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11.ºDP: presos fizeram um buraco no teto e usaram corda improvisada para sair | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
11.ºDP: presos fizeram um buraco no teto e usaram corda improvisada para sair| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Detentos conseguiram escapar por buraco no teto da carceragem

Governo promete celas modulares para desafogar delegacias

No dia 26 de janeiro, o governo do Paraná anunciou a criação de 1.440 novas vagas para o sistema carcerário de Curitiba e região metropolitana. Segundo nota divulgada na Agência Estadual de Notícias, 60 celas modulares, com 720 vagas, seriam construídas no Centro de Triagem II, em Piraquara, enquanto as outras 60 estavam previstas para os municípios de Araucária, Colombo e Rio Branco do Sul. "Em seis meses não teremos mais presos em distritos da capital e nas carceragens da região metropolitana", garantiu na época o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari

As primeiras 60 celas seriam entregues até abril, segundo o governo, enquanto as restantes deveriam estar prontas até julho. Nesta quinta-feira (23), o delegado-geral da Polícia Civil, Jorge Azor Pinto, disse que nenhuma estrutura foi inaugurada até agora por problemas técnicos. Ele garantiu, no entanto, que tão logo as primeiras celas sejam concluídas, os presos do 11º DP serão transferidos, garantindo a solução do problema da superlotação.

Paraná TV 1ª edição mostrou a situação precária da carceragem do 11º DP no dia 24 de janeiro

Vinte e sete presos fugiram da carceragem do 11º Distrito Policial da capital, localizado na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), no início da manhã desta quinta-feira (23). Os detentos fizeram um buraco no teto a partir do sistema de ventilação próximo ao banheiro e conseguiram acesso ao exterior da delegacia. Os três investigadores que faziam plantão no local perceberam a movimentação nas celas por volta das 6h30 e surpreenderam os presos, impedindo a saída de mais fugitivos. Até o início desta tarde, apenas dois homens haviam sido recapturados.

Pouco após a fuga, o delegado titular do 11º DP, Gerson Alves Machado, disse à reportagem que o número de presos que haviam escapado era 26, mas, em entrevista coletiva concedida no fim da manhã, o delegado-geral da Polícia Civil, Jorge Azor Pinto, afirmou que foram 27 os fugitivos.

Segundo Machado, no momento da fuga, 148 presos ocupavam a carceragem, destinado para 40 pessoas. Ele conta que, desde a rebelião que aconteceu em janeiro na delegacia, não há mais grades entre as oito celas do local. "Todos os presos ficam juntos em um mesmo espaço", conta.

O delegado acredita que as ferramentas utilizadas para o rompimento de estruturas do sistema de ventilação do teto entraram na cadeia a partir de familiares de presos. "Volta e meia encontramos celulares ou serras escondidas no meio de comida", conta. "A polícia faz o que pode, mas os visitantes dos detentos não ajudam", reclama.

Segundo o policial, a maior parte dos presos que escaparam responde por crimes de tráfico de drogas, roubo ou furto. "Logo divulgaremos os nomes e as fotografias dos fugitivos e, sem dúvida, todos serão pegos", garante. "São todos bandidos ‘pé-de-chinelo’, que poderão se esconder por alguns dias, mas não conseguirão ir muito longe", diz.

Na entrevista coletiva concedida no fim da manhã, o delegado-geral da Polícia Civil disse que todos os presos são transferidos do local assim que são condenados. O problema da superlotação, segundo ele, é consequência do número de prisões realizadas na cidade, que chegaria a 50 por semana.

Equipes da Polícia Militar (PM) e do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), da Polícia Civil, foram acionadas para auxiliar no trabalho de buscas pelos presos.

Situação precária

As condições precárias da carceragem do 11º DP vêm sendo alvo de denúncias desde o ano passado. Em fevereiro de 2008, após a morte do preso Leandro Alves Sampaio, que apresentava quadro de diarréia, vômito e febre, a delegacia acabou interditada pela Vigilância Sanitária. O órgão considerou que não foram atendidas as providências exigidas durante uma vistoria para minimizar os problemas de higiene básica e de infraestrutura nas celas do distrito.

Melhorias na ventilação chegaram a ser feitas, mas os problemas se agravaram ainda mais no início deste ano. No dia 10 de janeiro, uma rebelião terminou com um preso morto e outros três feridos. A confusão ocorreu quando, em posse de facas improvisadas, os detentos de uma das celas tentaram fazer refém um policial que distribuía refeições. Um outro oficial que presenciava a situação efetuou disparos na tentativa de conter os detentos. Cinco presos que lideraram o tumulto foram transferidos para o Centro de Triagem II, em Piraquara, na região metropolitana.

Depois da rebelião, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp)afirmou que fecharia a carceragem da delegacia para uma reforma geral em até uma semana. O prazo venceu e a Sesp anunciou que não cumpriria a transferência dos presos para as obras. A pasta afirmou estar investindo na construção de novas penitenciárias, embora não mencionasse prazos.

Na época, reportagem da Gazeta do Povo constatou que os sistemas elétricos e hidráulicos do distrito estavam em estado precário, segundo policiais que não quiseram se identificar. As portas das celas estavam arrebentadas e o que separava a área da carceragem do setor frequentado por funcionários que fazem boletins de ocorrência eram duas portas.

Organização criminosa

Cerca de dois meses depois do motim, uma vistoria de rotina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), secção Paraná, revelou que os mais de 150 presos da delegacia haviam formado uma organização criminosa no local, sem indícios de vinculação com quadrilhas de outros estados. Um policial do 11º DP, que aceitou falar sob anonimato à Gazeta do Povo, confirmou a situação constatada pela OAB. Segundo a fonte, os policiais não podiam mais entrar na carceragem sem antes fazer um acordo com as lideranças de lá.

Na época, o delegado titular do 11º DP disse que apenas a Sesp poderia se pronunciar sobre o caso. A secretaria afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não faria comentários sobre organizações criminosas.

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