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Entenda o que aconteceu com a modelo que morreu devido a uma infecção generalizada |
Entenda o que aconteceu com a modelo que morreu devido a uma infecção generalizada| Foto:

Combate

Paraná testa atendimento e reduz mortes

O Paraná tem um bom exemplo do combate à sepse. Em 2004, quatro hospitais do estado (os universitários de Londrina, Cascavel, ainda o Hospital de Clínicas e o Hospital do Trabalhador) entraram em um estudo para testar os melhores protocolos de atendimento ao paciente.

Durante cem dias foram adotados métodos que associavam atendimento rápido, medicação adequada e emprego de terapias padronizadas, como estabelecem as diretrizes internacionais.

Ao longo desse período, foram acompanhados 180 pacientes internados em unidades de tratamento intensivo. Ao fim do estudo, o índice de mortalidade foi reduzido de 64% para 48%. Com os bons resultados, o programa já foi levado para outros oito hospitais, e a previsão é de que até o fim de 2009 seja adotado em 22 unidades. (CV)

A morte da modelo Mariana Bridi, 20 anos, que teve os pés e mãos amputados em decorrência de complicações de uma infecção, chamou a atenção para um problema que mata milhares de brasileiros todos os anos. Estima-se que cerca de 250 mil pessoas morram anualmente por conta de complicações da sepse (doença sistêmica originada de uma reação exacerbada do organismo diante da presença de vírus ou bactérias causadores de infecção). No Brasil, a mortalidade chega a ser o dobro dos índices mundiais, que giram em torno de 30%.

A grande dificuldade no combate à sepse está no diagnóstico correto e precoce. Um estudo do Instituto Latino-Americano de Sepse (Ilas) feito com 917 médicos em 21 hospitais públicos e privados do Brasil revelou que a maioria (92%) dos médicos sabe diagnosticar uma infecção simples, mas apenas 27% deles conseguem reconhecer um caso de sepse da forma adequada. De acordo com o estudo, a medida que o quadro do paciente vai se agravando, os índices de acerto no diagnóstico melhoram. A sepse grave foi identificada por metade (56,7%) dos profissionais. E 81% dos profissionais conseguiram perceber uma situação de choque séptico. O problema é que nesse estágio a doença já compromete bastante o organismo, levando à morte em 70% dos casos. "O tratamento da sepse inicial é fácil e barato. Ele se torna caro quando o paciente é diagnosticado tardiamente e tem que ficar na unidade de terapia intensiva", observa a médica chefe da terapia intensiva do Hospital da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente do Ilas, Flávia Machado.

A mortalidade por sepse é ainda mais crítica em hospitais públicos, chegando a 52%, enquanto que na rede privada gira em torno de 40%. Para Flávia, uma das explicações para a diferença seriam as condições de trabalho. "Em um hospital público os médicos enfrentam muito mais pressão. É o pronto-socorro lotado, a falta de estrutura, a família pressionando. Com tudo isso fica mais fácil errar", comenta. A demora no atendimento também prejudica o estado de saúde do paciente. Em hospitais públicos, a média de espera no pronto-socorro antes de ir para a UTI é de 24 horas, enquanto que em hospitais particulares esse intervalo é de seis horas.

Podendo ser decorrente de qualquer tipo de infecção, a sepse deveria ser reconhecida por profissionais de qualquer especialidade médica. No entanto, percebe-se que especialistas como dermatologistas ou oftalmologistas, que não lidam diariamente com o problema, como os intensivistas e cirurgiões, costumam ter mais dificuldade para reconhecer uma infecção generalizada. "O problema é que a sepse em estágio inicial tem sintomas que podem ser facilmente confundidos com uma série de outras coisas", observa o médico Hipólito Carraro Júnior, especialista em terapia intensiva. "Ao contrário de um paciente que sofre um enfarte, para o qual você faz um eletrocardiograma e tem um diagnóstico preciso, um paciente com sepse depende apenas do diagnóstico clínico. Não há um marcador diagnóstico que confirme a doença, e nesses casos o conhecimento do médico é o que conta", completa Flávia. Para a médica, é preciso que a sepse seja abordada de forma mais completa durante a graduação e os anos de residência médica. "O governo precisa dar mais atenção a isso e desenvolver ações estratégicas e de formação profissional para que possamos reverter esse quadro", defende.

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