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Veja que discriminação atrapalha mais do que a doença |
Veja que discriminação atrapalha mais do que a doença| Foto:

Brasília - Embora o tratamento esteja cada vez mais avançado, o diagnóstico de HIV afasta as pessoas do trabalho e prejudica os pacientes com o vírus. A constatação é de uma pesquisa feita pela Fun­dação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgada ontem pelo Minis­tério da Saúde. Foram entrevistados 1.260 soropositivos que tomam antirretrovirais. Eles representam todo o universo da população em tratamento contra aids.

Um dos resultados mais importantes do levantamento foi o contraste entre as condições clínicas dos pacientes e o prejuízo decorrente do diagnóstico para a vida social. A maior parte dos pacientes (65%) declarou se sentir em boas ou ótimas condições de saúde, índice até maior do que na população em geral (53%).

Apesar disso, 36,5% relataram que a situação financeira piorou após o diagnóstico e 20% disseram ter perdido o emprego. Conclusão: o estigma da doença é, hoje, mais prejudicial do que as condições clínicas decorrentes dela.

Infectologistas ouvidos pela reportagem afirmam que, com a evolução do tratamento da aids, a doença não faz com que a pessoa perca a capacidade de trabalho. "O que pode estar acontecendo é que algumas pessoas requerem aposentadoria ou afastamento em função do transtorno psíquico’’, afirma o infectologista da Unifesp Ricardo Sobhie Diaz.

Outra explicação está na discriminação por causa da doença. "Muitos pacientes me dizem que existe preconceito e têm medo de que o convênio médico mande o resultado dos exames para a empresa", conta Rosana del Bianco, infectologista do Instituto Emílio Ribas.

O maior grupo de homens que deixaram de trabalhar é o dos que pediram aposentadoria por doença. Segundo ela, isso ocorria em quase todos os casos antigamente, mas hoje é raro.

De acordo com Célia Land­mann, coordenadora da pesquisa, outra explicação pode estar relacionada ao receio dos pacientes de se expor: como precisam se ausentar para pegar medicamentos e ir a consultas médicas, pessoas com aids acabam deixando o trabalho para não dizer que têm um problema de saúde.

Veriano Terto, coordenador-geral da Associação Bra­sileira Interdisciplinar de Aids (Abia), reclama que as empresas não têm uma política em relação à aids, de garantir o respeito à privacidade. "Quando a pessoa que descobre o vírus já desenvolveu a doença, é muito difícil, porque ela vai ter de se afastar e pelo menos o pessoal do RH vai ficar sabendo", diz.

Outro indicador do estigma social da aids é o fato, apontado pela pesquisa, de 17% dos pa­­cientes não terem contado aos seus familiares que são portadores do vírus e de 33% não terem falado aos amigos.

SUS

Apesar do preconceito, a maioria dos pacientes tem uma avaliação boa dos serviços médicos oferecidos pelo SUS. Por outro lado, eles avaliam como "regular" o acesso aos medicamentos e o tempo de espera.

Com base nos dados da pesquisa, o ministério lançou uma campanha com o slogan "Viver com aids é possível. Com o preconceito, não". Uma das principais peças é um vídeo em que um rapaz soropositivo dá um beijo em uma garota sem o vírus. Transmitido por via sexual, o HIV não passa de uma pessoa para outra pela saliva.

Campanha

Em São Paulo, seis bolhas com cinco metros de diâmetro e laços vermelhos no interior foram instaladas no Rio Pinheiros, entre as pontes Cidade Jardim e Estaiada. A Secretaria de Estado da Saúde prorrogou até o dia 15 a campanha de incentivo à detecção precoce do HIV. Em todo o mundo, campanhas foram feitas pelo Dia Mundial de Luta Contra a Aids.

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