• Carregando...
Depois de um enfarte, Elcio Luiz Coltro sobreviveu com a ajuda de uma máquina: “Me foi dada uma segunda chance” | André Rodrigues/ Gazeta do Povo
Depois de um enfarte, Elcio Luiz Coltro sobreviveu com a ajuda de uma máquina: “Me foi dada uma segunda chance”| Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

Lentes para as córneas

A maioria dos pacientes encaminhados a transplantes de córnea é portadora de ceratocone – doença degenerativa que deforma a curvatura do tecido. Entretanto, os pacientes têm hoje uma série de opções mais viáveis e que dispensam a necessidade do procedimento. "Antes do transplante, existem outras alternativas que garantem qualidade visual e boa qualidade de vida ao paciente", aponta a oftalmologista do Hospital de Olhos do Paraná, Luciane Moreira. Nos últimos anos, surgiram quatro novas modalidades de lentes de contato específicas para quem tem a doença. Além disso, quem não se adapta às lentes tem outras opções, como o anel intracorneano – anéis minúsculos implantados dentro da córnea, por meio de incisões a laser.

Reabilitação

Hábitos mudados para se recuperar do susto

Elcio Luiz Coltro sempre foi esportista: corria dez quilômetros por dia e jogava futebol duas vezes por semana. Em contrapartida, vivia uma rotina estressante. Chefe de gabinete da Secretaria de Estado do Trabalho, ele era um dos primeiros a chegar e o último a ir para casa. Além disso, mantinha um escritório de advocacia com o filho e outros negócios. O corre-corre o forçava a descuidar da alimentação. "[Após o enfarte], tive de pisar no freio e pensar mais em mim. Mudou completamente a minha vida. E para melhor", garante.

Durante a recuperação, o processo de reabilitação – parte do tratamento oferecido pelo hospital – teve papel determinante. No mês seguinte à alta, ele já havia recuperado quatro dos nove quilos perdidos. Três vezes por semana, Coltro desenvolve atividades aeróbicas supervisionadas pelos médicos. Já corre 40 minutos seguidos, a mais de 6 quilômetros por hora.

"Nosso objetivo é que ele atinja um nível físico igual de pessoas com mesma idade, altura e peso que ele, mas que nunca tiveram evento cardíaco. Com esse processo de reabilitação, em seis meses, as pessoas que sofreram enfarte estão melhores do que antes do evento", diz o médico Rafael Michel de Macedo.

"Foi um milagre. Eu nasci de novo." São expressões como essas que o funcionário público Elcio Luiz Coltro, 53 anos, usa sempre que precisa ilustrar o que enfrentou recentemente. Afinal, é difícil contar a história dele sem recorrer a clichês. Após sofrer um enfarte agudo do miocárdio, Coltro ficou por 12 dias com o coração ligado a uma máquina que aspirava seu sangue para, em seguida, bombeá-lo para o corpo. Como um coração mecânico. Contra todos os prognósticos, ele sobreviveu.

INFOGRÁFICO: Confira o número de transplantes realizados no Paraná e a fila de espera por um órgão

"Sou um privilegiado, porque me foi dada uma segunda chance. Acho que teve dois fatores: a mão de Deus e a mão do corpo médico", sentencia.

E o quadro clínico com o qual Coltro chegou ao Hospital Costantini, em 1.º de dezembro de 2012, inspirava mesmo um milagre. A pressão baixa, as fortes dores no peito e o suor indicavam enfarte. Sob os cuidados do corpo clínico, constatou-se a gravidade do caso: o paciente tinha as duas coronárias obstruídas. Rapidamente, ele foi submetido a uma angioplastia – procedimento para desentupir as artérias. Apesar do sucesso da cirurgia, o coração estava sem forças para manter a pressão.

"O músculo estava apanhando. Foi então que decidimos usar o sistema [o coração mecânico]. Isso permitiria manter o corpo dele irrigado, enquanto o coração ficaria descansando. Batendo, mas sem nenhum esforço", conta o cardiologista Costantino Costantini.

Foi tudo muito rápido. Os médicos abriram o peito de Coltro. À aurícula esquerda foi conectado um tubo, que aspirava o sangue para o coração mecânico, conhecido tecnicamente como assistência ventricular externa. De lá, por outro canal, a máquina bombeava o sangue até a aorta, que irrigava o corpo do paciente. Depois de 12 dias, o aparelho foi desligado e o coração do paciente voltou a funcionar normalmente. Ele permaneceu por mais 23 dias em coma, mas teve uma recuperação surpreendente.

Alternativa

A assistência ventricular externa é uma das alternativas ao transplante de coração. A máquina foi desenvolvida para manter o desempenho cardíaco, criando condições favoráveis à recuperação do músculo – como ocorreu com Coltro – ou para garantir que o paciente permaneça vivo até que seja encontrado um novo órgão. Apesar disso, o período que a pessoa pode ficar ligada ao aparelho é limitado.

Em eventos cardíacos, qualquer chance é considerável – por menor que seja. Não fosse o coração mecânico, Coltro teria morrido. Ele chegou a ser inscrito na fila para receber um transplante de coração, na qual 26 paranaenses estão cadastrados. Felizmente, não precisou.

"Um conjunto de fatores o salvou, mas, não fosse a máquina, ele teria morrido. É como se ele tivesse ganhado sozinho na mega sena de fim de ano", compara Costantini.

Células-tronco para evitar transplantes

Em Curitiba, o Núcleo de Tecnologia Celular, da PUCPR, aposta nas células-tronco para melhorar a vida de pacientes e evitar que eles precisem ser submetidos a transplantes. Em 13 anos de pesquisa, os resultados são animadores. De 38 pacientes cardíacos que participaram de uma das etapas estudo, entre 2009 e 2012, apenas seis precisaram receber um novo coração.

"Pelos menos 20 se recuperaram muito bem e foram retirados da fila de transplante", conta o coordenador do núcleo, professor Paulo Brofman.

No tratamento, os pesquisadores usam células-tronco do próprio paciente. Elas são isoladas e multiplicadas em laboratório. Quando há um número suficiente, o material é injetado na pessoa. "No caso do coração, a utilização de células-tronco ajuda a regenerar o tecido lesado, substituindo as células doentes. Além disso, elas ajudam a criar vasos sanguíneos", explica Brofman.

Desde 2000, 79 pacientes já foram submetidos ao tratamento em estudo. Nenhum deles teve problemas em decorrência das injeções. A maioria teve uma melhora bastante significativa. Os resultados incentivaram os pesquisadores a expandir os estudos. Hoje, a técnica com células-tronco é testada em pacientes com doenças neurológicas, pulmonares, diabete, traumas de medula e artrose.

"Esse tratamento poderia ser usado em filas de espera para transplante, para melhorar a condição dos pacientes e como alternativa aos transplantes", aponta o coordenador do núcleo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]