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Ausência de plano de carreira para a base desmotiva soldados da Polícia Militar a continuar na corporação | Brunno Covello/ Gazeta do Povo
Ausência de plano de carreira para a base desmotiva soldados da Polícia Militar a continuar na corporação| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo

Mudança implica em aumento de cerca de R$ 300

A cada promoção, um praça – seja soldado, cabo ou sargento – passa a ganhar um aumento de cerca de R$ 300 no valor do subsídio inicial. Um soldado, cuja remuneração inicial é de R$ 3.651, passaria a receber R$ 4.016 a partir do momento que fosse promovido a cabo. Para o coronel Rui César Melo, ex-comandante da PM paulista, mais importante que o dinheiro é a valorização que a promoção representa aos policiais.

"Não é só salário, mas a promoção tem um efeito positivo na conduta do policial, que se sente valorizado. É um princípio da administração moderna", destaca. "Eu sinto até vergonha de dizer que uma promoção me daria R$ 300 ou R$ 350 de aumento. É vergonhoso", acrescenta um soldado consultado pela reportagem.

"Bicos" viram rotina

Diretamente relacionado ao aspecto financeiro está um problema crônico na Polícia Militar: os "bicos" (policiais que prestam serviços fora da corporação, como segurança ou vigia). A prática é proibida pela corporação, mas é corrente entre os trabalhadores. "Eu não faço, mas não condeno o colega que faz", conta um policial militar.

A Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra-PR) reconhece que muitos praças acabam recorrendo aos bicos como forma de complementar o salário. "O serviço externo é vedado, mas, se você não tem suas necessidades básicas satisfeitas, você acaba buscando uma alternativa para supri-las. Aí, infelizmente, o ‘bico’ acaba entrando", diz Jair Ribeiro Júnior, presidente da associação.

Oficiais

Diferentemente do que ocorre com os praças, a promoção dos oficiais – as mais altas patentes da PM, como tenente, capitão, major, tenente-coronel e coronel – não se dá por meio de concurso interno. Os oficiais podem ascender de duas formas: por antiguidade ou por merecimento.

Quase nove em cada dez soldados da Polícia Militar (PM) do Paraná devem chegar à aposentadoria sem terem sido promovidos uma única vez sequer ao longo da carreira. Eles ingressaram na corporação como soldados e sairão como soldados. A projeção, feita pela Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra-PR), revela a dificuldade dos policiais de base em ascender na atividade e o desestímulo que essa estagnação pode provocar na instituição.

INFOGRÁFICO: Policial precisa prestar concurso interno para ser promovido, mas poucas vagas têm sido abertas

A PM conta hoje com 14.005 soldados. Para serem promovidos a cabo – patente seguinte na hierarquia da corporação – eles precisam ser aprovados em um concurso interno. O problema é que o número de vagas abertas – média de 60 por ano – é insuficiente. De acordo com a projeção, nos próximos 30 anos, apenas 1,8 mil soldados terão conseguido ascender a cabo. Mas 12.225 soldados – 87,3% do total – chegarão à aposentadoria com a mesma patente na qual entraram na Polícia Militar. Seriam necessários 234 anos para que todos os soldados chegassem a cabo e subissem um degrau na carreira.

As dificuldades de progressão não se restringem aos soldados. O mesmo estudo aponta que 2.804 cabos integram o efetivo da PM, mas apenas 150 vagas para curso para sargento foram abertas em cinco anos. O estudo foi encaminhado ao Comando da PM do Paraná, mas a corporação não havia analisado os dados. A instituição deve se manifestar nesta segunda-feira.

Desmotivação

Para o presidente da Apra-PR, Jair Ribeiro Júnior, a dificuldade em progredir na carreira acaba por desmotivar o policial, o que, por consequência, impacta na qualidade do serviço que é prestado à sociedade. Esse engessamento se torna mais expressivo ao atingir os praças – soldados, cabos e sargentos –, que são os policiais que mais fazem serviço de rua, em contato direto com a população.

"Se um servidor público não tem um plano de carreira que atenda a base da instituição, ele acaba se sentindo desmotivado e isso se reflete no atendimento. Quando você liga para o 190, é um policial de base que vai à sua casa. Então, os reflexos disso são sentidos em toda a corporação", pondera.

Dois soldados ouvidos pela Gazeta do Povo que tiveram acesso ao estudo também se mostraram desmotivados diante dos números. Um deles destaca os riscos aos quais os policiais de base estão suscetíveis e diz que pensa em deixar a corporação. "A nossa situação é de estagnação total. Não vale a pena. Eu estou estudando para prestar concursos em outras instituições. A vontade é de deixar a farda", admite.

O coronel Rui César Melo, ex-comandante da PM de São Paulo, avaliou como "muito baixos" os porcentuais de soldados promovidos no Paraná. Ele acredita que a progressão "rigorosa e com critérios" contribui para estimular os policiais. "A promoção tem que ser vista como um estímulo e exerce um efeito muito grande no desempenho dos policiais. Os números deveriam ser o contrário [87% deveriam ser promovidos antes da aposentadoria]", avalia.

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