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Maria Christina de Andrade Vieira: a cultura como principal patrimônio | Luiz Costa
Maria Christina de Andrade Vieira: a cultura como principal patrimônio| Foto: Luiz Costa

A morte de Maria Christina de Andrade Vieira, 60 anos, ontem, em Curitiba, deixa uma tarefa para os pesquisadores da cultura na capital do estado: investigar a influência da empresária no campo das artes nas mais de duas décadas em que atuou no setor. Desde 1.º de janeiro deste ano, Maria Christina estava à frente da presidência da Fundação Cultural, a FCC. Era, com folga, um nome justo para o cargo.

O trabalho mais popular da fi­­lha de Avelino Vieira – o fundador do extinto Banco Ba­­me­­rindus – foi o Natal do Palácio Avenida, criado em 1991, ainda hoje na agenda da cidade, atraindo turistas e a mídia nacional. Mas a lista de feitos ultrapassa as janelas que se abrem com pequenos cantores. Na década de 1990, o mesmo palácio servia de sede para badalados cursos de cinema, teatro e literatura promovidos por Christina. Cu­ri­tiba, sob sua curadoria, se tornava mais cosmopolita e pensante.

Não era uma fachada. Em 1998, depois da propalada falência do Bamerindus, Maria Chris­tina alçou a lista dos livros mais vendidos do país com Herança. Em entrevista à Gazeta do Povo, na ocasião, garantiu não ter chorado a fortuna perdida. Fez o que lhe ensinara o pai: não olhou para trás e saiu para trabalhar, lecionando Filosofia na PUC e emprestando seu conhecimento em marketing cultural à cidade onde nasceu. Deu um exemplo caro às elites brasileiras: guardava uma fortuna que intervenção financeira nenhuma levaria.

Na ocasião, seu maior feito foi ter criado um instituto no qual catapultou músicos e artistas em geral. Seu trabalho era mediar parcerias entre o mundo do capital e o da criação. Hoje, fala-se com fluidez da economia da cultura, a terceira do mundo. Mas à época o empreendedorismo de Maria Christina custou a ser reconhecido. Diante da resistência da classe artística, partiu para outras paragens. Permaneceu habituée das salas de espetáculo, sempre vista. A escolha para a presidência FCC, da qual se afastou por motivo de doença, dava a entender que o laço anterior seria retomado.

"Lamento muito a perda. En­­quanto esteve na iniciativa privada, foi das mais atuantes no incentivo a projetos culturais", lembra o cineasta Fernando Severo, alfinetando a distância crônica no Paraná entre fortuna e cultura. "Não era o caso dela", completa. "Maria Christina deixou uma marca, principalmente no período em que esteve à frente da Fundação Bamerindus", completa o também cineasta Elói Pires Ferreira.

O "estilo Maria Christina" não escapa a outros setores da sociedade, com os quais dialogou. Depois de sua gestão, a primeira de uma mulher, entre 1992 e 1994, a Associação Comercial do Paraná (ACP) deixou de ser algo burocrático, fazendo-se representar também, é claro, no campo da cultura. "Mesmo após sua gestão ela continuou participando de conselhos. Era dada a realizações e causas nobres", diz o atual presidente da ACP, Edson Ramon. "Uma desbravadora", resume Rodrigo da Rocha Loures, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná. "Uma mulher admirável", nos dizeres do prefeito Luciano Ducci.

O currículo da empreendedora não deixa mentir. São incontáveis condecorações e reconhecimentos, possíveis graças à formação sólida. Era graduada em Psicologia, com especializações em Antropologia Social e História da Arte. Além de Herança, escreveu o livro de contos Cidade estranha, publicado em 2008 pela conceituada editora Sete Letras. Deixou inacabado um livro sobre o câncer.

Maria Christina era divorciada e tinha três filhos: Antônio Carlos, Mariella e Leonardo.

Serviço:

O corpo de Maria Christina de Andrade Vieira está sendo velado na Capela Vaticano (Rua João Manoel, 62, São Francisco). Hoje, às 11 horas, haverá cerimônia de despedida.

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