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Coca-Cola defende que a obesidade é resultado apenas da falta de exercícios

Organização financiada pela empresa afirma que o açúcar não é o principal culpado pelo ganho de peso. Para médicos, mensagem é equivocada

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Maior fabricante de refrigerantes do mundo, a Coca-Cola busca respaldo na “ciência” para defender a polêmica tese de que é possível combater a obesidade sem se preocupar com o corte de calorias.

Para a organização, a população dos Estados Unidos dá muita atenção à quantidade de açúcar e carboidratos que ingere, sem motivo. O principal vilão do ganho exagerado de peso, na visão da Coca-Cola, seria a falta de atividade física. Para fazer a ideia ganhar corpo – e a mente –dos cidadãos, a empresa financia viagens, conferências e palestras de pesquisadores influentes que defendem que o açúcar não é a principal causa da obesidade.

A iniciativa tem causado controvérsias entre os especialistas de todo mundo –os males do açúcar está sendo comparados aos do tabaco, num movimento que gerou processos milionários nos EUA.

Os incentivos da gigante de bebidas, de acordo com o The New York Times, são feitos por meio de uma organização sem fins lucrativos chamada de Global Energy Balance Network (Rede Global de Equilíbrio Energético).

Segundo o jornal norte-americano, duas universidades que empregam alguns dos integrantes da organização divulgaram que a Coca-Cola, que registra queda nas vendas nos últimos anos, teria doado US$ 1,5 milhão no ano passado para auxiliar na criação da entidade.

Em um vídeo divulgado pela entidade, o vice-presidente do grupo, Steven Blair, afirma que as pessoas apontam o fast food e as bebidas açucaradas como causas da obesidade, “mas não há nenhuma evidência clara de que, de fato, essa seja a causa”, diz.

Importância

Especialistas da área de saúde acreditam que a mensagem divulgada pela multinacional é equivocada e pode enganar a população. O médico Josivan Lima, membro da Comissão Temporária de Endocrinologia do Exercício e Esporte (CTEEE), da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), afirma que não se pode pensar em ter uma vida saudável sem levar em conta tanto os exercícios físicos quanto os cuidados na alimentação.

“Uma alimentação saudável, com restrições de frituras e de calorias, e um aumento de frutas e verduras, é muito importante e deve sempre ser associada à prática de exercícios físicos. Não são coisas excludentes, mas sim complementares”, explica.

Médico endocrinologista do Hospital de Clínicas e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Henrique de Lacerda Suplicy concorda e diz que é impossível querer dissociar dieta e atividades físicas para prevenir ou tratar a obesidade. “É necessário mudar os hábitos. Não adianta praticar exercícios todos os dias e chegar em casa e se empanturrar de comida. Você vai acabar engordando”, ressalta.

Para Lima, realizar atividades físicas é fundamental para manter ou perder peso. “Vários estudos mostram que aqueles que realizam exercícios são mais saudáveis que os que não realizam. Mesmo pessoas com peso elevado”, completa.

O médico da SBEM afirma que não há fundamento para pensar que apenas exercícios possam realmente dar resultados isoladamente. Apesar da melhora induzida pela atividade física, se a alimentação for inadequada, os benefícios serão minimizados, ou seja, realmente precisamos da combinação de alimentação saudável e exercícios regulares”, diz.

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