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Independência do Banco Central é comemorada
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

A Faria Lima, conhecido grupo das maiores empresas do mercado financeiro do país - com nome devido à concentração na região da avenida Faria Lima, em São Paulo - comemorou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter os juros no patamar atual de 13,75%, que reafirmou a independência do Banco Central. O alívio se dá após intensa pressão do governo Lula e apoiadores em forçar a baixa dos juros, com direito a manifestações pela saída do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Apesar de a taxa Selic alta ser negativa do ponto de vista da lucratividade das empresas do mercado financeiro, que atraem mais capital para a renda variável diante dos juros baixos, a postura do comitê e do presidente Roberto Campos Neto em mantê-la é vista como positiva por preservar os princípios do liberalismo econômico, escola que defende basicamente a não interferência do Estado na economia e a autorregulação do mercado e cujos fundamentos já se provaram eficientes do ponto de vista do equilíbrio da economia ao longo da história.

"O juro alto é ruim para todo mundo, mas forçar a baixa é pior", diz Renato Breia, sócio-fundador da casa de análise Nord Research. Diversos exemplos mostram que subir os juros é prejudicial para o mercado financeiro. Quando a Selic subiu, o boom da entrada de novos investidores na bolsa cessou e as empresas de investimento que haviam se multiplicado durante a pandemia tiveram de fazer demissões em massa. Além disso, Selic alta reduz a oferta de crédito e aumenta a inadimplência, o que também prejudica bancos e corretoras. Apesar desses fatores negativos, reduzir a Selic à força traz consequências piores.

No primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, com Alexandre Tombini à frente do Banco Central, os juros foram baixados na marra, o que contribuiu com a crise econômica que posteriormente desencadeou o impeachment.

Após a manobra sobre a Selic, a inflação encerrou o ano de 2015 a 10,67%, a maior taxa de então desde 2002. "O que mais espanta de tudo isso é que já tivemos um histórico lá atrás de problemas do governo interferindo no BC. Surpreende um governo que viu isso dando errado apostar no mesmo erro", diz Breia. Agora, a expectativa do mercado sobre os próximos diretores do Banco Central é grande, tendo em vista que eles serão indicados pelo presidente Lula e darão indícios sobre de que maneira o governo vai conduzir, na prática, a independência do Banco Central.

Desvio de atenção

Para Fábio Guarda, sócio e gestor da Galapagos Capital, o último comunicado do Copom veio até mais incisivo que o esperado pelo mercado e mostrou que, independentemente da pressão do Executivo, o Banco Central segue firme na disposição de manter os juros altos até que as expectativas ancorem e cheguem mais próximas da meta. Guarda lembra, ainda, que existem fatores muito mais importantes para a economia brasileira que precisam ser discutidos e acabam sendo deixados de lado diante da discussão sobre a queda da Selic.

"O juro é alto por questões estruturais da economia brasileira, não por culpa do Roberto Campos Neto", diz ele. "A atenção de todo mundo fica no juros quando esse não é o problema estrutural da economia brasileira, mas sim um governo muito grande e que gasta mal. Para reduzir os juros, deveríamos diminuir o tamanho do estado e aumentar a eficiência, mas esse debate não vem à tona", critica.

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