A auxiliar de enfermagem Zenilde de Oliveira resistiu cinco anos até procurar uma clínica de reprodução assistida. Na primeira tentativa, ficou grávida| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Ajuda para reduzir a angústia

Se a decisão de ter um filho costuma ser acompanhada de uma série de expectativas, os casais que fazem tratamento de reprodução assistida têm um impacto emocional ainda maior. Ansiedade, frustração, raiva e culpa são alguns sentimentos comuns durante o processo. E o estresse pode, mais do que tirar o sono, comprometer o sucesso do tratamento.

Leia a matéria completa

CARREGANDO :)

Tira-dúvidas

A fertilidade é frágil e pode ser afetada por hábitos pouco saudáveis. Algumas mudanças no dia-a-dia garantem a saúde reprodutiva

Não carregue o mundo nas costas

Quando uma pessoa passa por um estresse emocional ou físico, a fertilidade tende a ser deixada de lado pelo organismo, que irá se ocupar de cuidar dos órgãos vitais.

Álcool

O consumo de bebidas alcoólicas em excesso provoca distúrbios no processo ovulatório e interfere na qualidade dos espermatozoides.

Evite o cigarro

Até 13% das causas de infertilidade estão relacionadas ao fumo. A nicotina interfere na capacidade de produzir estrógeno, o hormônio que regula a ovulação, dificulta a implantação do embrião e antecipa a menopausa. Os homens fumantes comprometem a qualidade e a quantidade de espermatozoides.

Cuidado com a balança

Obesidade ou magreza excessiva são responsáveis por 12% das causas de infertilidade. Na mulher, ocorrem alterações endócrinas que influenciam o processo ovulatório. O ideal é manter o Índice de Massa Corporal (IMC) entre 20 e 25. Para calculá-lo basta dividir o peso pelo quadrado da altura.

O que pôr no prato

Os especialistas recomendam equilíbrio na alimentação, reduzindo a ingestão de carne vermelha e escolhendo fontes de proteína como peixe, soja e feijão. Alimentos ricos em ferro (couve e beterraba) e zinco (semente de abóbora e carne de peru), também devem ser consumidos.

Fuja das drogas, anabolizantes e agrotóxicos

O uso de maconha e cocaína causa alterações endócrinas na mulher comprometendo o equilíbrio hormonal e aumentando a chance de problemas tubários. Em homens, agem no processo de produção dos espermatozoides. Os anabolizantes diminuem a capacidade reprodutiva e o desempenho sexual. A exposição ao calor e a produtos químicos, como pesticidas, alteram o DNA do esperma.

Academia com moderação

Exercícios em excesso (mais de 3 horas por dia) afetam a ovulação da mulher e diminuem a quantidade de espermatozoides no sêmen.

Fontes: Alessandro Schuffner, Karam Abou Saab e Marcelo Gomes Cequinel, ginecologistas especialistas em reprodução humana e dados da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).

Grávida de 13 semanas, por meio da fertilização in vitro, a médica pediatra Mônica Volpato comemora depois de ter perdido as esperanças

Desde o primeiro bebê de proveta, que nasceu na Inglaterra em 1978, a medicina reprodutiva tem se tornado a maior esperança daqueles que precisam de ajuda da ciência para ter um filho biológico. Em três décadas de pesquisa, as técnicas de fertilização se modernizaram, aumentando as chances de sucesso dos tratamentos. "Os métodos não mudaram, mas hoje dispomos de técnicas, materiais e conhecimento que nos permitem índices de gravidez que chegam a 60%, dependendo da idade da mulher. Há 30 anos este porcentual era de, no máximo, 20%", diz o ginecologista especialista em reprodução assistida Marcelo Cequinel, da Clínica Embryo.

Publicidade

Para Alessandro Schuffner, especialista em reprodução assistida da Clínica Conceber, a medicina já tem capacidade de diagnosticar quase todos os casos de infertilidade e solucionar pelo menos 90% deles. "Mesmo quando há esterilidade, falta de espermatozoide ou óvulo, é possível utilizar gametas de doadores."

Entre os métodos utilizados (veja o quadro ao lado) o que mais se desenvolveu nos últimos anos foi a fertilização in vitro (FIV). As melhorias incluem o aumento dos índices de gravidez e a diminuição da carga de hormônios recebida pela mulher e da taxa de gêmeos, que é estimada em 30%. "O Conselho Federal de Medicina recomenda que sejam transferidos, no máximo, quatro embriões para o útero, mas a prática médica nos mostra que o ideal é transferir de dois a três", explica Cequinel.

Para fertilizar um óvulo com precisão, as clínicas realizam a injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), variação da fertilização in vitro, que permite injetar um gameta masculino por óvulo. "Com um microscópio que aumenta em até seis mil vezes o tamanho de um espermatozoide é possível selecionar os que não têm problemas de fragmentação de DNA", explica Schuffner.

Para garantir o sucesso da FIV, os embriologistas lançam mão ainda da biópsia de embriões, que verifica se o futuro bebê poderá desenvolver doenças, como síndrome de Down ou fibrose cística. "Verificar a existência de doenças é uma realidade, mas a crença de que é possível ‘montar’ o bebê ideal, é ficção", garante Karam Abou Saab, responsável pelo serviço de reprodução humana do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR).

De acordo com os especialistas, a avaliação dos embriões aumenta as chances de gravidez, especialmente nos casos em que a mulher tem mais de 35 anos, idade considerada pela medicina como limite para uma gravidez sem riscos.

