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58% dos entrevistados disseram que as dificuldades enfrentadas com familiares viciados em drogas afetaram o trabalho ou estudos

47% dos entrevistados relataram que a vida social havia sido prejudicada em decorrência do familiar dependente

Pelo menos 28 milhões de pessoas vivem no Brasil com um dependente químico, mostra o Levantamento Nacional de Famílias de De­­pendentes Químicos, divulgado ontem pela Uni­­ver­­sidade Federal de São Paulo (Unifesp). A pesquisa inédita mostra o impacto que a convivência com um parente usuário de drogas provoca na experiência cotidiana das famílias.

De acordo com o levantamento, mais da metade dos tratamentos ofertados para dependentes de drogas é financiada pelos familiares. O trabalho entrevistou 3.142 famílias de todo o país que tinham entre os integrantes pacientes em tratamento. Desse grupo, 58% pagavam do próprio bolso a internação dos pacientes. Os resultados são divulgados dois anos depois do lançamento do programa federal Crack é Possível Vencer, que se compromete, entre outras metas, a assegurar assistência para dependentes de drogas.

O trabalho revelou ainda que o impacto da terapia afetou de forma drástica ou fortemente quase metade dos entrevistados (45% deles). "Com o estudo, quisemos dar voz a essas famílias, que também sofrem com essa doença crônica, mas estão esquecidas, sobretudo pelos serviços públicos", afirmou o coordenador do trabalho, o psiquiatra da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas Ronaldo Laranjeira.

14% do país

Sobre o número de 28 milhões de brasileiros convivendo com um dependente (14% da população total), Laranjeira diz que esse é um problema muito próximo de nós. "Mas, ao mesmo tempo, poucos dão a importância devida", completa. O fato de a maior parte das famílias arcar com o pagamento é uma prova do abandono, avalia Laranjeira. "A informação é deficiente, os serviços, escassos."

A lacuna está estampada na pesquisa. Dos familiares entrevistados, 50% não sabem o que são os Centros de Atendimento Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps), unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento de dependentes químicos. Dos que conhecem, 46% nunca haviam procurado um Caps.

"Os relatos impressionam: às vezes, familiares recorrem aos serviços, dizendo que o dependente está em casa descontrolado, ameaçando todos. A resposta que ouvem é que não há nada a ser feito, enquanto o usuário não comparecer, por conta própria, ao serviço de atendimento", relata. O coordenador do trabalho avalia que o mínimo que poderia ser feito é um serviço de aconselhamento para familiares, mesmo que por telefone.

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