família, tecnologia na família, tudo visando um melhor vínculo familiar. Tenho a gratidão de ter trabalhado muito com os municípios e bem ou mal as políticas públicas não vão ser descontinuadas neste âmbito. Os municípios estão levando, por exemplo, o Programa Famílias Fortes. Eu e minha equipe somos procurados e conseguimos passar a ideia do programa, temos os backups e oferecemos o que está na internet. A avaliação do programa pela Unifesp foi muito positiva.

Como os programas estão sendo implementados nas cidades e estados?
Durante nossa gestão surgiram muitas secretarias da família, como recentemente no governo de Santa Catarina e no município de Barueri. Algumas estão sendo constituídas, como é o caso de Osasco. A política chegou no coração dos municípios, eles tornaram a família uma política transversal na educação, na assistência social, na saúde mental, tudo isso foi levado como conscientização.

Vimos que as famílias se fortaleceram e passaram a ter voz para lutar pelo que elas queriam, começaram a ir na escola e falar o que querem para a educação dos seus filhos.

Percebemos que os maiores agentes dos dramas das famílias são os pais que não dão atenção devida aos filhos porque estão em uma vida virtual e laboral intensa. Conseguimos deixar nossa marca e através de várias secretarias da família levar nossos programas para todos os estados do Brasil, tanto o Famílias Fortes quanto o Reconecte, de conscientização sobre o acesso a conteúdos dos filhos na internet. Somos super procurados para continuar levando esses programas nas escolas.

Quais são os planos de defesa da família para o estado de São Paulo?

Quero manter esses projetos como política pública para o setor privado, onde nós até temos mais liberdade para fazer, as pessoas têm vontade, não há competitividade e interesse político. Vejo que a Faesp, da qual sou gerente jurídica e de relações institucionais, tem retidão e quer mesmo oferecer tudo isso para a ponta. Vamos ajudar muitas famílias através do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), braço de educação da Faesp. Durante a pandemia, a agricultura familiar se mostrou uma vertente essencial e queremos alavancar o agricultor familiar, dar maior segurança alimentar para o Brasil e para o mundo e fazer isso através do fortalecimento de vínculos. Vejo que esse é um caminho de erradicação de pobreza no campo.

Como isso pode ser feito?

Muitas vezes as pessoas pensam que a pauta da família é moral religiosa, mas é uma pauta de filosofia política porque o caminho da erradicação da pobreza começa na família.

Aristóteles falava que a economia está dentro da família, ou seja, a economia começa na família, as pessoas trabalham pela família e se projetam pela família. Já estamos trabalhando com o fortalecimento de vínculos e com a projeção da mulher do agro a partir da família, não com oposição, mas com composição. Que ela também seja coprovedora, coprodutora, coeducadora. Vamos trabalhar essa pauta junto com a Sonaira Fernandes, que está na secretaria da Mulher do governo Tarcísio, e assinar na semana que vem um acordo de cooperação técnica no programa Semeadoras do Agro, que em um ano atingiu 2,5 mil mulheres.

Como essa parceria funcionará na prática?
Muitas vezes a gente prescinde da formação humana e vai direto para a formação prática, e a pessoa não sabe nem qual é o fim dela, o que ela está fazendo e porque ela está fazendo, o que a deixa sem uma motivação que a leve a permanecer e crescer no projeto. O Senar dá essa formação humana. Apresentamos na semana passada o programa Famílias Fortes, que tem uma metodologia que trouxemos de Oxford e consiste em sete encontros com famílias e filhos para fortalecer o vínculo. Tudo o que falamos vai ser levado em formação para as famílias do agro. Abordaremos programas de empreendedorismo, de relações humanas e de sucessão familiar, porque há casos em que a mulher perde a terra e acaba saindo do negócio por desconhecimento. Abordaremos também a própria violência, como se defender. O Semeadoras do Agro é a formação da mulher para que ela possa ter capacidade, autonomia econômica e ser projeção tanto para fora quanto para dentro, exercendo seu papel na família, tendo o seu reconhecimento e espaço no agro.

A senhora teve um importante papel na criação da Declaração de Consenso de Genebra (Genebra Consensus Declaration). Como a retirada da assinatura do Brasil pelo novo governo pode enfraquecê-la?
Essa declaração nasceu em 2020 durante a administração pró-vida e em defesa da família de Bolsonaro e Trump, então chefes de dois países de dimensão continental que defendiam esses valores. Quando o Trump saiu, o Biden tirou os Estados Unidos da declaração e o Brasil virou o secretariado do Genebra Consensus. Quando perdemos as eleições no Brasil, ofereci de passar para a Hungria o secretariado que o Brasil tinha na Declaração. No ano passado celebramos em Washington dois anos do Genebra Consensus, fiz o meu discurso no Senado e já passamos para o embaixador em missão na Hungria nos representar. Mas independentemente disso, abrimos o Genebra Consensus, que antes só podia ser representado por estados, para pessoas físicas, parlamentares, acadêmicos de escolas e ONGs. Percebemos que o mundo é pró-vida e trabalha em defesa da família, e que é muito dinheiro de fato dedicado às pautas abortistas, de separação da família, do narcotráfico.

Na semana passada, a deputada federal Carla Zambelli esteve na ONU para defender a Declaração. Como esse trabalho continuará?
A deputada Carla Zambelli nos representou e falou sobre a importância do Genebra Consensus. Queremos continuar trabalhando na esfera internacional e agora no CSW, que é a Comissão sobre a Situação da Mulher na ONU. Vamos continuar buscando aliados e organizando eventos para esclarecer o que acontece na ONU e nos organismos internacionais, que defendem pautas que são utilitaristas e tornam o ser humano um meio para outros fins.

Existe de verdade uma instrumentalização muito grande. As pautas da ONU só andam com dinheiro e isso é claríssimo porque ouvi de pessoas que trabalham na organização em Nova York.

Existe poder atrás de pautas como aborto, educação sexual nas escolas, mudança de sexo, que são coisas que eles reconhecem como direito do estado. Os laboratórios ganham horrores, tem muito dinheiro da hipersexualização, da indústria LGBTI e do narcotráfico nessas agendas. Nós não estamos dando dinheiro para nada, mas acredito na capacidade do ser-humano em ser humano, então não consigo ficar pessimista. Precisamos fazer um trabalho hercúleo de informação, mas não temos tanto dinheiro para chegar em tantos lugares onde gostaríamos de chegar. Ouvimos as pessoas falarem "ah, vocês construíram um trabalho durante quatro anos e de repente tudo se foi". Não se foi, a semente está bem plantada.

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