Publicidade

A gestação tardia é um dos principais fatores que levaram a área de reprodução assistida a se desenvolver continuamente. "É uma realidade cultural. Os casais estão adiando a chegada do primeiro filho por motivos profissionais", analisa Schuffner.

Dados do Ministério da Saúde apontam um aumento de 22% no número de mães com mais de 35 anos na Região Sul, entre 1997 e 2004. "Muitas mulheres conseguem engravidar naturalmente após os 35 anos, mas o público que mais procura as clínicas está entre 30 e 40 anos", diz Cequinel.

A funcionária pública curitibana Beatriz Regina Santos, 42 anos, é uma das milhares de mulheres que optou por aguardar a vida profissional ficar estável antes de engravidar. "Meu marido tinha feito vasectomia há 18 anos e era difícil reverter a cirurgia. Nossa única chance era por meio de fertilização in vitro", diz. O marido de Beatriz, Henrique Lopata, 44 anos, passou por uma punção no testículo para retirar os espermatozoides utilizados na FIV. Foram transferidos três embriões e apenas um se desenvolveu.

Beatriz será mãe em junho, aos 42 anos, e considera a maturidade fator importante para a maternidade. Mas os especialistas são unânimes em lembrar que a gravidez ainda é mais difícil após os 35 anos. De acordo com Cequinel, a queda de fertilidade de uma mulher dos 25 aos 35 anos equivale a que ocorre em seis meses aos 40 anos.

"Os recursos da medicina reprodutiva são um alento para casais que já haviam perdido a esperança", diz a médica pediatra Mônica Volpato, 36 anos, grávida de 13 semanas, por meio de FIV. Ela e o marido, o administrador de empresas Rodrigo Guerra, 37 anos, tentaram engravidar naturalmente durante dois anos.

Publicidade

Gratuidade

Segundo os médicos o desenvolvimento dos tratamentos possibilitou a diminuição do preço. "Uma fertilização há 10 anos podia chegar a R$ 20 mil, hoje o preço fica em torno de R$ 10 mil", afirma o especialista Marcelo Cequinel.

No Paraná, a única possibilidade de passar por um tratamento de reprodução assistida sem custos é no HC/UFPR – (41) 3360-1800. O programa existe desde 2007 e atende, em média, 15 casais por mês. A fila de espera tem atualmente 1,5 mil casais.

Entre esses casais está a dona de casa Jucilene Silveira, 34 anos, e o metalúrgico Arlindo Paz, 35. Ela teve uma obstrução nas trompas provocada por uma gestação na adolescência. "Fiz fertilização in vitro e agora estou grávida de seis semanas", comemora Jucilene.

Causas da infertilidade

Publicidade

A medicina considera infértil um casal que não usa métodos contraceptivos e não consegue engravidar mantendo relações sexuais ao menos duas vezes por semana, durante um ano. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), de 10% a 15% dos casais que se formam anualmente terão dificuldade para engravidar. No Brasil este número representa cerca de 120 mil casais por ano.

Antes de se submeter a um tratamento de fertilização assistida, o casal deve investigar as causas da infertilidade. Os especialistas recomendam que homem e mulher façam uma bateria de exames ao mesmo tempo. A investigação inclui um espermograma (contagem de espermatozoides) detalhado, avaliações do útero, ovários, trompas e um perfil hormonal da mulher. Estudando o diagnóstico o especialista define o tratamento adequado.

A dentista Christiane Saboia, 32 anos, e o engenheiro mecânico Guilherme Saboia, 34 anos, ficaram mais de um ano tentando descobrir a causa da infertilidade. "O que se sabia era que eu não ovulava, mas até hoje não sei o porquê", relata ela, que passou por estimulação e acompanhamento da ovulação e utilizou métodos mais simples, como a relação sexual programada.

O fracasso dos tratamentos realizados em seis anos fortaleceu o desejo de conceber uma criança. "Chega um momento em que você topa fazer qualquer coisa, mesmo ouvindo opiniões adversas das pessoas", desabafa Christiane, que conseguiu engravidar na quarta tentativa de FIV, dos gêmeos Leonardo e Giovana, que hoje têm um mês de vida.

Prestes a dar à luz seus primeiros filhos, os gêmeos João Vitor e Pedro Henrique, a auxiliar de enfermagem Zenilde de Oliveira, 34 anos, resistiu cinco anos até procurar uma clínica de reprodução assistida. O diagnóstico da infertilidade foi rápido, era a presença de anticorpos no colo do útero, que matavam os espermatozoides antes que estes chegassem às trompas, e um leve grau de endometriose. "Na primeira tentativa de inseminação intrauterina, tive sucesso", diz.

Publicidade

Entre as principais causas da infertilidade feminina estão a síndrome dos ovários policísticos, trompas obstruídas e a endometriose, doença caracterizada pela presença de endométrio (camada interna do útero que é renovada mensalmente pela menstruação) em locais fora do útero. "Os três problemas podem ser corrigidos com processos cirúrgicos", diz Saab. Outro problema recorrente é a dificuldade de ovulação, que pode ser tratada com medicamentos.

Os homens inférteis apresentam, em sua maioria, quantidade insuficiente e baixa mobilidade dos espermatozoides ou varicocele (varizes nos testículos), que pode ser corrigida com cirurgia.

De acordo com Saab, 80% dos casais com diagnóstico de infertilidade conseguem engravidar depois de tratar as causas.