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O cuidado de Andréia com a filha Maria Eduarda possibilitou o diagnóstico precoce e a cura do tumor, retirado com cirurgia | Antonio Costa/Gazeta do Povo
O cuidado de Andréia com a filha Maria Eduarda possibilitou o diagnóstico precoce e a cura do tumor, retirado com cirurgia| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

Características

No Paraná, desde 2005, cerca de 175 mil crianças foram triadas pela equipe da pesquisa. Delas, 670 tinham a mutação e 17 desenvolveram o tumor e foram curadas. Saiba mais sobre a doença:

- Atenção a sintomas como aparecimento de pêlos acima do pênis ou vulva e lesões no rosto semelhantes a espinhas

- Este tipo de câncer tem maior incidência nas meninas

- O câncer de córtex adrenal pode aparecer na criança até os 15 anos de idade

- Estudos mostraram que tumores abaixo de 35 gramas não reincidiram. A maior parte dos tumores com até 60 gramas também foram curados

- Durante o acompanhamento, a crian­ça também fará exames de do­sagem hormonal e exames de imagem.

Fonte: Bonald Figueiredo, médico e pesquisador do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe.

Ao trocar a fralda da pequena Maria Eduarda Woina­rovcz, na época com 3 anos de idade, a mãe Andréia Ribeiro Pinto notou algo errado, pois havia alguns pêlos no órgão sexual. Des­confiada, ela levou a criança ao posto de saúde e de lá foi encami­nha­da ao Hospital Pequeno Prín­cipe. "Eles já a internaram e uma cirurgia aconteceu no dia seguinte", conta.

A menina tinha o chamado tu­­mor de córtex adrenal, que atinge parte de uma glândula acima dos rins, principalmente em crianças e adolescentes até 15 anos. Sua incidência é cerca de 15 vezes maior no Paraná e em São Paulo em comparação ao restante do país. Graças à detecção precoce e à cirurgia, Maria Eduarda, hoje com 4 anos, é uma criança saudável que apenas realiza um acompanhamento médico.

O tumor de córtex adrenal (ou TCA) é objeto de pesquisa no Ins­tituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, que faz parte do complexo Pequeno Príncipe, sob a coordenação do médico e pesquisador Bonald Figueiredo.

Este tipo de tumor é maligno, mas as chances de cura em fase inicial são de quase 100%, explica Figueiredo. "Quanto menor o tumor, maior a chance de se recuperar", diz. Quando não detectado precocemente, o índice de mortalidade pode ser de quase 50%.

Iniciada em 2005, a pesquisa é dividida hoje em quatro partes, que estão sendo desenvolvidas em paralelo. Uma das respostas que os pesquisadores querem ter é o porquê da alta incidência no Estado.

Acompanhamento contínuo

Fiqueiredo diz que a primeira parte da pesquisa foi um estudo iniciado nas maternidades (que representam o Paraná em quase sua totalidade), com a coleta de uma gota de sangue do pezinho que verificava a existência ou não de uma mutação em um determinado gene (a mutação R337H no gene TP53). Atual­mente, uma a cada 400 crianças apresenta a mutação. Destas, cerca de 3% desenvolvem o tumor.

Detectada a mutação, as crianças são acompanhadas e a família recebe aconselhamento genético. Foi por causa deste acompanhamento que, desde o início da pesquisa, 17 crianças, incluindo Maria Eduar­da, passaram pela cirurgia e se curaram. "Quando a família recebe o teste positivo, ganha uma cartilha, um DVD com orientações e uma aula com um médico treinado, além de realizar consultas a cada quatro meses", explica. As consultas com esta periodicidade são feitas até os 5 anos. Até os 8 anos, a cada seis me­­ses e até os 15 anos, a cada 12 meses.

Porém, apesar da divulgação e do trabalho de conscientização da equipe médica, algumas famílias preferem não seguir o procedimento. O resultado é que algumas crianças ainda são levadas ao hospital com tumores grandes e de difícil cura.

A segunda parte da pesquisa é a do estudo molecular com cultivo celular, no qual o tumor é analisado em laboratório. "Com isso, po­­de­mos sugerir ou propor novas drogas que podem ser trabalhadas com as atuais", explica o pesquisador.

A saída para quem tem o tumor é a cirurgia com a retirada dele aindaencapsulado. Quando ele se rom­­pe e atinge outras partes, a criança passa pela cirugia e continua o tratamento com a quimioterapia e mais um fármaco potente. "Cada tumor tem um perfil diferente", explica.

A terceira parte da pesquisa é a de avaliação de outros tumores na família, como de mama, estômago e cérebro. O estudo quer confirmar se há relação ou não desta mu­­tação com outros tipos de câncer em crianças e adultos.

Ambiente

Uma última etapa do estudo procura saber, segundo o médico, porque o tumor se desenvolve em algumas crianças com a mutação e em outras não. "Pesquisamos o en­­volvimento que o ambiente pode ter que facilite o desenvolvimento do tumor, além de onde vi­­vem estas famílias, princi­palmente durante a gestação e os primeiros três anos de vida", explica.

Estes resultados também estão sendo estudados juntamente com os aspectos genéticos e ambientais em um sistema de geoprocessamento, o Projeto Geomedicina. Por um sistema chamado Web Mapping é possível encontrar indícios de doenças que possam estar relacionadas com o meio ambiente.

Publicação

A pesquisa coordenada por Figueiredo deve ser publicada em veículos médicos internacionais até o final do ano. A coleta de dados já foi finalizada. Mas, caso os pais encontrem sintomas que podem caracterizar o tumor do córtex adrenal (ver mais abaixo), devem procurar atendimento médico imediato.

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