Luís Otávio: rotina estressante de exames aos 4 anos de idade. Situação cada vez mais recorrente| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Conversas de pais para filho

Realizar um hemograma em crianças pequenas é uma tarefa difícil. De acordo com a médica Ivana Machado, responsável no Paraná pelo setor de coletas Dasa - empresa de medicina diagnóstica –, o segredo do sucesso da operação depende do comportamento dos pais.

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Infância em estado de alerta

Pesquisa realizada pelo Hospital de Clínicas da Universidade de Campinas (Unicamp), divulgada em outubro do ano passado, analisou durante oito anos os resultados de colesterol e triglicerídios no sangue de cerca de 2 mil crianças e adolescentes entre 2 e 19 anos e revelou números alarmantes: das crianças entre 2 e 9 anos, 44% apresentaram índices elevados de colesterol total e 56% apresentaram valores alterados para os triglicerídios.

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Se antigamente criança só ia no médico quando se machucava ou ficava doente, hoje em dia, além de visitas periódicas ao consultório do pediatra, a realização de exames de laboratório tem se tornado cada vez mais comum, para prevenir doenças – principalmente aquelas causadas pelo sedentarismo e por maus hábitos alimentares.

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De acordo com o endocrinologista pediátrico Mauro Scharf, do laboratório Diagnósticos da América (Dasa), os casos de síndrome metabólica – que eram exclusivos em adultos após os 40 anos – têm aumentado significativamente entre crianças e adolescentes. A síndrome, relacionada ao sobrepeso, pode causar vários problemas: hipertensão arterial, resistência insulínica e até diabete. "Toda vez que a criança ultrapassar o seu peso ideal, apresentar dois ou mais sintomas da síndrome metabólica ou ainda tiver histórico familiar de alguma dessas doenças, torna-se necessário pedir o exame de sangue", explica o médico.

Scharf lembra que mesmo crianças ativas e aparentemente saudáveis podem apresentar displidemia familiar, o que aumenta o risco de desenvolver doenças ainda durante a infância. "Já tive casos de crianças magras que apresentavam índices de triglicerídios e de colesterol acima de 300, o que é muito perigoso", conta.

Crianças pequenas com pseudo-acantose nigricans – o aparecimento de manchas escuras nas coxas, pescoço e axilas – podem apresentar resistência insulínica e diabete. Por isso, elas também precisam se submeter aos exames laboratoriais.

Scharf lembra que não existe idade mínima para a realização dos exames. Se a criança apresenta uma doença de adulto, deve também ser acompanhado e receber o tratamento de um adulto, ou seja, precisa realizar exames, fazer dieta e até mesmo tomar remédios para baixar os níveis lipídicos do sangue. "Mas é claro que nenhum exame substitui uma consulta médica bem-feita. É o pediatra quem vai identificar os principais problemas e indicar os exames a serem realizados, quando forem necessários."

Exames demais

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O pediatra Vitor Pallazzo, do Hospital Pequeno Príncipe, tem a mesma opinião. "Hoje em dia, existe um abuso na realização de hemogramas e de exames de imagem em crianças. A clínica é soberana. Os exames só devem ser pedidos para confirmar ou descartar uma suspeita de doença. Se a criança apresenta distúrbios relacionados à nutrição, pressão alta e índice de massa corpórea acima do ideal, pode ser necessário a realização de um exame de sangue. O mais importante, entretanto, seria o médico orientar os pais e as crianças sobre os perigos da obesidade antes da manifestação dos sintomas. É a responsabilidade de todo bom pediatra", argumenta.

Para Pallazzo, os exames essenciais são aqueles que identificam qual direcionamento dar ao tratamento. "Se a criança apresenta a suspeita de um quadro infeccioso, por exemplo, então é importante descobrir, por meio do hemograma, se a infecção é viral ou bacteriana. O mesmo vale para a anemia ou a mononucleose", explica.

Experiência dolorosa

Se nem os adultos gostam de encarar a agulha durante um exame de sangue, imagine as crianças. Por isso, a realização do hemograma não deve ser indiscriminado, principalmente quando envolve crianças pequenas.

A estudante Julia Miliavcca, 23 anos, descobriu por acaso que o filho Luís Otávio, 4, tinha artite reumatóide juvenil. "Há quatro meses, após uma cirurgia de timpanotomia, ele teve uma crise. Não conseguia caminhar, movimentar os braços e teve de ficar cinco dias no hospital", conta.

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Por conta da doença, Luís já teve de fazer inúmeros exames, mas ainda não se acostumou com a nova rotina. "Ele se comporta, mas ainda tem medo e, por isso, chora muito. Infelizmente, não há o que fazer. Há cada três meses, ele tem de passar por isso de novo", lamenta.