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Com Ana Beatriz (ao centro), Marisa não teve muita sorte, mas para a filha Letícia conseguiu consulta com o endocrinologista | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
Com Ana Beatriz (ao centro), Marisa não teve muita sorte, mas para a filha Letícia conseguiu consulta com o endocrinologista| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Ao se deparar com a fila para consultas com médico especialista, a empregada doméstica Marisa Cosmo do Nascimento, 32 anos, chega à conclusão de que é difícil encontrar alguém que já não tenha passado por isso ao buscar a rede pública de saúde. E ela tem alguns casos domésticos para exemplificar. Marisa e as duas filhas já precisaram de consultas e tiveram de esperar até dois anos na fila. Quando estava grávida, precisou fazer uma ecografia, que demorou dois meses para sair. Quando chegou sua vez, a filha já tinha nascido.

Algum tempo depois, Ana Beatriz, 6 anos, a filha mais nova, precisou ir a um especialista em doenças alérgicas (alergologista) porque estava com bolinhas pelo corpo, que coçavam bastante como se fossem picadas de inseto. Marisa foi marcar o exame na unidade de saúde e diz ter ouvido que mil pessoas estavam na frente dela. Desistiu e começou a tratar a filha em casa. Ouviu todo tipo de conselho de amigos e familiares e inventou uma cura que não tinha garantia alguma.

"Comecei a mudar a alimentação, a dar mais soja e a fazer comida com mais soja e acabou ajudando. Uma pessoa vai falando aqui e outra ali, para começar a ir na soja. Muitos falaram que era de tomate, outros falaram que não podia comer abacaxi. Não procurei outro médico", diz. Marisa não tinha noção do risco que a filha poderia estar correndo, mas depois de dois anos, quando saiu a consulta, ela já estava melhor. "A própria moça da unidade de saúde acabou dando risada", afirma. "É sempre assim (a espera). Por mais que corra atrás não tem como conseguir a consulta antes porque tem outros esperando e sempre tem 200 na frente."

Ao analisar o prontuário das pacientes, a diretora do Centro de Assistência à Saúde da prefeitura, Ana Luiza Schneider, revela que elas tiveram consultas agendadas. Segundo Ana Luiza, pode ter acontecido de a paciente agendar a consulta e não ter ido ou a confirmação da data e horário do atendimento não ter chegado até a empregada doméstica. "Pode ter havido espera, mas não há nenhuma pendência."

Com a filha mais velha, Letícia, de 8 anos, a mãe Marisa teve mais sorte. No último dia 26 de fevereiro, a menina foi atendida pelo endocrinologista, consulta que aguardava desde novembro. Não foi dessa vez que Marisa precisou pagar médico particular. "Só não pago porque não tenho condição."

Fluxo reduz a cada início de ano no HC

Após as férias, a oferta de consultas com especialistas nos hospitais universitários começa a ser regularizada. Entre o fim de 2008 e o início de 2009, muitos médicos residentes e docentes entraram em férias, o que causa diminuição nas consultas nos hospitais universitários e de ensino, segundo a diretora do Centro de Assistência à Saúde da prefeitura, Ana Luiza Schneider. "Estes hospitais capengam nas férias. Quando o preceptor (professor) está com o residente, ele atende mais. Quando os estudantes vão embora, há uma queda grande, sendo que os hospitais universitários e de ensino são os mais especializados", afirma.

A diretora de assistência do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Mariângela Honório Pedrozo, confirma que na instituição muitos ambulatórios são gerenciados por docentes e residentes. "Se os residentes estão se formando, diminui a capacidade e entram os novos, que estão no comecinho, são mais inseguros e demoram para atender o paciente", explica.

Os novos residentes começaram no hospital no dia 1º de fevereiro e irão levar um tempo até se adaptarem, segundo Mariângela. "Realmente a Secretaria Municipal de Saúde sente bastante isso (diminuição da oferta), mas tenho de dar prioridade para o ensino. A partir de abril começa a entrar mais no eixo", promete.

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