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Experimentos começaram com gatos

O neurofeedback foi desenvolvido nas décadas de 60 e 70 por pesquisadores americanos. Em 1968, o neurocientista Barry Sterman, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (Ucla), relatou que o tratamento fez com que gatos resistissem a ataques epilépticos. Mais tarde, Sterman e outros cientistas afirmaram ter conseguido benefícios semelhantes com seres humanos.

As descobertas despertaram o interesse de médicos de diferentes graus de respeitabilidade, o que causou alegações sem provas sobre curas milagrosas e manchou a reputação do tratamento entre especialistas acadêmicos. Ao mesmo tempo, pesquisadores da Alemanha e da Holanda continuaram a explorar os benefícios potenciais do neurofeedback.

Um dos grandes atrativos da técnica é a esperança de que ela possa ajudar os pacientes a evitar as drogas, as quais geralmente causam efeitos colaterais. Em vez disso, os pacientes seguem procedimentos parecidos com exercícios musculares.

Os neurônios se comunicam uns com os outros através de constantes impulsos elétricos. Seus padrões aparecem em um eletroencefalograma, ou EEG, mostrando as ondas cerebrais em diferentes frequências.

Os especialistas em neurofeedback dizem que as pessoas têm pro­­blemas quando suas fre­­quên­­cias de ondas cerebrais não são adequadas para determinada tarefa, ou quando algumas partes do cérebro não se comunicam adequadamente com outras. Estes casos podem ser demonstrados em um "mapa do cérebro", as leituras iniciais de EEG que servem como um guia para o tratamento.

Posteriormente, um médico vai ensinar o paciente a desacelerar ou acelerar as ondas cerebrais, através de um processo conhecido como condicionamento operante. O cérebro começa a gerar padrões aleatórios, enquanto o software responde com incentivo sempre que a atividade atinge a meta.

O doutor Norman Doidge, psiquiatra do Centro de Treinamento e Pesquisa Psicanalítica da Universidade de Columbia, considera o neurofeedback "um poderoso estabilizador do cérebro."

Comércio

Uso para bombear neurônios

Enquanto os médicos fazem lobby para a aceitação do neurofeedback, inclusive junto aos planos de saúde, um sinal claro da popularidade crescente do tratamento é o número de empresas que passaram a vender supostos sistemas de alteração da mente para uso doméstico.

Através do uso de marcas como "SmartBrain Technologies" e "Learning Curve Incorporated", as empresas oferecem equipamentos para "bombear neurônios" e "provocar mudanças permanentes de atenção, memória, humor, controle, dor, sono e muito mais."

A FDA (agência americana que controla alimentos e medicamentos) considera todos os equipamentos de biofeedback dispositivos médicos. No entanto, eles são aprovados apenas para o "relaxamento".

Peter Freer, ex-professor de escola primária e diretor executivo de uma empresa da Carolina do Norte chamada "Unique Logic and Technology", diz que desde que iniciou as atividades em 1994 já vendeu milhares de sistemas que prometem melhorar a concentração, o comportamento e o desempenho social e acadêmico das crianças. O equipamento, que custa

US$ 1,8 mil, é anunciado como "um avanço sofisticado de neurofeedback". Ele, em geral, não é bem regulamentado. Os médicos seguem seus próprios protocolos sobre onde colocar os eletrodos no couro cabeludo. Os resultados variam e os pesquisadores advertem que é importante a escolha de um bom médico.

Nova york - Sente-se em uma cadeira, de frente para a tela de um computador, enquanto o médico coloca eletrodos em seu couro cabeludo, fixados por uma gosma viscosa que levará dias para sair do cabelo. Os fios presos aos sensores estão conectados a um computador programado para responder à atividade de seu cérebro.

Tente relaxar e se concentrar. Se o seu cérebro se comportar conforme o desejado, aparecerão sons suaves e efeitos visuais, como imagens da explosão de estrelas ou um campo de flores. Caso contrário, você obterá o silêncio, uma tela escura e flores murchas.

Isso é neurofeedback, uma espécie de biofeedback para o cérebro que, segundo os médicos, pode tratar uma série de doenças neurológicas – entre elas o transtorno de déficit de atenção por hiperatividade, a depressão, a ansiedade e o autismo – permitindo que os pacientes alterem suas ondas cerebrais por intermédio da prática e repetição.

O procedimento é polêmico, caro e demorado. Um período médio de tratamento, composto por pelo menos 30 sessões, pode custar US$ 3 mil ou mais e são poucos os planos de saúde que oferecem cobertura. Apesar disso, sua popularidade vem crescendo.

A diretora executiva da So­cie­­dade Internacional de Neurofeed­­back e Pesquisa, Cynthia Kerson, faz parte de um grupo de apoio aos profissionais deste campo da medicina e estima que 7,5 mil profissionais de saúde mental nos Estados Unidos já oferecem o neurofeedback e que mais de 100 mil americanos experimentaram o tratamento na última década.

O tratamento também tem chamado a atenção de pesquisadores renomados, inclusive alguns que já foram céticos sobre o assunto. O Instituto de Saúde Mental dos Estados Unidos patrocinou recentemente sua primeira pesquisa de neurofeedback para o Transtorno de Déficit de Atenção por Hipe­­rati­­vidade (TDAH): um estudo de meta-análise com 36 indivíduos.

Em uma entrevista recente, Eugene Arnold, diretor do estudo e professor emérito de Psiquiatria na Universidade Estadual de Ohio, disse que já foi observada "uma boa melhora" no comportamento de muitas crianças, conforme relato de pais e professores.

Arnold afirmou que, se os resultados provarem que o neurofeedback faz a diferença, ele vai buscar financiamento para um estudo mais amplo, com cerca de 100 indivíduos.

John Kounios, professor de Psicologia da Universidade de Drexel, publicou um pequeno estudo em 2007, sugerindo que o tratamento acelera o processo cognitivo em idosos.

Negativas

O médico Russell Barkley, professor de Psiquiatria na Universidade de Medicina da Carolina do Sul e especialista em déficit de atenção, negou por muito tempo que o neurofeedback pudesse ajudar. Barkley diz que foi convencido a reconsiderar depois que cientistas holandeses publicaram uma análise de estudos internacionais, no qual foram encontradas reduções significativas na falta de atenção.

Outro especialista desaprova ainda mais o neurofeedback. William Pelham Junior, diretor do Centro para Crianças e Fa­­mílias da Universidade Interna­­cional da Flórida, considera o neurofeedback um "charlatanismo maluco". Ele adverte que as alegações exageradas em favor deste tipo de tratamento podem levar os pais a favorecê-lo em detrimento de opções comprovadas, como a terapia comportamental e a medicação.

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