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Anita combateu no Brasil e na Itália | Arquivo/ Gazeta do Povo
Anita combateu no Brasil e na Itália| Foto: Arquivo/ Gazeta do Povo

A única mulher em sua está­­tua equestre, está a exibir à posteridade que a rebeldia, a bravura e a busca da liber­­da­de que se iniciaram na epo­peia latino-americana foram capazes de resgatar e unir a Itália.

No Brasil do Segundo Im­pério, próximo ao Trópico de Capri­cór­nio, ali na vertical li­­nha de Tordesilhas, nos limites entre navegadores ibéricos, nasce, sob a economia tropeirista, a miscigenada Ana Maria de Jesus Ri­­beiro. Nascida para lavar, cozinhar, cuidar do lar e procriar no universo feudal da época, essa mulher romperá com suas condicionantes e extrapolará, nas décadas e séculos seguintes, sua condição feminina e geopolítica.

As pedras brancas e as coxilhas ricas do planalto lageano, com seus tons de verde e araucárias em contraste com as águas azuis de safiras do Atlântico Sul, ora iluminados pelo sol intenso dos trópicos, outras fustigados pelo frio, a neve e o vento minuano, compuseram o cenário e os pictogramas que forjaram seu corpo e espírito.

Seja à beira do mar, na Laguna ardente, ou nos Aparados da Serra do Rio do Rastro, ali se teria a conquistar um conturbado horizonte.

A cavalo, sob as intempéries dos pampas, sua genética indígena a fará amar, procriar e proteger o filho, fugindo dos imperiais. Sua coragem herdada da onça parda das coxilhas, sua indignação tropeirista contra os cobradores de impostos, seu amor à República e a busca de igualdade entre os sexos serão vetores, subsídios que oferecerá a sua outra paixão: Giuseppe Garibaldi. Ensinará esse marinheiro a cavalgar, a fazer a guerrilha, energizando-o com a natureza fulgurante do Novo Mundo.

Os episódios de derrotas contínuas, de Laguna a Lages, desta ao Rio Grande, aos pampas uruguaios e à conquista de Monte­­vidéu, serão preparatórios da campanha de Unificação Italia­na. Ali, essência e cerne da árvore garibaldina, esteve em todos os campos de batalha, salvando-se com a família, mesmo nos teatros de guerra aberta.

Seu desaparecimento em Ra­­venna, em 1849, longe de es­­mo­recer o espírito do Risorgi­men­­to, o solidifica e o intensifica.

Entronizada no Monte Giannicolo, na Roma Unificada, ainda a única mulher em sua estátua equestre, está a exibir à posteridade que a rebeldia, a bravura e a busca da liberdade que se iniciaram na epopeia latino-americana foram capazes de resgatar e unir a Itália.

Um sonho acalentado por milênios e concretizado também graças a Anita Garibaldi.

Hoje, seu legado feminista e libertário está a pairar sobre a mesquinharia política do ma­­chismo dominante. Brasil e Itália terão um salto de qualidade quando as mulheres aguerridas e sábias como Anita chegarem ao poder. Vivam as Anitas!

Rubens Gennaro é produtor de Cinema Brasileiro e Cavaliere della Reppubblica Italiana.

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Serviço

Na próxima terça-feira recordam-se os 160 anos da morte de Anita Garibaldi. Em razão disso, o Palácio Garibaldi, no Largo da Ordem, organizará uma exposição especial de fotografias com acesso gratuito ao público. A mostra abre entre os dias 25 e 27 de agosto (das 15 às 21 horas) com um acervo vindo principalmente da Região do Friuli, em parceria com o Circolo Giuliano de Curitiba.

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