
A morte do estudante Osíris Del Corso, de 22 anos, baleado com a namorada no Morro do Boi, na praia de Caiobá, em Matinhos, no fim de janeiro, chamou a atenção para a falta de segurança no litoral do Paraná. O homicídio que chocou a população é uma amostra da escalada da violência na região e engrossa uma lista de quase cem pessoas que morreram no litoral em 2008. De janeiro a dezembro do ano passado, 97 pessoas foram assassinadas em Paranaguá e região, contra 66 em 2007 um salto de 47% e uma média de 35 homicídios por 100 mil habitantes.
A maioria dos crimes registrados no litoral tem relação direta com o tráfico de drogas, tanto na opinião de autoridades policiais quanto para os moradores que convivem com a insegurança. Para o chefe da 1ª Subdivisão da Polícia Civil, Valmir Soccio, a disseminação das drogas principalmente o crack é responsável pelo aumento da violência no litoral. Os entorpecentes chegam à região não apenas pelo Porto de Paranaguá considerado uma das principais portas de entrada do tráfico internacional , mas também por meio de pequenos traficantes.
Nos três primeiros meses deste ano, a situação permanece grave. O Instituto Médico-Legal (IML) de Paranaguá, que atende todo o litoral, já registrou 37 crimes violentos desde 1º de janeiro de 2009. Deste total, 73% foram cometidos com arma de fogo. Em números absolutos, Paranaguá aparece em primeiro lugar, com 17 casos; seguido de Guaratuba, com 12; Pontal do Paraná, 5; Antonina, 2, e Morretes, com apenas 1 caso. Porém, proporcionalmente à população, Guaratuba é o município mais violento. A cidade tem 30,7 mil habitantes, contra 133,6 mil em Paranaguá, segundo o Ipardes de 2007.
Portelinha
A percepção do delegado Soccio e daqueles que vivem na região é mesmo de que Guaratuba tem tido casos mais brutais. Somente na última semana, foram cinco assassinatos cometidos em uma mesma região da cidade, a Vila Esperança ocupação também conhecida por moradores dos bairros vizinhos como Portelinha.
"Ninguém entra sem autorização e ninguém sai se eles (os donos dos pontos de droga) não quiserem. É lá que se escondem os piores bandidos que você pode imaginar. Tem gente até de Foz (do Iguaçu) que traz drogas para vender por aqui", afirma um comerciante da redondeza, que não quer se identificar por medo. Esse sentimento é comum em toda a região.
Há 15 dias presidindo a delegacia de Guaratuba, o delegado Messias Antônio Siqueira afirma que as trocas o comandante da PM da região também foi substituído nasceram de um entendimento por parte da Secretaria de Segurança Pública diante da insegurança pela qual a cidade estava passando. Para ele, o usuário de drogas é o que alimenta o crime organizado. A maioria das mortes é causada por acerto de contas e os envolvidos têm passagem pela polícia. Muitos deles são moradores da ocupação.
Para Ângela Maria Inácio, de 37 anos, e Jonas Qualhato, 42, o lugar ainda é um paraíso se comparado com a cidade de Inhumas (GO), de onde o casal veio há oito anos. Eles mantêm grades nas portas da assistência técnica de produtos eletrônicos que administram, para prevenir a ação de ladrões. Ângela lembra que era comum ter que vir até a loja na madrugada por causa de arrombamento. Próximo à ocupação, ela conta que a violência é generalizada e que os cuidados têm que ser constantes. Em uma entrega de produto na Portelinha, foi interceptada por 14 homens. "É muito triste ver tanta pobreza. Aqui não tem emprego, só a informalidade. No ano passado, eu vi chegar um caminhão cheio de papeleiros ."
Para a comerciante Regina Ozaki, de 62 anos, a situação vem piorando nos dois últimos anos. Na época de temporada, a presença policial é mais efetiva. "Quando acaba, os moradores têm que se prevenir como podem com a colocação de alarmes, câmeras e grades". Na sua opinião, os crimes sempre têm motivação da droga: ou para a compra do produto ou em decorrência de acertos de contas.
Precariedade
A violência se reflete nas delegacias superlotadas da região. No dia 22 de março, 27 presos fugiram da delegacia de Guaratuba. A cadeia, que tem capacidade para 26 detentos, abrigava 70. Segundo Siqueira, já foram recuperados 16. A cadeia de Pontal do Sul está sob intervenção da Justiça desde 11 de março. Com capacidade para 18 detentos, o local está sendo reformado e adaptado para voltar a abrigar presos. Os 50 presos que estavam dispostos nas duas celas disponíveis, na ocasião, foram transferidos para o Centro de Triagem, em Piraquara.



