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Pais de Diogo Chote: “Estamos destruídos. O que nos alimenta é a mágoa da polícia" | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Pais de Diogo Chote: “Estamos destruídos. O que nos alimenta é a mágoa da polícia"| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Sob a sombra de uma suspeita

Na linha tênue entre a diminuição da criminalidade – cobrada exaustivamente pela população – e a necessidade de não fazer de inocentes criminosos , não é raro ver operações desastrosas da polícia, com consequências lamentáveis principalmente para os familiares dos mortos. Para Douglas Chote, irmão de Diogo, 24 anos, morto por policiais do 20º Batalhão da Polícia Militar, na madrugada do dia 4, no bairro Santa Cândida, o caso não passou de uma execução policial. Desde a semana passada, o crime virou inquérito a ser apurado pelo Ministério Público. São duas versões e uma certeza: Diogo foi morto com três tiros no peito e um no olho.

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A tênue linha entre o erro e o acerto

Respiração curta, mudança de entonação da voz e falta de audição são alguns dos sintomas que policiais envolvidos em confrontos sentem ao se deparar com um alvo. O subcomandante da Companhia de Choque o capitão Luis Marcelo Maziero Jakiemir, diz que essas características são comuns a qualquer pessoa que precisa enfrentar o perigo. "O medo bom é necessário para dar a segurança da situação. São nesses momentos que você percebe a força que tem."

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  • Confira os dados de mortes provocadas pela polícia

A cada três dias, em média, uma pessoa morre em confronto com a Polícia Militar em Curitiba e região metropolitana. Vinte e seis abordagens policiais resultaram em 43 mortes de 1º de janeiro a 26 de abril deste ano, segundo levantamento da Gazeta do Povo. Mesma apuração aponta que nove policiais foram mortos em 2009, em confronto com marginais.

A vítima quase sempre chega morta ao hospital e a polícia diz ter encontrado em seu poder um revólver calibre 38. O perfil varia pouco: sexo masculino, cor parda, entre 18 e 25 anos, envolvido em roubo a carro ou estabelecimento comercial. Em 2008 foram 98 mortes em 68 confrontos com policiais, 31 delas de janeiro a abril, o que indica aumento de 24% se comparado a igual período de 2009.

Para o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, o promotor Leonir Batisti, o problema é alarmante. O Gaeco retornou aos trabalhos em agosto de 2008 e há apenas quatro casos de mortes cometidas por policiais sendo investigados: o de André dos Santos Neves, 21 anos, da Vila das Torres; um caso antigo ocorrido em Campo Largo; o de João Machinoski, 50 anos, morto por engano em uma operação do Denarc e da polícia reservada em Balsa Nova; e o do casal encontrado morto no bairro Tatuquara, ano passado. Os dois últimos estão definidos e já foram apresentados à Justiça.

O promotor avisa, porém, que têm sido frequentes as ocorrências em que os policiais assumem a responsabilidade. "É preciso que a imprensa, a população, a família e a polícia tenham a convicção se que houve ou não uma mera execução". Para agilizar a apuração, tem sido solicitado ao Instituto de Criminalística prioridade e agilidade nos laudos. Batisti conta que as situações causam desconforto em todos os lados. É comum ouvir que "o fulano era vagabundo, era traficante, mas se não prestarmos atenção, vamos começar com um quadro de extermínio."

Transparência

Para o chefe do Setor de Comunicação Social do Estado Maior da PM, major Éveron César Puchetti Ferreira, a possibilidade de erro existe em qualquer ação que não responda a três requisitos como a legalidade (estar dentro do que propõe a lei), a necessidade (se o suspeito tem as referências apontadas e é preciso contê-lo) e a proporcionalidade da força empregada. Instrutor de tiro e professor de técnicas de confrontos armados, ele reitera que quando o policial tem dúvida, geralmente cocorrem falhas. Puchetti admite que elas ocorrem, afinal as pessoas são falíveis. Para que não ocorram, o treinamento tem sido cada vez mais rígido e as cobranças também.

Os testes a que são submetidos os aspirantes visam identificar problemas emocionais e perceber algum desvio de conduta. "É preciso ter medo. Sem ele, não há a preocupação com a própria segurança e a do grupo. Recrutamos os melhores, e só existe o uso da arma quando todas as negociações já estiverem exauridas", diz. "E mesmo assim, quando tudo parece estar contra, a regra é continuar negociando." O major cita um caso ocorrido há mais de dez anos, envolvendo um soldado, para ilustrar as dificuldades que os policiais enfrentam e as consequências que um ato impensado pode ter.

"A viatura percebeu uma atitude suspeita de um carro e resolveu abordar. O motorista, então, começou a furar os sinaleiros. Ao parar em frente da Catedral da Fé, na região de Curitiba, foi emitido ao rapaz a ordem de colocar as mãos à vista. Ele fez o gesto de buscar algo no bolso de trás da calça e o policial atirou com uma calibre 12, na região do rosto. O rapaz estava dirigindo o carro do pai, sem permissão, e não tinha carteira de motorista. Por medo, morreu com a carteira na mão." O policial foi afastado, cumpriu pena e há alguns anos retornou à polícia, mas admite que cometeu um grande erro e pagou por ele, não só na esfera militar, mas na vida pessoal.

Estatísticas

Os números mostram que a Polícia Militar tem procurado reverter o caso de abusos de poder. Em 2007, cerca de 174 casos estiveram sob análise. Já em 2008, foram 646 inquéritos policiais militares (IPM) instaurados para apurar abuso de poder, no estado. Curitiba e região metropolitana respondem a 20% desse valor, segundo Puchetti.

No levantamento pela imprensa, o bairro que mais teve casos de confronto foi o Boqueirão, seguido do Jardim Social, onde quatro homens foram mortos pela Rone. Na região metropolitana, Colombo dispara na frente com nove casos. Seis deles foram cometidos por uma denúncia anônima de que um grupo do PCC iria fazer uma chacina no bairro Monte Castelo.

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