Fábrica da ABB, empresa de tecnologia e inovação industrial em Sorocaba| Foto: Edson Lopes Jr/A2 Fotografia
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Dados da Pesquisa Industrial Mensal, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que nos últimos 10 anos, até fevereiro de 2023, a indústria no estado de São Paulo encolheu 19%, acima no número nacional, de 14,6%. São Paulo é o quarto estado com maior desindustrialização no período, depois de Espírito Santo, que teve queda de 35%; Bahia, de 30,3%; e Ceará, de 23,9%.

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“São Paulo é o principal motor da indústria brasileira e responde por cerca de um terço de toda a produção nacional. Por isso, a desindustrialização no estado acaba sendo uma fotografia do que ocorre no país como um todo”, diz Igor Rocha, economista-chefe da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp).

O Brasil vem se desindustrializando desde a década de 1980, o que é altamente prejudicial para a economia nacional.

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Afinal, o setor gera muitos empregos ao longo da cadeia produtiva e os itens comercializados possuem maior valor agregado, sendo seu desenvolvimento fundamental para um país conseguir fazer a transição para um país rico.

No Brasil, no entanto, diversos fatores fizeram com que o país sofresse o que Rocha chama de “desindustrialização precoce”, ou seja, a participação da indústria na economia diminui antes mesmo que atinja um grau de amadurecimento maior. “É muito difícil um país se tornar rico se sofrer esse processo de desindustrialização precoce, porque ocorre outro processo, que é a armadilha da renda média, fica travado nisso. Isso é um pouco o que está acontecendo com a economia brasileira”, diz ele.

A Gazeta do Povo ouviu especialistas que apontaram seis causas da desindustrialização:

1. Complexidade tributária

Um dos principais fatores apontados por especialistas por travar o desenvolvimento da indústria é a complexidade da cobrança de impostos. Nesse sentido, a expectativa sobre a reforma tributária é alta, principalmente pela desburocratização que deve trazer.

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“Quando falamos em desindustrialização, uma boa parte está relacionada a componentes fora das fábricas e à dificuldade de se operar no país. A mais óbvia delas é o viés do regime tributário, a reforma vai ser muito importante para gerar um choque exógeno em produtividade da economia e reduzir o viés anti-indústria do nosso sistema de cobrança de impostos. Isso, hoje, é uma condição necessária”, diz Claudio Roberto Frischtak, presidente da InterB e ex-economista para indústria e energia do Banco Mundial.

2. Incentivos governamentais

Para Paulo Roberto Feldmann, consultor e professor de Economia da USP, o governo brasileiro precisaria de uma política industrial que defina quais são os setores prioritários para o país e que receberão incentivos governamentais, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa.

“Não temos política industrial desde o governo militar, porque depois disso acreditou-se que o mercado resolve tudo, mas ele resolveu a favor das empresas estrangeiras e destruiu as nacionais”, diz ele. “Somos o país com maior exposição à energia solar do mundo, mas não fabricamos o equipamento mais importante que é o coletor solar. Nunca houve um plano do governo para estimular a fabricação nacional”, complementa.

3. Investimento em infraestrutura

Outro ponto para o desenvolvimento da indústria é o investimento em infraestrutura, como transporte, energia elétrica e saneamento básico. A área de transporte, por exemplo, é fundamental para facilitar a logística tanto de matéria-prima e componentes que precisam ser comprados pelas empresas paulistas em outros estados quanto do envio de itens produzidos nelas.

“Uma das questões mais sérias da indústria é o transporte, o Brasil não tem transporte ferroviário. Podem até dizer que São Paulo tem, mas os outros estados não. Somos muito dependentes de caminhão, sendo que nenhum país do mundo ainda é assim, nem a Argentina. Nós usamos porque não temos ferrovias”, diz Feldmann.

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“Outro ponto é a energia elétrica de péssima qualidade. No estado de São Paulo, que está acima da média brasileira, o número de horas por ano que as empresas ficam sem energia varia de 15 a 16, enquanto no Japão esse índice é de um minuto”, adiciona.

4. Baixa qualidade de mão de obra e formação profissional

Uma questão-chave para a produtividade tanto nas indústrias como no ambiente empresarial como um todo é a formação educacional dos profissionais que serão absorvidos por essas empresas. Infelizmente, nesse aspecto o Brasil deixa muito a desejar, devido à formação de baixa qualidade, principalmente nas escolas públicas.

Em 2019, no estado de São Paulo, por exemplo, que possui índices acima da média nacional, 43,4% dos estudantes concluíram o Ensino Médio com aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e apenas 11,7% em Matemática.

5. Investimento em pesquisa e inovação e parcerias com universidades

Um fator fundamental para o desenvolvimento da indústria é o investimento em pesquisas e inovação, o que ainda é bastante incipiente no país. Um relatório do ano passado publicado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) apontou que o Brasil investiu aproximadamente R$ 89,5 bilhões em ciência e tecnologia, o correspondente a 1,21% do PIB. A Alemanha e os Estados Unidos, por exemplo, investiram acima de 3% do PIB.

As parcerias de empresas com universidades, berço das pesquisas científicas, também são dificultadas. “São Paulo tem as melhores universidades do país, mas na USP, por exemplo, é proibido ter convênio com empresas. Geralmente, a reitoria não aprova porque a empresa quer divulgar que está apoiando ou financiando uma pesquisa, mas não pode sair na imprensa. Nenhuma empresa vai querer fazer isso sem divulgação”, diz Feldmann.

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6. Atração de investimentos e juros altos

Os juros altos do país, apesar de necessários para o controle da inflação, também prejudicam o o ambiente empresarial. Os investidores acabam preferindo aplicar seus recursos no Tesouro Direto ou CDI, por exemplo, sem correr riscos, em vez de investir nas empresas e apostas em retornos maiores. “A indústria de transformação é muito sensível aos juros. Ela não tem crédito subsidiado como letras de crédito, CRIs e CRAs ou debêntures incentivadas. Quando ocorre um aperto monetário muito forte, e o Brasil está na liderança do mundo, a indústria sofre mais porque não tem nenhuma ferramenta para amenizar esse aperto monetário”, diz Igor Rocha, da Fiesp.

Desindustrialização e serviços no estado de São Paulo

Para Claudio Roberto Frischtak, presidente da InterB, apesar das dificuldades enfrentadas pela indústria paulista e brasileira como um todo e de sua contração, há um movimento paralelo de crescimento da área de serviços.

“São Paulo está ganhando densidade no setor de serviços avançados e parte desse processo de transformação causa perda de densidade industrial. Há uma multiplicidade de serviços que às vezes confundem, por exemplo, a produção de software. Uma grande parte do que as startups fazem é serviço, ainda que alguns produzam bens”, diz ele.