
A descoberta de que o zika vírus ultrapassa a placenta e dessa forma contamina o bebê na barriga da mãe foi um passo para entender como se dá a relação entre a doença e a microcefalia – que já soma 224 casos relacionados à infecção congênita confirmados e tem 3.381 em investigação. Agora, o desafio dos pesquisadores é descobrir como o vírus sai das células placentárias e age no ataque ao tecido do sistema nervoso do embrião, causando malformações. Desvendar esse quebra-cabeça é essencial para montar estratégias que consigam bloquear a ação do zika e proteger os bebês em gestação.
Confira a cobertura completa sobre o Aedes aegypti e as doenças ocasionadas pelo mosquito
Uma das autoras do estudo, a médica patologista Lúcia de Noronha, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que os testes mostraram a presença de partículas do vírus em células de Hofbauer, que fazem a defesa do bebê e ajudam na manutenção da placenta. A suspeita é que ele aja de forma semelhante ao HIV e utilize a célula como um “cavalo de Troia” para contaminar o embrião.
A diferença é que o zika é muito agressivo para a placenta. “O zika destrói a placenta, coisa que o HIV não faz”, diz Lúcia. Ela explica que o vírus causa uma inflamação no órgão, chamada de placentite – um sinal de que a barreira de proteção foi rompida. De acordo com Lúcia, evitar essa inflamação e que o vírus rompa a barreira placentária é essencial para impedir que o bebê seja contaminado pelo zika.
Essa ação já é feita para outras doenças congênitas que também causam malformações nos bebês, caso da sífilis, da toxoplasmose e do citomegalovírus. Mas, cada caso é um caso, destaca Lúcia. Se as pesquisas forem mesmo nessa linha, será preciso desenvolver um medicamento próprio para inibir a ação do zika na placenta.
Pesquisas
Para desenvolver qualquer ação terapêutica, porém, ainda será necessário percorrer um longo caminho de pesquisas. “A descoberta que fizemos foi só um passo. Ainda é cedo para falar em formas de bloqueio”, comenta a virologista Cláudia Duarte dos Santos, pesquisadora do Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz no Paraná. Desde o início na linha de frente das pesquisas sobre o zika, Cláudia também é autora do estudo que mostrou que o vírus ultrapassa a barreira placentária.
- Repasses federais não darão “para o ano todo” em 2016, diz secretário da Saúde
- Estudo do Paraná confirma que vírus zika consegue ultrapassar placenta durante gestação
- Notificações da dengue chegam com atraso de uma semana ou mais à Sesa
- Repasse extra para combate à dengue é de apenas R$ 5 mil para 64% das cidades
- Agentes encontram focos do Aedes aegypti em 222 mil casas de 19 estados
As pesquisas agora seguem para confirmar se a infecção do bebê se dá mesmo por meio das células de Hofbauer contaminadas e entender como o vírus sai das células placentárias e passa a atacar o tecido do sistema nervoso da criança. “É muito grave a nossa situação com o zika e estamos aprendendo sobre ele em tempo real”, resume Lúcia, que cita outras dúvidas dos pesquisadores: “Ainda não se sabe qual a taxa de transmissão, nem de reinfecção da doença”.



