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Minutos antes de o muro de Berlim ser derrubado, em 1989, os estudantes sobem a construção: ao fundo, o portão de Brandemburgo | Reprodução
Minutos antes de o muro de Berlim ser derrubado, em 1989, os estudantes sobem a construção: ao fundo, o portão de Brandemburgo| Foto: Reprodução
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Muitas vezes, sem que as pessoas percebessem a presença dela, a fotojornalista alemã Barbara Klemm, 72 anos, registrou os bastidores da História da Alemanha, principalmente nos anos 70 e 80. Foi no meio da multidão, por exemplo, que ela conseguiu acessar a única escada que havia para subir no muro de Berlim, em 1989: de lá registrou as últimas cenas antes de o muro vir abaixo.

"Quando soube que iam derrubar o muro, peguei um avião (de Frankfurt) e fui correndo até Berlim. Não poderia perder aquele momento", diz. Barbara ficou em cima do muro em companhia de vários outros jovens. Ela se lembra que queria subir para ver o que estava ocorrendo do lado de lá do muro (na Alemanha Oriental). "As garotas brincavam com os policiais do lado oriental. Mas eles ainda permaneciam retraídos." O muro, aliás, foi fotografado por Barbara em diversos momentos, principalmente na década de 70, em tons que lembram isolamento e prisão. "Uma vez estava perto da construção e vi que uns policiais batiam no muro. De repente uma pequena porta se abriu e eles atravessaram para o outro lado."

Ter acesso à Alemanha Orien­­tal não era algo fácil. Somente em três ocasiões os jornalistas e fotógrafos podiam ir até lá: quando havia al­­gum festival, em uma feira chamada Leipzig e na festa dos trabalhadores. Fora isso, era possível entrar apenas com muitas explicações e sempre com um monitor que ia ao lado do fotógrafo orientando o que podia ou não ser fotografado. "Eu sempre acordava muito cedo e saía pelas ruas fazendo fotos sem os mo­­nitores. Fiz isso também quando estive na Polônia. Quando en­­tra­­­va no outro lado da Alemanha era bem desagradável. Vi muita de­­ficiência no atendimento à comunidade, as casas eram mal cuidadas a havia poucos alimentos. O aquecimento era com carvão e o cheiro que ficava nas ruas era diferente. Digo até hoje, quando sinto cheiro de carvão, que ele lembra o cheiro do Leste."

Bastidores

Foi com discrição que Bárbara conseguiu suas melhores imagens. Assim ela conseguiu adentrar uma reunião de políticos e fotografar os ministros do exterior da Rússia e da Alemanha negociando a reunificação alemã. Eles nem a viram. Certa vez, Barbara conseguiu entrar no Leste alemão e chegar bem próxima dos comandantes do oriente. "Era uma foto que jornalistas do oeste não podiam fazer: eu coloquei a máquina na bolsa e me aproximei discretamente. Não havia desconfiança porque, à época, poucas mulheres exerciam esta profissão. Tirei a câmera rapidamente e fiz a imagem."

Foi ela também que registrou o momento em que o Papa João Paulo 2.º visitou o campo de concentração de Auschwitz e os reatores atômicos que funcionavam na antiga Tchecoslováquia – diga-se de passagem – proibidos de serem fotografados. Em Moscou, Bárbara congelou imagens do país após a queda do comunismo e quando as grandes marcas norte-americanas começaram a invadir a Rússia. Viu, ainda, estudantes em Frankfurt em manifesto, em 1972, contra a Guerra do Vietnã.

Exposição

A mostra de fotografias de Barbara Klemm foi aberta ao público na última quinta-feira na Casa Andrade Muricy – com o apoio do Instituto Goethe – e fica em exposição até 11 de março do ano que vem. Além das fotos dela, estão em exposição as imagens do fotógrafo Erich Salomon, um dos profissionais que antecipou os métodos dos paparazzi de hoje, mas sem o enfoque sensacionalista. Ele fazia fotos que mostravam o hábito da elite política e social da época – morreu assassinado em Auschwitz em 1944.

Serviço

Casa Andrade Muricy. Alameda Dr. Muricy, nº 915. Horários: de terça à sexta das 10h às 19h e no sábado e domingo das 10h às 16h.

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