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Cleonice tem o desafio de não deixar esmorecer a luta do marido para limpar os rios de Contenda. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Cleonice tem o desafio de não deixar esmorecer a luta do marido para limpar os rios de Contenda.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O agricultor Iolando Wojcik nunca se conformou com os enxames de mosquitos que lhe atormentavam dia e noite. Desconfiava que algum tipo de desequilíbrio ecológico poderia estar acontecendo na vizinhança, mais precisamente no distrito de Catanduvas do Sul, área rural de Contenda, nos arredores de Curitiba. Dito e feito. O problema estava nos rios, que, assoreados, viraram criadouros do inseto.

O ano era 1992. Nascia ali a organização não governamental ECO Rios, uma iniciativa popular com a cara e a coragem de seu fundador e voltada para a conservação dos recursos hídricos da região.

Paradoxalmente, Iolando – que parecia não ter medo de peitar ninguém – volta e meia entrava em conflito com os vizinhos, desafiava interesses de outros agricultores como ele. A bronca era que muitos não faziam o manejo adequado das plantações. Com isso, o excesso de terra e saibro do arado escorria para as ruas e para dentro dos rios a cada chuva forte, criando um baita problema ambiental, com risco à saúde pública por causa dos insetos.

“Ele descobriu que o mosquito se criava na água corrente e no capim. Por isso criou a ONG para limpar os rios”, explica Cleonice Mioduski, viúva de Wojcik. O agricultor morreu em outubro do ano passado, em decorrência de um câncer no intestino.

Alagamentos

Para solucionar o problema, Wojcik abria valas na beira da estrada, evitando que a água com terra chegasse ao rio. Isso diminuiu o assoreamento dos cursos d’água e reduziu o número de alagamentos na região.

Mas o agricultor precisou encarar dificuldades. Recebeu ameaças dos que não concordavam com seu trabalho. “Em 2002, queimaram o nosso barracão. Isso foi poucos dias depois de denunciarmos um agricultor por problemas de assoreamento. As autoridades vieram, multaram a pessoa e o assunto foi para a Justiça”, conta Cleonice.

O legado deixado por Iolando ainda repercute na região, mas a viúva do agricultor não sabe até quando será possível manter o trabalho da ONG. Ela tem o interesse de continuar, mas não encontra apoio do poder público – sem falar no risco de sofrer novas ameaças. “Por enquanto está tudo parado, mas a minha vontade é seguir o que ele sempre quis. Penso em procurar a prefeitura, porque é um bem para todos”, diz.

Enquanto isso, um dos rios que corta a região, e que passa atrás da propriedade de Cleonice, está em processo de assoreamento. O lodo trazido pelas águas se avoluma no fundo do lago, localizado dentro das terras de Cleonice.

Segundo o agricultor Djaine Albino Cfierzoski, 45, amigo de Iolando e que pediu ajuda a ele para limpeza de rios em sua propriedade, o processo se repete em outros cursos de água. O manejo inadequado do terreno, com o uso máquinas que revolvem a terra, é o principal problema. “Eu faço plantio direto, com palha no chão, sem mexer na terra. Mas nem todo mundo faz isso. Cada um tinha que ter consciência de que meio ambiente não é brincadeira”, alerta.

A prefeitura de Contenda informou que sempre considerou o trabalho da ONG importante e que pretende dar apoio às iniciativas no que for possível.

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