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Veja a comparação do Índice de Felicidade Futura entre os países |
Veja a comparação do Índice de Felicidade Futura entre os países| Foto:

Não basta acreditar, é preciso participar

Alerta é da coordenadora do curso de Relações Inter­na­cionais do UniCuritiba, Angela Moreira. "O otimismo quanto ao futuro está ligado à prosperidade econômica, devido a essa euforia que o Brasil vive", analisa. "Mas não vemos, por exemplo, as pessoas preocupadas ou mobilizadas para solucionar problemas ambientais, lutar pelos direitos humanos ou combater a corrupção."

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Segundo especialistas, transformações recentes, como o aumento na renda, explicam essa postura positiva. O "jeitinho" brasileiro de ser feliz, claro, também faz diferença

Máquinas em guerra contra humanos. Catástrofes ambientais que dizimam países inteiros. Vírus misteriosos responsáveis por reduzir a população a poucos grupos errantes. Embora o cinema insista em, volta e meia, apresentar uma visão pouca animadora para o futuro, a história recente mostra que existem razões para otimismo. A qualidade de vida de milhares de pessoas vem melhorando, fruto de uma onda de desenvolvimento que finalmente chegou a países como China, Índia e Brasil.

O otimismo do brasileiro, porém, ultrapassa o dos concorrentes emergentes. Segundo uma pesquisa do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV): entre 144 países, o Brasil é o primeiro quando o assunto é otimismo em relação ao futuro. A liderança no pensamento positivo reflete em parte um traço de personalidade do brasileiro, aquele "jeitinho" de ser feliz com pouco. Mas não é possível desprezar que de fato a pesquisa reflita as perspectivas abertas pela redemocratização e a estabilidade econômica que marcaram as duas últimas décadas.

"Somos mais felizes do que o nosso dinheiro no bolso sugere. Os europeus, historicamente, são menos otimistas", analisa o economista Marcelo Cortes Neri, coordenador da pesquisa da FGV. "Mas o ponto é que no Brasil a média de renda está subindo mais do que o próprio PIB, enquanto na maioria dos países ocorre o oposto. O povo brasileiro está otimista, mas há razões práticas para isso, como a queda da desigualdade e o aumento do poder aquisitivo."

Os dados do estudo mostram que há uma relação direta entre o "sentir-se bem" e o dinheiro no bolso: para cada 10% de incremento de renda, a sensação de felicidade sobe 1,5%. Essa sensação, inclusive, foi a origem do Índice de Felicidade Futura (IFF) calculado pela FGV. Mais de 150 mil pessoas foram questionadas em todo o mundo sobre o quão bem se sentiam naquele ano, por meio de uma nota de 0 a 10, e sobre qual era a expectativa para os próximos cinco anos. No Brasil, a nota foi 7 para a felicidade presente (ou em 2009, ano em que as entrevistas foram feitas) e de 8,7 para a felicidade futura (o horizonte da resposta era 2014). A média global para a felicidade futura foi de 6,5 (veja quadro ao lado).

Previsão

Prever o futuro ainda é uma arte inexata – até porque bolas de cristal e cartas de tarô não costumam ser muito confiáveis. Uma boa análise do passado e do presente, porém, pode revelar projeções e tendências. Divulgado no fim do ano passado, o relatório de 20º aniversário do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) reforça algo que os nostálgicos refutam com veemência: o mundo hoje é um lugar melhor para se viver do que nas quatro décadas passadas. Em geral, as pessoas têm mais saúde, maior riqueza e melhor educação do que antes.

"No Brasil, podemos projetar os próximos 50 anos como um tempo de grandes transformações sociais e econômicas à frente", arrisca o doutor em Sociologia e professor da PUCPR Lindomar Wesler Bonetti. "Temos necessidade de avanços em áreas como saúde, educação e infraestrutura. Por outro lado, é preciso compreender que tudo tem limites. Chegará um ponto em que as coisas vão se estagnar."

