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A sede do Círculo de Estudos Bandeirantes foi construída em 1945 e passou a abrigar as reuniões dos membros da entidade | Fotos: Henry Milleo/Gazeta do Povo
A sede do Círculo de Estudos Bandeirantes foi construída em 1945 e passou a abrigar as reuniões dos membros da entidade| Foto: Fotos: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Planos

De olho no futuro, círculo pode virar centro de cultura e ciência

Um dos desafios para o futuro é transformar o Círculo de Estudos Bandeirantes (CEB) em um centro de cultura e ciência. A ideia é do atual presidente, Waldemiro Gremski. Um dos passos para essa realidade é a digitalização de todos os documentos e arquivos que estão guardados na sede do CEB. Posteriormente, pretende-se investir na divulgação e intensificar o apoio a pesquisas.

A diretora da instituição, Kátia Biesek, afirma também que há planos para que o círculo seja mais usado em nome da memória dos criadores. "Realizar palestras, por exemplo, sobre os estudos que foram realizados aqui", diz.

Gremski também reforça o desejo de transformar parte da Rua XV de Novembro em uma espécie de corredor cultural. O projeto iria da sede da Reitoria da UFPR até a Associação Comercial do Paraná, que teria cerca de um quilômetro. "Isso se explica pela história e arquitetura das instituições que existem nesse percurso. Há os prédios da UFPR, o Museu Guido Viaro, o Círculo de Estudos Bandeirantes, o Teatro Guaíra, a Caixa Cultural. Tem que pensar uma forma para valorizar esses espaços", ressalta.

Fundadores

Confira quem foram os primeiros integrantes do Círculo de Estudos Bandeirantes:

• Antônio Rodrigues de Paula

• Benedicto Nicolau dos Santos

• Bento Munhoz da Rocha Netto

• Carlos Araújo de Brito Pereira

• José de Sá Nunes

• José Farani Mansur Guérios

• José Loureiro Ascenção Fernandes

• Liguaru Espírito Santo

• Padre Luiz Gonzaga Miele

• Pedro Ribeiro Macedo da Costa

• Valdemiro Augusto Teixeira de Freitas

Cultura

Hoje, a instituição abriga a Academia de Cultura de Curitiba e a Academia Sul Brasileira de Letras — Seção do Paraná. O círculo também abrigou a Legião Paranaense da Boa Imprensa e o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural do Paraná.

  • Ao entrar no prédio, é possível ver no chão o brasão que identifica o centro de estudos

A história do Círculo de Estudos Bandeirantes (CEB) se confunde com os principais acontecimentos culturais, sociais e intelectuais de Curitiba e do Paraná no início do século 20. Era uma época em que o catolicismo estava em crise. As influências do Iluminismo, do racionalismo e da ascensão do comunismo na União Soviética (1917) relegaram qualquer religião a um segundo plano. Prevalecia a ideia de uma ciência sem religião e anticlerical – inclusive na capital do estado.

Na tentativa de remar contra essa maré, a Igreja Católica de Curitiba procurou reagir. Para isso, aliou pesquisa, ensino, tecnologia e cultura aos ideais católicos e deu início em 19 de março de 1929 ao círculo. A entidade começou com 11 personalidades que escreveram seus nomes na história paranaense, como José Loureiro e Bento Munhoz da Rocha Netto (veja lista). A primeira reunião ocorreu há 85 anos, no dia 4 de setembro. Durante 16 anos, eles se reuniram em suas próprias casas até que, em 1945, foi construída a sede própria, situada na Rua XV de Novembro, no Centro da cidade.

Segundo o atual presidente do CEB e reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Waldemiro Gremski, a fé estava em xeque naquele período. "A Igreja Católica reuniu um grupo de intelectuais que pudessem fazer pesquisa, escreverem artigos e livros. Também apoiaram a criação de jornais na cidade para reagir frente àquela realidade", conta. Ele acrescenta ainda que o CEB reuniu pessoas dos mais diversos ramos, como políticos, religiosos, profissionais liberais, médicos e advogados.

Legado

Se não fosse o CEB, talvez o rumo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) fosse outro. A principal contribuição foi justamente conseguir a manutenção da universidade, que corria riscos na segunda metade de década de 1940.

Criada em dezembro de 1912, liderada por Victor Ferreira do Amaral e Silva, a instituição levava a alcunha de Universidade do Paraná. Três anos depois, em 18 de março de 1915, um decreto federal exigia que as universidades fossem equiparadas a estabelecimentos oficiais e tivessem cinco anos de funcionamento em localidade com população superior a 100 mil habitantes.

Sem poder levar mais o nome de "universidade", a instituição recorreu à estratégia, em 1918, de separar as faculdades de Direito, Engenharia e Medicina, concedendo-lhes autonomia de ensino, mas mantendo-as no mesmo edifício sob uma única diretoria.

Durante cerca de 30 anos buscou-se restaurar a universidade. Foi aí que o CEB ‘salvou’ a instituição. Entre 1935 e 1936 o círculo já havia criado o primeiro curso de Filosofia no estado, transformado em faculdade em 1938. Para a UFPR voltar a ser universidade, era preciso por questões legais ter um curso de Filosofia. Os irmãos maristas acabaram cedendo, em 1946, a Faculdade do CEB para a universidade. "Se não fosse isso, o destino da UFPR poderia ser outro", ressalta o presidente do círculo.

Onde fica

O Círculo de Estudos

Bandeirantes está localizado na Rua XV de Novembro, 1.050, no Centro de Curitiba. Telefone (41) 3222-5193.

As origens da PUCPR estão ligadas ao CEB

Logo após ceder a faculdade de Filosofia para a Univer­sidade do Paraná, os idealizadores do Círculo de Estudos Bandeirantes (CEB) criaram uma faculdade, também de Filosofia, em 1949. A ideia era dar continuidade aos ideais católicos voltados ao ensino, criando assim a primeira instituição particular de ensino superior no Paraná. Depois, passou a se chamar Faculdade Católica de Filosofia, Ciências e Letras de Curitiba e Universidade Cató­lica do Paraná (em 1959). Hoje, atende por PUCPR. "A criação da nova faculdade pelo CEB foi a semente para a criação do que hoje é a PUC", afirma o presidente do círculo e reitor da instituição, Waldemiro Gremski.

Atualmente, o círculo é local de estudos e pesquisa, com acervo bibliográfico de quase 20 mil exemplares, reunidos em 7.781 títulos, com obras raras dos séculos 17, 18, 19 e 20, além de manuscritos, periódicos e documentação histórica. Segundo a diretora do CEB, Kátia Biesek, a consulta aos livros pode ser feita por qualquer pesquisador e o espaço pode ser visitado gratuitamente. "O material que temos é muito rico. Aqui foi uma espécie de berço para estudos e para a intelectualidade do Paraná", ressalta.

Segundo Gresmki, o CEB também tem por finalidade incentivar estudos de interesse nacional por meio de pesquisas, conferências e publicações, estimulando trabalhos referentes à cultura, de modo especial na esfera regional paranaense. A instituição, que desde 1987 é administrada pela PUCPR, possui ainda coleções e arquivos de famílias tradicionais do estado, além de obras de arte e mobiliários antigos. Além disso, muitos debates e palestras, com intelectuais da Europa, já foram promovidos pelo CEB.

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