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Baruck, irmão de Hu, é neto do casal de tigres resgatado de um circo onde sofriam maus-tratos | Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Baruck, irmão de Hu, é neto do casal de tigres resgatado de um circo onde sofriam maus-tratos| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

"Repatriação"

Dono de criadouro quer levar tigre Hu para onde já vivem o pai e o irmão

Hu, o tigre que atacou um menino em um zoológico de Cascavel, na região Oeste do Paraná, nasceu no mantenedouro Ary Marcos. No local, ainda vivem o pai e o irmão dele, Baruck. O felino foi doado para o zoológico há três anos devido à superlotação. Com ele, foi também uma fêmea que morreu um ano depois.

Após o incidente, que resultou na perda do braço da vítima, Ary Marcos Borges da Silva diz que já conversou com Ibama para trazer Hu de volta a Maringá. "Vou aumentar o espaço aqui [no mantenedouro] para dar mais segurança e qualidade de vida a eles, inclusive para receber mais animais."

Conforme a assessoria do Instituto, a negociação deve ficar a cargo do próprio dono e da prefeitura de Cascavel, por causa da doação feita. O veterinário responsável pelo zoológico de Cascavel, Valmor Passos, disse apenas que o Ibama tem conhecimento de que o local cumpre as normas técnicas e que as questões jurídicas não seriam comentadas.

Em família

Doador havia alertado o zoo sobre os cuidados para receber o animal

Há três anos, quando doou o tigre Hu para o zoológico de Cascavel, Ary Marcos Borges da Silva alertou sobre os cuidados que os administradores do local deveriam tomar. Hoje, ele critica as condições em que Hu vive no zoológico. Segundo Ary, a jaula é inadequada. "Alguns anos atrás, quando eu fiz a doação do tigre, falei que teria de ter um fosso. Mesmo um fosso tem um risco, porque um tigre desse pode chegar a saltar até sete metros. Ali não é um recinto, ali é um galinheiro onde colocaram o tigre".

Ary afirma que houve negligência por parte das autoridades responsáveis. Para ele, o acidente em que um menino de 11 anos perdeu o braço direito, depois de tentar alimentar o tigre, poderia ter sido evitado. "Você põe uma plaquinha lá, mas muitas crianças não sabem nem ler. Ele [o tigre]teve seus instintos aguçados por 25 minutos. Aquela criança subindo na grade. Não tinha uma autoridade sequer pra coibir a atitude daquele pai, daquela criança."

  • Ary mantém uma relação de respeito com seus tigres. Já teve 17

Ary Marcos Borges da Silva tem sete tigres no quintal de casa. Os animais de "estimação" vivem há sete anos em Maringá, no Noroeste do Paraná. A família cresceu depois que Ary adotou um casal desses felinos que sofria maus-tratos em um circo em trânsito pela cidade. Logo vieram os filhotes. Neto do casal, Hu foi doado há três anos para o zoológico de Cascavel, onde há duas semanas atacou um menino que pulou a grade de segurança e se aproximou do recinto onde ele estava.

VÍDEO: Veja como é a rotina da família felina do tigre Hu

Todos os tigres de Ary nasceram no mantenedouro, permanecendo sob autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e passaram a conviver com os cães que já moravam no local, onde ele mantém um canil. Assim como aprendeu a lidar com os cachorros, o maringaense disse que também foi aprendendo a cuidar dos felinos. Sem medo e com bastante carinho, de acordo com ele, os animais aprenderam a aceitá-lo e a respeitá-lo, inclusive o tom de voz.

Silva conta que no início chegou a abrigar 17 tigres. Os animais eram levados pelo Ibama após apreensão em locais proibidos ou por maus-tratos dos antigos cuidadores. O problema, segundo ele, é que muitos chegavam doentes e acabavam prejudicando a saúde dos outros. Um dos tigres, conta ele, chegou ao mantenedouro com aids felina, uma doença que ataca os sistema imunológico do animal, deixando-o vulnerável às outras doenças. Após ter uma fêmea do local infectada pelo vírus, ele passou a recusar os bichos.

A reprodução também deixou de ser realizada no local. No ano passado, por determinação da Justiça, alegando que o espaço era impróprio para o aumento da espécie, o nascimento de tigres foi proibido por lá, ficando a cargo somente de zoológicos e criadores científicos.

Os animais que restaram continuam fascinando os visitantes, que têm a oportunidade de ver de perto um bicho tão grande e feroz, já que o município não possui um zoológico. Por semana, cada um consome cerca de 30 quilos de carne e 10 litros de leite misturado à ração de gato.

Criador e criação vivem um relacionamentos de respeito. O homem até se arrisca, puxando as "bochechas" e mordendo a boca de Baruck, um tigre de 6 anos e mais de 350 quilos, mas garante que sabe o limite para manter a segurança. "Eles, para mim, são como cães, gatos, mas está no DNA do animal atacar caso se sinta coagido. É preciso respeito", enfatiza ele e garante que nunca houve registro de incidentes por lá.

O veterinário Luiz Almodin, especialista em animais silvestres, visitou o mantenedouro algumas vezes e diz que mesmo tendo costume com o bicho, é preciso manter os olhos abertos. "Para garantir que um animal desse porte tenha tranquilidade, é preciso que seja bem alimentado, que não sofra maus-tratos, mas isso não elimina o risco de um ataque. Não dá para se expor."

Seguindo a recomendação, o tratador José Alves Fernandes Reis trabalha no local desde a chegada dos primeiros moradores e diz que mesmo estando acostumado com tigres, preserva o cuidado. "No começo eu tinha medo; hoje, não. Mas não abuso."

Menino retoma a vida em SP e quer voltar à escola

Vrajamany Rocha, de 11 anos, que teve o braço direito amputado na altura do ombro após ser atacado pelo tigre Hu dia 30 de julho quando tentava dar comida ao animal no zoológico de Cascavel, continuará o tratamento em uma clínica médica de São Paulo, onde trabalha a madrinha dele. O menino ultrapassou a grade de proteção para acariciar e alimentar o felino. O incidente ocorreu durante passeio de férias em Cascavel, onde o pai dele mora. O menino mora na Zona Norte de São Paulo com a mãe e o padrasto.

Segundo a mãe dele, Mônica Fernandes Santos, de 37 anos, Vrajamany recebeu pelo Facebook muitas mensagens de apoio dos colegas da escola. Ele está ansioso para voltar a estudar, mas ainda não há previsão para isso. Destro, o menino terá que aprender a escrever com a mão esquerda. Mônica atribui o acidente a uma fatalidade provocada pela empolgação do filho com a beleza do animal. Após o acidente, a preocupação dele era com o bem-estar do tigre.

Após o ataque, Hu chegou a ser transferido para uma área de manejo e foi devolvido à jaula na segunda-feira. Hu tem 3 anos de idade e está no zoo desde os oito meses.

Em interrogatório feito pela Polícia Civil de Cascavel na sexta-feira, o pai do menino, Marcos do Carmo Rocha, foi orientado pelo seu advogado a se manter calado em boa parte do depoimento. Segundo o delegado Denis Merino, Rocha silenciou quando questionado sobre os detalhes dados por testemunhas.

Conheça a família do tigre que atacou menino em Cascavel

O pai e o irmão do tigre Hu vivem em um mantenedouro de Maringá. O dono dos bichos garante que com o tratamento adequado os animais não são ameaça. Antes da doação, Ary chegou a alertar o zoo sobre as falhas de segurança no local do acidente.

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