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Se você se surpreendeu com os nomes dos dois boxeadores brasileiros que estão levando medalhas nos Jogos Olímpicos de Londres, Esquiva e Yamaguchi, espere até ouvir o nome do pai deles: Touro Moreno, o homem que entrou para a Galeria dos Incríveis Pais de Atletas.

Esta galeria não existe, mas deveria existir. Faria jus a grandes figuras sem as quais faltaria atleta para fazer uma Olimpíada daquele tamanho – os pais que cultivam sonhos em relação a seus filhos e, com mão de ferro, os levam a realizá-los. No caso de Touro Moreno, o sonho era a vitória nos ringues. No caso da mãe de Julião Neto, outro pugilista, o sonho é que ele desse certo na vida, escapando do destino violento de muitos meninos nascidos em condições de pobreza na periferia de Belém. Sonho comum, de mãe, mas ainda assim um grande sonho.

Touro Moreno Falcão é um senhor de 75 anos que vive em um lugarejo chamado Jacaraípe, no município de Serra, na Grande Vitória. Foi descrito pelo cineasta capixaba Juliano Enrico como um "senhor com cara de Einstein, corpo de Stallone e falando como o Didi Mocó". Deu para imaginar? Saberemos mais sobre ele, que está virando tema de um documentário, ainda em produção.

Por enquanto, sabemos que, pobre, briguento e obcecado por esporte, Touro Moreno não foi levado a sério durante quase toda a sua vida. Foi temido, isso sim; afinal, era capaz de enfrentar vários homens de uma vez só. Mas respeitado, não. Teve 18 filhos em três casamentos e tentou que os meninos seguissem seus passos. Treinava-os em casa, esmurrando bananeiras no quintal e correndo nos caminhos de terra da zona rural. Deu certo com Esquiva e Yamaguchi (este nome japonês é uma homenagem a um vizinho que morreu assassinado).

Na Galeria dos Incríveis Pais de Atletas deve entrar também a mãe do paraense Julião Neto, cujo nome não descobri. Ele foi eliminado nas oitavas de final da categoria peso-mosca. Antes, havia dito que dedicaria o título olímpico à mãe, que o criou sozinha desde que ele tinha 6 meses, quando o pai morreu. Frase do atleta: "Minha mãe dizia para estar em casa até as 22 horas, senão ela me batia. Foi o que me salvou; onde moro todo mundo virou assaltante ou morreu". Em outra entrevista, Julião contou que não gosta de falar de sua vida pessoal porque "dá vontade de chorar". Pelo que entendi, não é que ele tenha vontade de chorar de pena de si mesmo. É que se acha um vencedor.

Julião, rosto de caboclo como os irmãos Falcão, nasceu no meio do mato, na Floresta Amazônica. Ele faz parte do grupo de 15 boxeadores convidados pela Marinha a se tornarem militares em troca da possibilidade de treinar e de um salário de R$ 1,5 mil. "Lá é tudo na base do ‘sim, senhor’", conta o pugilista bem comportado. Agora, mora em São Paulo e está muito feliz porque tem "uma casinha alugada" e conseguiu trazer a esposa para ficar com ele.

Eu andava achando a equipe brasileira que foi aos Jogos de Londres pobre em grandes figuras, daquelas que rendem assunto nos almoços de domingo. Agora descobri por que: as grandes figuras ficaram em casa, torcendo pelos filhos.

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