Os céticos podem argumentar que ver o futuro com otimismo é da natureza humana – na pesquisa da FGV, aliás, a felicidade futura é sempre maior do que a presente. É inegável, no entanto, que a combinação de globalização da economia de mercado, com seu incentivo à inovação e à produção de riqueza, e a democratização crescente ao redor do globo, que tende a sustentar governos preocupados com a vida de seus cidadãos e a liberdade individual, criou um campo propício para os otimistas. O que se vai argumentar nos textos a seguir é que, apesar dos problemas, essa evolução é tangível.

Meio ambiente

Garantir a sustentabilidade ambiental é um dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio propostos em 2000 pelas Nações Unidas (ONU). O desafio maior é conter o aquecimento global, o que vai exigir uma combinação de mobilização mundial e avanço tecnológico. A História mostra que isso é possível. Em 1985 e 1987, encontros com a participação de 180 países definiram ações para a eliminação da produção e consumo de substâncias que agridem a camada de ozônio, especialmente as da família do CFC. Com a assinatura do Protocolo de Montreal, a indústria inovou para substituir essas substâncias e os países implementaram a proibição. O esforço exigido agora é maior, mas a simples existência de um fórum científico global para debater as mudanças climáticas (o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU) é razão para algum otimismo.

Desenvolvimento humano

O Relatório de Desenvolvimento Humano 2010 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostra que a maior parte dos países em desenvolvimento fez progressos profundos em saúde, educação e renda nas últimas quatro décadas. Os maiores avanços ocorreram nos países mais pobres, como Etiópia, Camboja e Benim. Globalmente, a evolução no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aponta que, nos últimos 40 anos, a esperança de vida subiu dos 59 anos para 70 anos e a média do PIB per capita duplicou para mais de US$ 10 mil. A tendência, segundo a ONU, é de convergência em relação à longevidade no mundo, com os níveis dos países pobres aproximando-se cada vez mais dos existentes nos países desenvolvidos. O desafio agora é manter essa evolução sem aumentar a desigualdade.

Saúde

A evolução da Medicina e da saúde foi mais do que considerável nos últimos 100 anos, seja por meio de diagnósticos mais precisos, produção de medicamentos ou prevenção à doenças. É nessa última área, inclusive, que epidemais globais, principalmente as de gripe, puderam ser evitadas nas últimas décadas. Entre 1918 e 1919 ocorreu uma das principais epidemias de gripe, que matou 1% da população mundial – a chamada Gripe Espanhola. Em 2009, o vírus da gripe A H1N1 assustou o planeta e testou os mecanismos de reação de organismos como a Organização Mundial da Saúde e de centros de pesquisa. Em poucos meses, foi criada uma vacina específica para o vírus, e países afetados, incluindo o Brasil, fizeram vacinações em massa para imunizar a população.

Educação

Nos últimos 40 anos, as matrículas escolares aumentaram globalmente de 55% para 70% das crianças em idade escolar. No Brasil, estudos do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) registram um aumento da quantidade de pessoas estudandos nos diferentes níveis de escolaridade, desde a pré-escola até o ensino superior. Em 2009, por exemplo, mais de 95% da população de 7 a 14 anos frequentava a escola. Para o economista e professor de Economia da UFPR Cassio Rolin, o desafio para os próximos anos não é universalizar ainda mais a educação no Brasil, mas sim qualificar o ensino, tanto nas escolas quanto nas universidades. "É verdade que há mais pessoas estudando no ensino superior. Agora precisamos levar em conta que 75% dos universitários estão em instituições com baixa qualificação", afirma.

Paz mundial

No século 20, duas guerras mundiais deixaram marcas profundas e causaram transformações em todo o mundo. Para a coordenadora do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba, Angela Moreira, as chances de novos conflitos globais nas mesmas proporções são mínimas. "Hoje, há um equilíbrio de poder entre Estados Unidos, União Europeia e China, cada um com seus aliados. Esses países não querem fazer uma guerra que envolva grandes gastos de energia ou de recursos", diz Angela. É verdade que há mais de uma dezena de guerras em andamento no mundo, muitas delas atingindo civis, mas o número de conflitos e mortos em guerra vem caindo. Segundo o Human Security Report, o número de conflitos internacionais iniciados por ano caiu de seis nos anos 50 para menos de um na última década. Em contrapartida, o número de países democráticos dobrou no período, chegando a 60 em 2008.

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