• Carregando...

O mecânico industrial Sérgio Luís Krause, 38 anos, se tornou uma figura conhecida na Escola Municipal Maria Clara Tesserolli, no Novo Mundo, uma das nove instituições que integram a fase piloto do programa Comunidade Escola. Pai de Sérgio, 13, e de Amanda, 10, ele faz o tipo participante. Foi numa reunião no colégio que ficou sabendo do projeto. "Captei a mensagem", diz ele, diante de um pátio lotado onde os adultos ainda são minoria.

"Sérgio pai" joga vôlei, futebol e, indiretamente, acaba ajudando as coordenadoras e voluntários a pôr ordem na casa. "Sou morador do Novo Mundo e sentia falta de um lugar seguro para levar meus filhos no final de semana. A praça de esportes mais próxima está na Avenida Wenceslau Brás. Fica fora de mão", lamenta.

É fato. Fosse pela condição financeira de seus alunos ou pelo próprio bairro em si, o Maria Clara Tesserolli, com seus 1.032 alunos de pré a oitava e 67 professores, não teria passado no vestibular do Comunidade Escola. O que falta na redondeza são áreas de lazer e, segundo consta, é aí que mora o perigo. O Novo Mundo é populoso – tem 43 mil habitantes –, está a sete quilômetros do Centro, tem seis escolas municipais e três estaduais, quatro praças e índices de violência de cidade do interior. Outra particularidade do bairro é a pequena população idosa em contraposição a uma população jovem e madura (de 0 a 49 anos) bem distribuida. E além de jovem, o velho Novo Mundo é próspero. Descendo a rua da escola, a João Ribeiro Lemos, via que corta a quase intransitável Avenida Brasília, o que se vê são boas casas, várias delas muito boas.

De acordo com as professoras do Maria Tesserolli, não raro se vê grupinhos suspeitos pelas esquinas. O consenso é de que coisa boa não pode ser. "Temos medo das drogas", diz Vera Cleide de Souza, 45, uma das envolvidas no piloto, sobre um dos fantasmas da classe média. Para a diretora Andressa Duarte Pereira, 30 anos, esse argumento foi o que bastou para reivindicar o Comunidade Escola à Secretaria Municipal de Educação. Teve de fazer figa para sair na frente do Colégio Tasselina Bittencourt, na divisa com o Parolin. De quebra, como o Tesserolli vinha de uma longa tradição de manter parte do espaço aberto para o povo do bairro e tem até quadra coberta, ganhou a concorrência. "Não é de hoje que a escola é extensão da casa dos alunos. Para mim mesma, ficar aqui é terapia", orgulha-se a coordenadora do projeto, Elizabete Marinho, a Betinha, 43, uma espécie de celebridade local.

Na tarde em que a reportagem se misturou ao clima amistoso que rola na escola do Novo Mundo, foi possível confirmar que, na prática, o Comunidade Escola já era uma realidade por ali. Só vendo. Tem pernas-de-pau coloridíssimas encostadas nas paredes. Animadas oficinas de tricô. É a terceira escola mais movimentada do projeto (veja quadro). Na quadra de vôlei, a vendedora Maria Cristina Annes Santos, 31 anos, "se acabava" numa partida. Mãe de quatro filhos, tem três no Tesserolli. "Estudei aqui. Jogo até futebol. É como se fosse o [programa de tevê] Malhação", brinca. Num outro canto da escola, a professora Vera Regina Bianco, da Fundação de Ação Social, faz um círculo 25 idosos: 23 mulheres e apenas dois homens. É uma oficina de dança sênior, com música folclórica e um sucessão de gestos para despertar a coordenação motora, os sentidos e a afetividade. O exercício parece preencher 3.800 metros quadrados do Tesserolli.

Um dos participantes da oficina de dança é o viúvo Galdino Gonçalves, 78 anos, caminhoneiro aposentado e uma espécie patriarca do recém-nascido Comunidade Escola. O homem tem mais histórias do que o Pedro e o Bino do seriado "Carga Pesada". Além das tardes no pátio do colégio, ele está sendo alfabetizado e faz parte do Grupo de Caminhada do Vila Clarice – para hipertensos. A turma toda vai no Tesserolli. Tem quem não tire o olho de Galdino: a aposta é saber se ele anda de namorico com alguém. Praça tem dessas coisas. (JCF)

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]