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Alunos do Grupo Escolar D. Pedro II, em Curitiba, em 1928: arquitetura de escolas de centro urbanos eram mais ostentadoras do que a as do interior | Acervo/ Memorial Lysimaco Ferreira da Costa
Alunos do Grupo Escolar D. Pedro II, em Curitiba, em 1928: arquitetura de escolas de centro urbanos eram mais ostentadoras do que a as do interior| Foto: Acervo/ Memorial Lysimaco Ferreira da Costa

Os alunos

que frequentavam as primeiras escolas gratuitas do Paraná não eram pobres ou carentes. Eles tinham condições de comprar uniforme, material escolar e não precisavam fazer trabalhos domésticos. Ou seja, a escola pública era para todos, mas só alguns se inscreviam. Os primeiros alunos frequentaram aulas multisseriadas e, quando os professores acreditavam que eles tinham aprendido, os pupilos eram enviados a universidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Uma nação só é evolui e se moderniza se oferecer à sua população a oportunidade de estudar. Foi a partir dessa ideia – que se expandia pela Europa e Estados Unidos no século 19 – que o estado do Paraná acordou, quase um século depois, e começou a projetar as primeiras escolas gratuitas, erigidas com verbas públicas. A concepção do que seria um edifício escolar projetado apenas para este fim foi inspirada nos princípios de ordem, controle e disciplina encontrados em tratados arquitetônicos e códigos sanitários municipais.

Afinal, quanto tempo uma criança conseguiria ficar sentada e em que ambiente isso seria possível para que ela pudesse aprender sem adquirir doenças? O resultado desse questionamento é visto até hoje no espaçamento entre carteiras, nas formas de iluminação e ventilação e, principalmente, na distribuição das salas de aula (separadas por corredores), das salas da direção. "É um conceito arquitetônico adotado também por hospitais e conventos. Precisa ser projetado de forma que possa ser administrado. Como controlar quem entra e sai da escola e quem terá contato com os alunos? Não é algo demoníaco, mas racional", explica Elizabeth Amorin de Castro, autora do livro Ginásios, Escolas Normais e Profissionais, em conjunto com a pesquisadora Zulmara Clara Sauner Posse. O "demoníaco" proferido por Elizabeth é uma resposta ao que muitos pedagogos condenam: a teoria da Torre da Vigilância, de Foucault, interpretada por alguns educadores como um lugar de constante monitoramento, algo negativo. "É uma demanda administrativa do espaço educativo. Não se pode perder alunos, é preciso cuidar deles", diz Elizabeth.

Guerra dos sexos

Meninas para um lado e meninos para outro. Outra característica arquitetônica que demonstra a concepção do que seria uma escola está na simetria dos prédios que abrigaram colégios que separavam alunos por sexo. A divisão perdurou até por volta de 1955.

Mas engana-se quem pensa que a primeira escola de Curitiba, o Grupo Escolar Xavier da Silva (1903), tenha adotado todos os parâmetros projetados pela cultura higienista. "Por mais que a lei apontasse como deveria ser a escola pública, nem todos mudaram imediatamente, até porque nem sempre o espaço do terreno comportava tudo o que era exigido", explica Zulmara. Antes do Xavier da Silva, havia o Liceu de Ofícios em Curitiba, construído em 1857, em uma época que ainda não estava claro como deveria ser esta espacialização, que se intensificou apenas no século 20.

Ao mesmo tempo em que se pensava na distribuição dos espaços, os governantes queriam mostrar o que edificavam. Por isso, as escolas das zonas urbanas centrais eram muito mais ornamentadas do que as rurais. "Eram um símbolo do Estado e do poder. As Escolas Normalistas mostram muito bem isso, pois costumavam ser as edificações mais imponentes, onde se formavam as professoras", afirma Zulmara.

O Ginásio Paranaense, de 1904, é um símbolo das escolas secundárias que estavam no topo da hierarquia. Foi até 1922 que a construção de ginásios e escolas normais se intensificou. A partir da década de 30, acompanhando a ocupação do território paranaense e a necessidade de mão de obra especializada, começaram a surgir as escolas profissionais e rurais.

Interior

Escolas profissionais eram alternativa para evitar o êxodo rural

O governo do Paraná já havia dado conta de que a população rural, com a formação das escolas nos centros urbanos, havia começado a migrar. Para evitar ainda mais o êxodo rural, então, surgiam as primeiras escolas rurais do estado, com uma arquitetura bem mais simples que a dos ginásios. Elas também foram construídas para acompanhar a ocupação territorial no interior.

No livro Ginásios, Escolas Normais e Profissionais foram estudadas 20 delas. Todas as construções, edificadas entre 1930 e 1960, ainda existem hoje. Só em Curitiba foram três: a Escola de Capatazes e Operários Rurais (1932), A Escola dos Trabalhadores Rurais Dr. Carlos Cavalcanti (1933) e a Escola de Trabalhadores Rurais de Campo Comprido (1942). "A ideia era preparar os alunos para o trabalho no campo, mas, inicialmente todas são urbanas, construídas em regiões mais afastadas, para abrigar órfãos, abandonados e pequenos infratores e, assim, lhes dar uma profissão", explica Elizabeth Amorin de Castro, uma das autoras do livro. Algumas destas escolas, depois, se transformaram em unidades sociais e correcionais. "Elas surgem logo após a abolição da escravatura, quando surgem duas gerações de mão de obra ociosa que precisam de escolas profissionais", lembra Zulmara Clara Sauner Posse, também autora do livro.

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