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Ortodontia é campeã de denúncias no CRO

Não há dados específicos sobre aparelhos e crianças, mas a Ortodontia é campeã em processos no Conselho Regional de Odontologia no Paraná (CRO/PR). Em 2005, dos 44 processos éticos instaurados, 18 relacionavam-se com essa especialidade. No ano passado, registrou-se o mesmo número de processos.

De acordo com especialistas, a utilização de aparelho buco-dentários tornou-se abusiva. "Instalam dispositivos de qualquer natureza e passam a cobrar. Já tive paciente com sete anos de idade que chegou ao meu consultório com aparelhos com braquetes", recorda o ortodontista e odontopediatra Alaor Brenner Júnior. "É terrível o que alguns profissionais fazem: colocar aparelhos para segurar paciente", afirma a mestre em Ortodontia pela PUCPR, Betina do Rosário Pereira.

Aparelho errado na hora errada pode atrapalhar a dentição, provocar absorção dentária e ainda levar o paciente a ter de fazer cirurgia buco-maxilar. Além disso, como esses dispositivos exigem cuidado redobrado com a higiene, casos de cárie e periodontite (inflamação dos tecidos que envolvem o dente) são ainda mais comuns em crianças com aparelhos.

Para evitar problemas, Brenner aconselha os pais a procurarem um profissional especializado em ortodontia e odontopediatria. Caso não seja possível encontrar um dentista com as duas especialidades, que ao menos seja ortodontista.

Está na boca. A vida de Sharon Spitz, a personagem do desenho animado Sorriso Metálico, que virou febre entre os pré-adolescentes, mudou quando ela colocou aparelho nos dentes. A menina vive as confusões típicas da idade, mas adquiriu "poderes" especiais para lidar com elas a partir do "trilho de trem" colocado em seus dentes. Na vida real, tem criança se espelhando em Sharon: os sorrisos metálicos estão tomando conta da boca da garotada a partir de 7 anos. Entretanto, podem estar ocorrendo abusos na colocação destes dispositivos. Portanto, afirmam especialistas, todo cuidado é pouco.

De acordo com a mestre em Ortodontia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Betina do Rosário Pereira, de modo geral as crianças não devem usar aparelhos. "Eles são utilizados em casos muito específicos", adverte. Para Betina, é importante respeitar a fase chamada "patinho feio" das crianças entre 8 e 12 anos, em que ocorre a troca de dentição. "Se esse espaço for fechado, os caninos não conseguem irromper", diz.

Segundo Betina, os aparelhos são divididos em interceptativos (para previnir uma possível mordida errada) e corretivos (para corrigir mordida errada já constituída). E, normalmente, quando há a recomendação de aparelhos para crianças de até 12 anos são de interceptativos. É o caso de Yaskara Shultz Wismiewski, 8 anos.

Os pais dela notaram que a arcada dentária da menina estava prejudicada pelos anos que ela usou chupeta. Para corrigir o problema, o dentista recomentou que ela utilizasse um aparelho no céu da boca com uma grade que trava a língua. O resultado tem agradado. "Já notamos diferença. Ela já não coloca mais a língua no meio dos dentes na hora de falar", diz o pai, o químico Marcos Antunes Wismiewski, 45 anos.

No embalo do sorriso metálico de Sharon, Yaskara também está gostando da novidade. Ela acha que o aparelho faz com que se destaque na escola. "Antes eu não queria usar porque achava que ia machucar, mas agora eu gosto. É diferente usar aparelho e na escola as outras crianças me perguntam o que eu tenho na boca", conta.

Segundo Betina, crianças com mordida cruzada ou aberta, perda de espaço na troca de dentição, problemas causados por uso de chupeta ou dedo, classe 3 (queixo para frente com mordida para frente) são candidatas a usar um aparelho interceptativo móvel ou fixo, dependendo do caso. Estes fixos, no entanto, adverte Betina, não são aqueles tradicionais com braquetes (quadrados metálicos ou de cerâmica afixados nos dentes com uma canaleta no centro para a passagem de um fio). "Casos de crianças que têm de utilizar aparelhos com braquetes são raríssimos", afirma ela.

Correção

O odontopediatra e ortodontista Alaor Brenner Júnior divide os aparelhos em ortopédicos e ortodônticos. Os primeiros são utilizados com o intuito de readequar o crescimento e desenvolvimento dos maxilares. Já os ortodônticos se preocupam com o posicionamento correto dos dentes e com a sua "engrenagem" perfeita, o que conseqüentemente resulta em uma dentição esteticamente mais agradável.

De acordo com Brenner, são os aparelhos ortopédicos que têm utilização recomendada, em determinados casos, para as crianças – este modelos também podem ser removíveis ou fixos (neste caso, o fixo também não se refere ao modelo com braquete). Segundo o especialista, 45% das crianças apresentam alguma alteração de crescimento dos maxilares e, por isso, precisam de uma atenção especial de várias especialidades médicas, sendo candidatas em potencial para o uso de aparelhos específicos para estes casos.

"Utilizamos o aparelho em criança, por exemplo, quando o maxilar está com crescimento avançado ou retraído. Se ela não usar, pode ter de recorrer a uma cirurgia buco-maxilar", explica Brenner. Segundo o especialista, este trabalho de correção do crescimento das estruturas faciais tem de ser feito a partir de 8,5 anos de idade e deve ser finalizado até os 12 anos. O procedimento não é meramente estético, é ortopédico.

A cozinheira Ana Machado Ferreira, 30 anos, que usou aparelho fixo com braquetes oito anos, faz qualquer negócio para que o filho, André, 9 anos, não tenha que passar pelo mesmo sufoco. Há dois anos, o menino utiliza aparelho móvel. Segundo o ortodontista que o instalou, o dispositivo é utilizado para abrir espaço para os dentes permanentes. "Usando agora talvez ele não precise usar quando grande", explica a mãe. Segundo Brenner, contudo, o esforço pode ser em vão. "Não tem como prever", afirma.

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